Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

quinta-feira, agosto 30, 2007

NÃO COMI GAJA NENHUMA, MAS DORMI COM O ALVERCA

Um gajo fica um colhão de tempo sem ir ao Algarve. E depois, quando a coisa se proporciona, é ao quilo, como na Vimóveis.
O primeiro culpado é o Rui Brito. Falo do Rui Brito editor da Polvo, não do Rui Brito que é gerente da Megasex. Por acaso, neste blogue, até tinha mais lógica falar do outro. Mas não. O culpado é o Rui Brito geólogo, editor da Polvo e da Rui Brito Edições.
O gajo desafiou-me para ir a Lagos declamar poemas do “De boas erecções está o Inferno cheio”, na Biblioteca Municipal. E lá fomos. Um ganda êxito. A 4 de Maio de 2007, pela noitinha. Para isto não foi preciso credencial. Bastaram as minhas credenciais como poeta. Mas para os outros acontecimentos já foi preciso credencial.


Em princípios de Julho abalei até Portimão, para a final da Final Four da Liga Europeia de Voleibol (ver www.oprazerdamesa.blogspot.com). O meu amigo Luís Ribeiro, da Federação Portuguesa de Voleibol, mais o Jorge Castro, trataram da coisa em duas penadas. Podem ver a credencial do voleibol, com o João José, capitão da selecção e um ganda bacano, em destaque.


Em Portimão, fui a dois clubes de strip. Na primeira noite, abalancei-me ao “Cocktail”, já perto da Praia da Rocha, gerido por um senhor simpático que esteve emigrado em Paris e se fartou do clima. E lá se radicou em Portimão. O “Cocktail” é um clube simpático. Deram-me uma “borla” na entrada, mas eu não queria incomodar, como dizia o actor Carlos Miguel num magnífico sketch: “Eu não quero é incomodar”.
O senhor do “Cocktail” ficou na conversa comigo e disse que “Sim, senhor”, podia falar do clube à vontade, no blogue. Atão, era publicidade!
E ofereceu-me uma bebida. Já era má educação recusar, mas eu tinha necessidade psicológica de mostrar que não era um tangas qualquer à procura de borlas. E vai daí, num gesto de retribuição, disse ao senhor:
— Então, olhe, deixe-me já pagar uma Touch Dance, que depois escolho uma menina.
— Veja lá, não se sinta obrigado. Tenho muito prazer em oferecer-lhe uma bebida. Mas olhe que realmente a Touch Dance compensa.

Paguei no Multibanco e fui-me sentar. Um bocadinho depois, sentou-se ao pé de mim uma menina romena, morena, de ar doce e cabelo preto curto. Conversa para aqui e para acolá, até chegar o momento da verdade:
— Paga-me uma bebida?
— Não, vamos fazer uma Touch Dance, que eu já paguei e até é melhor para ti.

Ela nem queria acreditar na sorte dela. Cinco minutos e vai buscar, Tibi!
E lá fomos fazer uma Touch Dance, o escorpião zodiacal português e o escorpião romeno. E como Touch Dance é Touch Dance, consolei-me a acariciar-lhe as maminhas naturais, impertinentes (o que se designa por ‘perky’, em inglês). E aquilo deu-me tesão física, o que nem é sempre o caso. Apeteceu-me condecorar o Luisinho, por estar a representar bem as cores nacionais. Mas como as medalhas têm bicos de metal, desisti da ideia.
Como sou um cavalheiro, pergunto sempre até onde posso ir e tocar, mesmo sabendo-se como são as regras da Touch Dance. E ela:
— Podes tocar.
— Queres que te arranhe as costas?
Nesta fase elas ficam sempre desconfiadas. Mas eu sou tão meiguinho como Torquemada ou aqueles senhores tímidos de machadinha da mão e capuzes que faziam a barba aos pescoços das mulheres do Henrique (Em que lugar é que ficou o gajo na última prova? VIII?).

Bem, acabou a Touch Dance e voltei ao balcão, para mais uma dose de conversa sobre o Salão Erótico. Quase ninguém estava a par da coisa, mês e meio antes, em Portimão.

