Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

quinta-feira, março 08, 2007

Sai um Hot Dog (Road Show) para a mesa do canto!




















AH! pois é. Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. São 21h35m.
It's time for Yard Dogs Road Show.

O que querem? Não me conhecem? Andaram a pôr mupis na rua com gajas giras. Estavam à espera de quê? Ontem fui para o Passerelle ver uns strips (questão de manutenção, estava quase a chumbar por faltas), hoje fui até à Aula Magna. Numa de ver o show na boa. Mas como o senhor Ricardo Simões (Produções Culturais — vêem como gajas boas e música são cultura?) teve a atenção de acreditar que um blogger pode ser também um jornalista credível... eu correspondo com jornalismo a sério.

Resumindo: fui trabalhar de forma luxuosa. Lugar à escolha na zona VIP e liberdade total de circulação para tirar fotos, durante o espectáculo todo. Isto é que é qualidade de vida. Só que—e há sempre um só que na nossa vida— a minha máquina analógica dispara o flash automaticamente. E com flash...não pode ser nada.

E por isso para já levam com o poster das meninas (especialmente autografado para mim, mas eu queria que fosse para o Dick Hard e elas preferiram autografar para o Luís) e mais uma coisitas para abrir o apetite.

E para uma vez mais perceberem que isto não é tudo uma ganda ordinarice, levem para casa, totalmente grátis...abram por favor, a credencial do espectáculo e a carteira profissional com o trombil do Dick Hard super-ensonado, às 11 da manhã de um dia de 1996, antes de ir para o trabalho. Estou giro, não estou? E aquela onda gigante, tipo pipeline, no cabelo, por causa do secador? E a maravilhosa expressão de retardado mental?



















Vêem como eu os lixo? Se quiserem gozar agora vão ter de ser muito criativos. Vantagens do auto-insulto feito com génio.

Eu sou como o general Eanes: o que prometo cumpro. E prometo muita foto com as chavalas, muita foto com os gajos a dar autógrafos no átrio da reitoria, em animada cavaqueira (o Tio Aníbal voltou à ribalta, não é? Por acaso nunca o vi no Galeto e o Mário Soares sim...), muita foto do palco. E um texto pormenorizado sobre o concerto.

As fotos oficiais vão ser enviadas pelo senhor Ricardo Simões, com os agradecimentos da gerência. E depois entram que nem ginjas.

E como eu estive a massacrar a cabeça a uma série de gajos do grupo, já os mandei ir ao Bom Jesus de Braga (o vocalista, ganda castiço quer ir a pé em passeio, eu disse que era uma hora ida e volta, em jogging, que era o que eu fazia em 1997, no Verão em que estive na Residencial Avenida com a minha avó e havia umas alemãs que ficavam no truca-truca a noite inteira, com gajos e gajas e não me deixavam dormir. E eu louco de curiosidade, quase a saltar a janela para ver o que se passava. Mas as gajas estão a comer-se? Mas agora é um gajo? Um suplício!), comer ao Abade de Priscos e etc, que a minha equipa técnica tem de ir dormir e não tem a minha vida. Eles são uns anjos, eu sou o diabo.

Eles não conheciam os Wet Spots, que são um delírio e têm algumas semelhanças na abordagem ao conceito de espectáculo. Por isso fica aqui um tema delicioso. E, amigos leitores, vão ao site oficial deles que podem ouvir o disco na íntegra. Vale mesmo a pena. Principalmente uma em que se trata de sexo oral com exercícios vocais fabulosos, estilo "um tigre, dois tigres, três tigres". E agora vou escrever em inglês, para eles perceberem que é o grupo de que lhes estava a falar.

HEY, GUYS! THIS IS THE GROUP I WAS TELLING YOU ABOUT: WET SPOTS. I FOUND YOU TODAY (YOU'RE MAGNIFICENT), YOU WILL FIND WET SPOTS. DON'T NEED TO THANK ME. IT'S A GOOD CAUSE.



Podem ouvir,aqui.

Os portugas que não perceberam podem inscrever-se no British Institute, que eu tenho comichão. Mais um trocadilho!

terça-feira, março 06, 2007

As mulheres fatais têm lábios que não fazem reféns

De joelhos no soalho
onde um escaravelho
se passeava
ao sabor da indolência

A senhora Arminda abocanhava
com uma competência doce
e feita de meiguices
o falo hirto do senhor João

Cabeça vem, cabeça vai
num carrossel de lábios
língua, gemidos, prazeres
e duas gotas de suor

Quando o senhor João explodiu
em jactos de malte e açúcares
bem nas goelas da senhora Arminda
surpresa e estupendamente indefesa

A sua cabeça bateu com imponente estrondo
na parede onde estava o quadro do menino a chorar
e a sua nuca estoirou como um ovo podre
e o sangue pingou sobre o escarevelho que ia a passar

Há broches assim

Mas são raros

Dick Hard, 28/2/2007






Este poema é dedicado ao escritor Alface, recentemente falecido. Ficaram os livros. Com as suas dedicatórias para mim, dadas na editora Fenda, na Rua de S.Nicolau. E as últimas memórias, com a entrevista televisiva ao Francisco José Viegas. Faltei à sessão da Comunidade de Leitores da Culturgest, coordenada pela Maria João Seixas.
Tive uma pena enorme por ter de faltar. Falou-se do livro “Cá vai Lisboa”, de Alface. Que esteve presente. E foi durante a Comunidade de Leitores que foi acometido pelo AVC que o vitimou.
Afinal, fiquei muito satisfeito por estar no workshop de teatro do D.Maria II, à mesma hora.
O homem morre. O talento fica. Estou certo de que este poema o disporia bem. Por isso, o tom da homenagem, à falta de um “irish funeral” pode muito bem ser este. Com todo o respeito e saudade.




Quem estará a sentir a morte do amigo e do companheiro literário (escreveram livros a duas mãos) é Manuel da Silva Ramos, que editou recentemente “O sol da meia-noite, seguido de outros contos para a juventude” (D. Quixote).
Fui seu aluno (e de Miguel Martins) num curso sobre Literatura Maldita, que aconteceu há uma dezena de anos no Centro Nacional de Cultura, onde estreitámos laços.

Outro dos que sente a morte de Alface é Vasco Santos, editor da Fenda, onde Alface deixou a sua marca. E ainda há meses o Vasco teve a amabilidade de me obsequiar com uma espécie de “Best Of” de Alface, que devorei rapidamente e com um gozo enorme, reservando um cantinho no coração, com lugar cativo para o glorioso subversivo e talentosíssimo escritor Alface.

O Verão passado, o director da revista “Os meus livros”, João Morales, depois de ter lido o meu “Fado, Futebol e Farpas, uma aventura psicadélica”, encontrou um parentesco literário entre os dois. Nunca tinha pensado nisso. Mas senti-me honrado.

Descansa em paz, Alface.

Dias complicados. Manuel Galrinho Bento, Alface e Boaventura Bonzinho, pai do jornalista João Bonzinho. Partilhei com Boaventura Bonzinho muitos quilómetros por essas terras fora, na Volta a Portugal, na Volta ao Alentejo, no GP Correio da Manhã. Muitos dias de ciclismo.

Aos familiares e amigos dos falecidos, os meus sentidos pêsames. Com um grande abraço especial para o João Bonzinho.