Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

domingo, novembro 26, 2006

Editorial IV

As razões poéticas do Dick

O Ser é e não pode deixar de ser. Dizia Parménides, se não me falha a memória, que isto da reminiscência platónica ataca bem mas tem períodos de ocultação.
Esta história é e não pode deixar de ser: no dia 10 de Dezembro de 2003, à noite, Luís Graça chegou às instalações da SIC Radical, em Paço D’Arcos. A ideia era ser entrevistado pelo grande Rui Unas, a propósito do seu livro de contos “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos”(POLVO, 2003).
Era suposto ter como colega de “Cabaret da Coxa” o maestro António Vitorino de Almeida, que já tinha sido entrevistado para a “Gazeta dos Desportos” (sim, entrevistado pelo Luís Graça).
Mas afinal o colega de programa do Luís Graça foi a Marisa Cruz, ainda solteira do João Pinto. O Luís Graça não ficou particularmente ofendido, apesar de gostar muito do maestro, por outros motivos.

O Rui Brito (editor da Polvo e boleiador de Luís Graça nessa inesquecível noite de Dezembro) tomou posição no meio do público. O Luís Graça foi para a maquilhagem e depois ficou à conversa com a Marisa Cruz, num sofá com vista auditiva para a Régie, se a porta estivesse aberta.
O DJ Gimba veio avisar: “Não sei se vão falar dos poemas se do livro de contos”.
Falou-se de tudo e o Luís Graça tem de estar grato. Volta e meia a porta da Régie abria-se e Luís Graça apanhava a voz de Unas a ensaiar os “piores” poemas da compilação “De boas erecções está o Inferno cheio”, que tinha falhado a tentativa de passar a fasquia das editoras Fenda e Mariposa Azual.

O Luís foi-se desculpando com a Marisa Cruz (que só entrou em acção depois do intervalo) e mentalizou-se: “Vai ser bonito”. Mas o seu heterónimo Dick Hard estava mortinho para que se desse início à cobóiada, porque tinha alma de poeta e índio, ao mesmo tempo.
E aquilo foi um reggaebofe de primeira categoria. O Unas estava em grande forma e tinha ensaiado com um pianista sobre o qual ninguém atirou. Era poema atrás de poema. Quando entrou a Marisa Cruz já a assistência estava super-quente. Ao intervalo, queriam comprar o livro de poemas, que estava inédito.

O Rui Brito começou a pensar e disparou-me: “Vamos editar”. E eu: “Mas não tinhas dito que não querias poesia?”. E ele: “Desta quero”.
Saiu meses depois.
O programa, gravado a 10 de Dezembro, foi para o ar na noite de 25 de Dezembro. Bonito!
O Luís Graça voltaria ao “Cabaret da Coxa” a 10 de Junho de 2004, para falar do seu livro “Neura 2004”. Já sem Marisa Cruz, mas com a filha do Curado Ribeiro e o namorado.

As “Erecções” (a malta chama-lhes assim, é mais carinhoso) cumpriram o seu percurso, com sessões de autógrafos que até meteram um vibrador verde transparente (Crystal Clear Lady Finger) a girar sobre si próprio durante duas horas e meia, em cima de uma mesa, no café da defunta livraria da Assírio e Alvim, no King Triplex, em Dezembro de 2004.

E de cada vez que o Luís Graça declama as “Erecções”, à goela, à capela, sem Unas, sem piano, sem nada, o resultado é sempre igual. Duas ou três pessoas abandonam a sala, as que ficam ultrapassam uma fase inicial de choque e no final é tipo Estádio Nacional em tarde de Taça, com golo do Yazalde. É o delírio.
Foi assim nos Bombeiros da Pontinha, foi assim numa festa de uma associação de jovens na Bobadela, foi assim numa “espontânea” no restaurante Galeto, foi assim na Biblioteca Museu República e Resistência, na Estrada de Benfica.

No último local, em diversas circunstâncias. Desde o Dia Internacional da Mulher (cai sempre bem declamar “A magia da maternidade” : ser mãe é passe de mágica /a dois tempos/ é levar com ele rata acima/ e depois vomitar putos pela racha) até inaugurações de exposições de pintura.

Agora, um dos pintores vai-se casar e convidou mais pintores para o casamento. Andámos aí pela noite na despedida de solteiro. Mal cheguei a casa do noivo, um dos amigos pôs-se a declamar a minha poesia, de memória. Confesso que fiquei sensibilizado. E depois disseram-me: “Eh! pá, isto já anda no You Tube”.
Eu não pesco nada do assunto, mas a minha “equipa técnica” do Ganda Ordinarice pôs-se a escarafunchar na Net e foi que nem ginjas com elas.
--- Ó Luís, vamos pôr no Ganda Ordinarice e avisar a malta!
Ponham. Assim como assim, a imagem do blogue não pode ficar mais degradada. E escuso de andar à procura do CD com o “Cabaret da Coxa” se quiser ouvir o Unas a declamar umas “rapidinhas”. Além do mais, o “Cabaret da Coxa” merece ser recordado.

Esta é a história de uma postagem rebelde, à sniper, que surgiu do nada e por causa do casamento de um pintor meu amigo. Não refiro nomes para não ferir susceptibilidades. Não sei se eles querem ver o nome deles associado a este blogue. Mas podem denunciar-se nos comentários, se quiserem.

É verdade: quebro o jejum de respostas a comentários e já passo a responder às pessoas. Afinal, não houve insultos nem pingue-pongue verbal. Acabou a fase de blackout civilizado.

A partir daqui, não sei quando há mais posts. Uma hipótese é postar as fotos do I Salão Internacional Erótico de Lisboa. Mas primeiro tenho de encontrar os CD. Calma! É só uma hipótese. O meu quarto tem armários que os próprios armários desconhecem. É um emaranhado de objectos que ganham vida própria e estão emboscados numa selva de geografias sentimentais.

Bem, são 8 da manhã. Horas de me deitar.
Pelas 17 horas quero estar na Luz, para ver o Benfica—Castêlo da Maia (voleibol). E até sou do Sporting.
Vou tirar o CD do trombonista Booty Wood e aterrar zelosamente em Vale de Lençóis.

Feliz Natal e Bom Ano de 2007, seus ganda-ordinários, meus queridos fãs!

sábado, novembro 25, 2006

Dick Hard

Poesia de Dick Hard dita por Rui Unas, no Cabaret da Coxa.




Prefiro em Rodelas Ananazes

Os meus peidos soam a trombone
o seu odor é de químico letal
quem sobrevive proclama
"Não faz mal"

Os meus peidos são trovões no faroeste
são projectos de gente que investe
são torrentes que passam ao luar
são gases que conseguiram escapar

São nuvens que cheiram a feijão
são vestígios de bacalhau com grão
armaduras contra a solidão
armas qu uso, porque não?

São peidos. Nada mais posso dizer
São bufas. Nada mais posso peidar
São traques. São impossíveis dever
mas muito visíveis p'ra cheirar

Peidos em Janeiro?
Rosas, senhores
Traques, bufas, gases?
Prefiro, em rodelas, ananases

Dick Hard


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Veneranda Língua


Veneranda língua
que fazes trombada
que chupas na cona
da mulher amada

Veneranda língua
penetras em grutas
gostas de pachachas
de ladies e putas

Veneranda língua
que sabes a mel
usas brilhantina
não gostas de gel

Veneranda língua
húmida paixão
és tão decadente
pareces um cão

Veneranda língua
força de cacete
tu és uma diva
a fazer minete

Dick Hard