E de Cuba Livre na mão fui-me sentar outra vez. E fiquei deslumbrado com a simpatia e a beleza de uma brasileira. Veio falar comigo, ficámos amigos. A conversa fluiu espectacularmente. E fiz uma Private Dance com ela, que é uma Touch Dance sem touch. Ou seja, só ela é que pode tocar. É uma coisa mais respeitosa. Eu disse uma piada qualquer e ela repreendeu-me amigavelmente:
— Silêncio. Agora é hora de erotismo.

.............................................................................................................
.............................................................................................................
.............................................................................................................
.............................................................................................................
.............................................................................................................

E era. A miúda é inteligente, culta, cheia de humor. Ficámos depois a falar de escritores e de livros. O Luisinho tornou a erguer uma erecção de homenagem, o que é sempre bem. Arriba, Portugal!
(Na Private Dance, não foi na conversa sobre escritores que tive tesão)

Na noite seguinte fui ao novíssimo Kartier Club, ao pé da Farmácia Carvalho. Clube simpático, com molduras repletas de recortes de jornais antigos, dos tempos dos grande combates de boxe com Joe Louis. Ia na disposição de fazer uma Private Dance, para quebrar o gelo, mas acabei a pagar uma bebida a uma bela cantora brasileira de voz rouca, de enormes dotes físicos e vocais. Não fazia strip nem privates. Olha que galo!
Dei-lhe os contactos do meu amigo Gimba, para o caso de ela vir a Lisboa. A miúda tem qualidades.


Passados quinze dias, apanhei boleia do Pedro Keul (Público), mais o Manel Alverca, e fomos ver o Borg a Vale do Lobo. No Vale do Lobo Grand Champions. O torneio de veteranos organizado por Pedro Frazão que já proporcionou duelos como McEnroe-Marcelo Rios.

Era uma loucura ver os putos encostados à vedação da Sala de Imprensa, a pedir autógrafos ao Borg, depois de ele acabar de falar:
— Please, Borg! Please, Borg!
Uma loucura.



Diga-se de passagem que eu também pedi um autógrafo ao Borg. Ficou ao lado do Ayrton Senna da Silva e do Pelé. O meu livro de autógrafos é valioso, mas só sai de casa de vez em quando. Só pedi mais um autógrafo em Vale do Lobo. Ao Tiago Monteiro, que ficou a fazer companhia, na mesma página, ao Stirling Moss. Cravei o Moss no GP de Portugal de 1987, que cobri para a Gazeta dos Desportos.


Ao final do dia, eu e o Alverca regressávamos a Almancil, para a residencial. Por isso dormi quatro noites com o Alverca. Em camas separadas. Como sou grande amigo do Alverca, a malta fazia mais coisas em conjunto: pequeno-almoço, almoço e boleias para Vale do Lobo, que estava calor para palmilhar 7 quilómetros a patómetro.

Até às quatro da tarde ficávamos a preguiçar por Almancil (ou Almansil, já vi com as duas grafias). Na recta principal da localidade, descobri um clube apetitoso: Coyote Club. Com uma gaja estampada na porta. À noite, resolvi perguntar referência na recepção da residencial.
— Diga-me lá, que tipo de clube é o Coyote?
— Não está fechado? Olhe, mataram lá um homem há poucos meses. Ele tinha ido assassinar outro a tiro num apartamento e depois veio para o Coyote Club. Os amigos do outro chegaram ao Coyote e trespassaram-no com uma catana. Depois foi evacuado de heli para Lisboa.
— E não morreu?
— Morreu. Tinha a catana atravessada de lado a lado.

Eu e o Manel achámos que não valia a pena ir ao Coyote Bar. Até porque provavelmente estava fechado.
No último dia, houve a festa do torneio que o Bruguera ganhou com mais-coisa-menos-coisa ao Fininho (o Fernando Meligeni, que é mesmo um gajo com uma simpatia caralhantíssima). O Alfredo Laranjinha (da Federação Portuguesa de Ténis) agarrou-se à guitarra eléctrica e pôs-se a esgalhar êxitos antigos.
O Manel Perez (O JOGO) pediu-me para eu lhe apresentar ao Unas e eu apresentei o Manel Perez ao Unas.
— Pá, eu adoro declamar-te! — disse o Unas, referindo-se ao seu programa “O show do Unas”, com as minhas “Erecções” mais recentes. Agradeci ao Unas e ficámos ali um cheirinho na conversa. E adivinhem lá quem estava com o Unas? Pouca coisa: só a Sofia Cerveira e a Cláudia Vieira, dois monumentos nacionais.
Lá despachei uns cartões de visita com os blogues e elas riram-se à brava. E depois um gajo quer ser levado a sério!..

Passado um bocado fui ter com o meu amigo Pedro Couceiro, que disse logo para a Sofia Cerveira:
— Cuidado, que ele é perigoso!
Perigoso é o José Sócrates. Eu andei por ali pelos Algarves e nem comi uma chavala, só para amostra.

À noite, findo o torneio, houve uma festa, com banda e tudo. E eu fartei-me de dançar com duas loiraças. Uma irlandesa e outra da Estónia, que era uma brasa que até metia impressão às impressões digitais.

Pensava eu que eram mãe e filha. Ganda otário.
Quando a mais novinha me disse que era da Estónia, respondi muito inocentemente:
— Por acaso, da Estónia só conheço strippers.

Não se pode dizer que tenha sido uma frase inteligente. Mas eu também já estava queimado pela forma como dancei sozinho na relva o último tema: “Born to be wild”. O João Paulino perguntou-me:
— Pá, o que é que te deu para dançar daquela maneira?
Não me deu nada. Sou assim. Um gajo vê a Cláudia Vieira, um gajo vê a Sofia Cerveira, um gajo vê uma irlandesa de sorriso magnífico, um gajo vê a um metro de distância uma menina da Estónia que era uma verdadeira Salambô...e depois um gajo vai para o quarto com o Alverca discutir a entrevista do Pinto da Costa. E o Coyote Bar só está a menos de 500 metros.

Voltámos a Lisboa no outro dia, novamente a bordo do bólide do Pedro Keul. E o Manel Alverca:
— Hei-de sempre vir a este torneio.

Também gostei. A vida não é só comer gajas.
(pelo menos é o que dizem os gajos como eu. Ainda ontem fui interrogado por uma menina que tinha acabado de se vir em cima de mim: porque é que não te vieste também?
Ora bolas! Queixam-se de que não se vêm, um gajo é cavalheiro, um gajo não exige nada. Um gajo até estreia os novos preservativos Private Gold. E elas ainda perguntam: porque é que não te vieste comigo?)

O país está bonito. Estava a precisar de outro Salazar. Ao menos esse sabia o que queria:
— Chupa, Garnier, chupa! Ó Maria, o fricassé já está pronto?
E a D. Maria, solícita:
— Está quase no ponto, Dr. Oliveira. Mal se venha na boca dela a refeição está servida.

(Com esta posso ser alvo a abater por parte da Extrema Direita. Mas pensem só numa coisa: vocês já imaginaram bem o trajecto de uma bala de nove milímetros a atravessar-vos a alma e a extrair-vos as mais enigmáticas confissões? Vão mas é marrar com o Cotrim e o Miguel Rocha, com o Baptista Bastos ou com a Márcia Breia).

Soluções culturais:



Baptista Bastos escreveu o excelente “O cavalo a tinta-da-china”, Cotrim escreveu e Rocha desenhou o multipremiado álbum “Salazar” e Márcia Breia interpretou magnificamente no Maria Matos: “Deus, Pátria, Maria”.

Devo dizer que o Botas não me fez mal nenhum. Mas prefito o goleador “Billy, o Botas”, da BD.

Isto é que é um post à maneira, seus maganos!
Já ando a receber mails com protestos: “Então, o Salão de Portimão?”.
Calma, tudo a seu tempo. Primeiro o génio literário. Depois os Salões Eróticos. O mundo tem uma ordem que deve ser respeitada.
Já falta pouco.





Auto-publicidade Poético-erótica

quarta-feira, agosto 29, 2007

Contos avulsos - I




TODAS AS PUTAS A SÉRIO TÊM BOM CORAÇÃO

Era uma morena vistosa e bem constituída. Dividendos que colocou ao serviço de uma vida de ataque. Sempre em busca do sustento que os filhos reclamavam, como pequenos cucos exigentes e desamparados, eternamente à beira do ninho, sujeitos a queda fatal ao menor sopro de vento.
Tinha um belo corpo, a morena. Um coração ainda maior. Não hesitou em sacrificar a sua dignidade ao bem-estar da prole. Que isto de ser puta ao serviço dos filhos tira a dignidade mas confere uma certa honra.
Fôra empregada de mesa dias a fio (debaixo da mesa também, em horas de literatura de cordel), camionista TIR pelas estradas da Commonwealth (tempo duro em que andava lá fora a rodar pela vida), funcionária de lavandaria com muita roupa suja (e lavou a alma pelo caminho).
Finalmente, esgotadas as propostas que as trivialidades do Destino lhe ofertaram, desembocou nas esquinas,exibindo provocantemente os últimos modelos de "lingerie". Coração de ouro, porque todas as putas a sério têm bom coração, aurículos e ventrículos a dançar o tango na tasca do Manel, nos intervalos da chuva e dos copos de tinto cartaxista.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Todo o tempo é feito de mudança. Deixou a rua, foi dançarina "topless", alternou em Espanha, sem grandes alternativas de emprego e sem alternativa de toureiro.
Por fim, conseguiu um pouco de estabilidade e radicou-se numa casa de meninas à antiga, em pleno centro de Lisboa. Horário certo, desgaste vaginal controlado, desgaste emocional quase nulo, apesar do bom coração.
Era uma morena vistosa e bem constituída. Sabia arfar. Qualidade rara no meretrício olissiponense quotidiano. Das sete colinas, talvez apenas em duas ou três haja prostíbulos de luxo onde se arfe com um mínimo de condições e amor à arte. Arfar em cima de um homem é uma mistura de aeróbica com kama-sutra, a que se deve juntar sem olvido uma gotinha de limão ou tabasco, à escolha do freguês.
Ela sabia arfar. "Demoiselle arfante de bom coração atende cavalheiros e cavalheiras. Possibilidade de show sáfico-lésbico e interactivo; Inter de uma mão ou mesmo Inter de Milete viáveis, mediante proporcionalidade de euro-alvíssaras". Anúncios por tudo quanto é sítio. Dos melhores jornais à Internet. He-Man e E-Mail incluídos. Com os filhos a acabar a Universidade, ainda ela estava a iniciar-se na casa dos quarenta, deu-se ao luxo de reduzir a sua carga horária ao mínimo, inversamente proporcional à carga financeira que cobrava, nunca se sujeitando a cargas de porrada. Sado-masoquismos que tratasse a população de Setúbal e os leopoldinos de Sacher-Masoch. Espancamentos só a Polícia de Choque, quando tal se justificasse pelo mau comportamento das claques de futebol ou dos trabalhadores sem nartol.
Estava eu a dizer que todas as putas de bom coração têm direito aos seus raios de sol, não tão numerosos como os raios de um pneu de bicicleta, mas mesmo assim ainda consideráveis, se os deuses não forem completamente insensíveis a quem ganha a vida com os fluidos do corpo e o "make-up" do rosto.
Ela resolveu gastar os raios de sol a ler a sina e a dar consultas astrológicas. Uma tara como outra qualquer, que lhe vinha de miúda. No que respeita a palma das mãos, ninguém lhe levava a palma, nem na Rua da Palma. Todos os riscos tinham o seu código, todos os códigos têm os seus riscos. Mas isso já todos nós sabemos, não é verdade ?
Durante dois anos as coisas correram muito bem, ao estilo dos balanços governamentais de esquerda, centro ou direita, para o caso nem interessa. Depois, o azar, sempre o azar, começou a minar uma vida que se estava a compor.
O filho de 24 anos emigrou para a Amazónia, depois de se ter formado em Belas Partes; ao fim de três meses foi dado como desaparecido. Três versões apresentaram-se na parada das hipóteses, à hora da inspecção: torturado às mãos dos ampliadores de cabeças (do falo); vítima de overdose de cautchu inalado; aderente à causa dos índios Truca-Truca, perdida tribo nos confins à esquerda de Manaus, comunidade poligâmica e tarada sexual, que doava esperma a troco de géneros alimentícios e revistas eróticas, preferindo as edições americanas e espanholas da Playboy, depois de ter tomado de ponta a edição brasileira, devido a uma reportagem de fundo intitulada: "A imoralidade dos índios Truca-Truca e a sua repercussão na sociedade brasileira trans-amazónica: uma leitura epidérmica de um fenómeno de culto".
A perda de um filho dói muito. Quer tenha morrido drogado ou esteja no bem-bom com alguma nativa truca-truca.



Voltou às esquinas, como mortificação. Esquanto esperava pelos clientes dedicava-se à leitura de Derrida, Proust e Walt Disney. No dia em que o rato Mickey fez 70 anos não deu a sua rata a ninguém: comprara um pequeno boneco da Minnie e por mais que lhe pedissem não se separou dela. Por fim, cansada de tanto assédio (há quem chague por pins, outros por pão), meteu a Minnie na sua rata, fazendo desaparecer do mundo dos visíveis o boneco cobiçado. Longe dos olhos, longe do coração. Piaget explicava bem isto, quando se referia aos estádios de evolução da criança.
E assim andou, a roçar-se nas esquinas, vendendo o corpo aos magalas, pirafando anarquicamente com marujos, hooligans e pré-universitários, dispensando afectos às damas da alta sociedade, oferecendo borlas a pilotos de cacilheiro e controladores de parquímetro. Era como calhava.
A cabeça já não estava boa. Não era só o filho perdido na Amazónia. Tinha sido deserdada pela família. O solar do Tâmega jamais lhe viria parar às mãos. Sim, o solar da parte nobre da sua família, a cargo dos seus pais, mais ou menos desde a altura em que decidira sair de casa, com 13 anos, muito boa vontade, espírito rebelde e um par de mamas que punha os tentilhões a chilrear em sol maior em menos tempo do que um disléxico leva a dizer erecção.
Enfim, os tempos vão maus para muito boa gente e bons para muito má gente. A tendência é esta. Não se pode ter bom coração. A par de uma boa sarda, é um órgão muito cobiçado.
Era uma mulher vistosa e de corpo apetitoso. Apenas teve azar na vida, sob a forma de ultrapenalizantes intermitências. É o que dá ser puta em Portugal, com filhos p'ra criar. Putas há que se perdem pelo vício. Ela perdeu-se pelo amor, que os seus filhos foram criados com a graça de Deus e muito desejo da parte do marido, que se emigrou na Legião Estrangeira devido às dívidas de jogo à sucursal da Mafia da Ilha da Armona, já a cheirar a Marrocos.
Mesmo assim ainda perdeu um testículo na fuga, vendido a um coleccionador de colhões que vivia no Principado do Mónaco por causa dos impostos e das condições climatéricas. Toda a gente sabe que o clima mediterrânico é aquele que mais convém a uma colecção de colhões bem conservada.
Também o Principado a acolheu durante uns tempos, como "cheerleader" oficial do Estádio Louis II, nos dias em que o Mónaco jogava em casa e tinha direito às presenças assíduas de Alberto e Rainier, que Carolina era mais do ténis e Stéphanie preferia as boxes da Fórmula Um ao cheiro dos balneários. Definitivamente, não era um homem do futebol.



De Monte Carlo saltitou até São Remo. Durante um semestre passou as noites a sair de bolos gigantes, em despedidas de solteiro que metiam sempre muito gin, cerveja, vibradores e polaróides.Mergulhada no âmago mais íntimo da devassidão do "jet-set", teve muita dificuldade em desmarcar o "jet-lag" para canto, na hora do regresso a Portugal.
Quando chegou ao seu modesto apartamento deparou-se com uma enorme montanha de folhetos publicitários que a incitaram à poesia. "Triste ? Desanimado (a) ? A poesia é a solução. Increva-se no curso por correspondência do Professor Asterónimo Pintado. Ficará a versejar em 7 dias. Se não ganhar o Nobel no espaço de uma década, devolvemos o dinheiro do curso".
Não se fez rogada, tomou um duche e um mês mais tarde saía para as livrarias uma bela edição de autor, cujo título era: "Eu dei o corpo ao Manifesto Comunista".
Era uma poética "engagée" e auto-esofágica, que se referia ao refluxo de Trendelemburg como a regurgitação ácida da não-assimilação total dos ideais marxistas. O poema "Barracuda" é bem esclarecedor:

Penei
mas não tenho pena
O silêncio esvai-me a alma cheia de gozos
saboreei a tua glande
no grande manjar
das alcaparras de Outubro
quando 1917 era o meu Potenkin de emoções
só tu podias antegozar no meu clítoris
as sebes de um tufo de ilusões
merda para Marx


A crítica teve uma atitude expectorante: primeiro tossiu, depois considerou um grande xarope, por fim levou a poesia da autora a peito e não hesitou em glorificá-la no Olímpia dos vates.
Acalentada no seu ego, afagada na alma como os grandes lábios da poesia portuguesa do novo Milénio, entregou-se de alma e coração (já sabemos que era bom) ao seu novel afã literário. Um ano depois de "Eu dei o corpo ao Manifesto Comunista" saiu para os Bancos, numa edição apoiada por várias entidades bancárias, a obra: "Eurosucções".
Extremamente bem acolhida pela crítica, foi traduzida em várias línguas e teve um poema transcrito nas paredes da estação do Metro da Gare do Oriente. Chamava-se: "Tolstoi não era meu pai".

Tolstoi não era meu pai
mas podia ter sido
o Destino não quis
foi um acaso
gosto de lamber o cheiro do orvalho nos poentes
rimar-te o olhar com chávenas de frio
sabes porque te amo em desvario
1980 foi um ano bissexto
Tolstoi não era meu pai


Do poema disse o grande crítico Eustácio Penalva:
"A poesia de 'Eurosucções' é um marco milenar na cultura literária portuguesa, ao desenhar novas rampas de exploração do signo, realçando uma trajectória exemplar de coerência por parte de uma autora que descobriu e se descobriu para a lírica, libertando-se do manto diáfano da fantasia, qual Salomé da capital lusitana. A sua construção vérsica entronca no neo-romantismo de Césario, cheira a Vila Viçosa de Espanca, roça por vezes os conceitos desintegracionistas de 65, para não se furtar ao travo amargo de uma geração de 61 e se fixar nas últimas colheitas de Beaujolais. Como o néctar dos socalcos durienses, a poesia desta autora vem convocar à reflexão um país poeticamente adormecido e inócuo. Haja da parte da recensão literária a auto-crítica necessária para se compreender que estamos em presença de uma poética filha da puta".
Quando se esperava que a poesia salvasse a nossa heroína, a pressão do público matou qualquer veleidade à nascença. Batendo Saramago em vendas, recolheu-se em Ibiza, mas a veia criativa tinha secado.
Foi a política que a salvou de um destino triste. Velho conhecido dos tempos de bordel, um amigo de um conhecido de um assessor do Ministro da Cultura convidou-a a ser amiga de um ministro periodicamente sem assessora. Pronto. Foi quanto bastou para recompor a sua vida. Sublimando a sua veia poética num terrível mas positivo afã legislativo, passou a despachar com fartura, movimentando-se com igual à-vontade em todos os gabinetes.
O ministro colheu os louros da ideia, mas foi seu o conceito de Bilhete Combinado, uma descoberta a todos os títulos notável. No campo do mecenato gastronómico nunca tal se tinha visto. Os restaurantes que patrocinassem a cultura tinham abatimentos especiais nos impostos. Sabe-se como o povo gosta de comer fora. Ficaram famosas as noites Gambrinus/CCB ou as "soirées" Tavares Rico/D.Maria II. Quem jantasse na Feira Popular com ementa turística ganhava um bilhete de cinema no Colombo e um bidão de pipocas.
Nos seus 43 anos ainda era uma morena vistosa e bem constituída quando se apaixonou por um surfista que conheceu no Guincho, na orgia nocturna mensal do Ministério.
O amor batera-lhe com força e nem a diferença de idades pareceu incomodá-la. Mas não se pode combater o Destino e os deuses invejavam-lhe o bom coração.



Ao fim de dois meses de uma história de amor digna das melhores telenovelas portuguesas ou mexicanas, acidentalmente descobriu que o jovem era o seu filho licenciado em Belas Partes, regressado da Amazónia, ainda a recuperar de uma amnésia profunda, causada pelo coco psicadélico-lissérgico da tribo dos Truca-Truca. Louro, com um brinco na orelha, sotaque de Manaus, como seria possível a uma mãe reconhecer um filho ?
Quantos e quantos orgasmos incestuosos não teve o desditoso casal de apaixonados ?
E voltou à estrada. Desta feita para uma digressão de Verão ao país real, mais o conjunto "Sardas de burro não chegam ao céu", um grupo algures entre a "boys band", uma milícia popular e um quinteto de "free-jazz".
Nunca conseguiu esquecer o seu filho. Dois anos mais tarde, encontrou-o a trabalhar como arrumador junto às Torres das Amoreiras e não resistiu. Tirou-o daquela vida, deu-lhe um bom banho e uma má sopa de abóbora e passaram a noite na cama: primeiro por motivos sexuais, depois a ler contos de Grimm.
A nossa história acaba aqui, mas podia continuar. Quem disse que o Destino não gostava das putas com bom coração ? Afinal, todas as putas a sério têm bom coração!




Auto-publicidade Poético-erótica

domingo, agosto 26, 2007

Contos do Dick Hard - XIII

DICK HARD E O BISPO ATESOADO

“O xadrez tem o tempo do Mundo”, disse Faye Dunnaway, enquanto simulava coçar o seio direito, mordendo de seguida o polegar esquerdo e disparando um olhar maroto na direcção da íris do olho direito de Dick Hard.
Dick Hard pensou, assim de repente: “Esta gaja está a tentar desconcentrar-me. Mas eu já vi o ‘Thomas Crown Affair’”. E o Little Dick ajudou à festa, gritando a plenos pulmões para o seu dono: “O que ela quer sei eu”.
As coisas não estavam brilhantes. Dick Hard não pagava há dois meses a renda da torre A8, já para não dizer que a torre de H8 estava a precisar de obras há mais que testículos.
A Associação de Proprietários das Torres dos Jogos de Xadrez (APTJX) tinha concordado em fazer obras de remodelação desde que as torres ganhassem algo com isso: ou seja, passassem a deslocar-se em diagonal (comos os bispos e as rainhas, por exemplo) e em L3, como os cavalos.
O problema foi que os cavalos protestaram de imediato, pelo relincho de Jolly Rocinante: “Mas o que é isto? A malta anda aqui alimentada a ração barata, sempre aos saltos para trás e para a frente e agora as torres têm os mesmos direitos? Isso é que era aveia! Já para não falar na questão das horas extraordinárias. Mal o jogo começa vai logo cavalo!”.
— A puta da tua égua! — disse logo um peão mais atrevido, da Associação dos Peões Auto-Sacrificados (APAS).
— Cala-te, idiota! Não tenho culpa que o teu pai te tenha inscrito na infantaria.
O presidente da APAS não teve tempo para dar a réplica, porque Faye Dunnaway aproveitou um momento em que Dick Hard fechou os olhos para se concentrar e “gamou” o peão preto, viciado em movimentos F7/F6. O seu maior sonho era um dia chegar a F5, mas se isso acontecesse quem lhe garantia que não era imediatamente integrado na Força Aérea Portuguesa (FAP)?
Quando Dick Hard abriu os olhos, deu logo por falta do seu peão.
— Atão?!? Onde é que está o meu peão preto?
— O peão preto?!? Qual deles? No princípio do jogo até tinhas oito.
— Pois tinha. Mas agora só tenho quatro. E tu também já perdeste esses três.
— Há imenso tempo. Foi em “Bonnie and Clyde”, com o Warren Beatty.
Ora bem, Dick Hard não tinha nascido ontem. Amandou-se à marada para cima da boca de Faye Dunnaway e enquanto lhe metia a língua com toda a força nos gasganetes (até deu para praticar um bocadinho de punching-ball com as amígdalas) aproveitou para introduzir dois dedos na gruta sensual da actriz.
Bingo!
Segundos depois, o peão preto saía da escuridão feminina para readquirir um lugar digno no tabuleiro de xadrez boavisteiro arlequinado.
— Foda-se! Esta merda é assim? Um homem anda aqui a trabalhar para avançar um quadradinho ou dois e quando dá por ele foi arrecadado na cona de uma gaja ordinária qualquer! Há regras! Há regras! — disse o peão, ainda estremunhado.
— Cala-te, estúpido, a miúda não estava no período, como é que há regras? — disparou-lhe de imediato um peão branco reguila, que estava há montes de décadas estacionado em E4.
— Vai para a cona da tua mãe. Estar aí à boa vida em E4 também eu estava. Menino da mamã, copinho de leite! Isto de sair de brancas também eu. É muito “in” começar a jogar e depois ficar a ver a paisagem.
— Olha, se eu fosse a ti nem falava de estar “in”. Tu é que estiveste dentro e ainda cheiras a bacalhau das docas.
Preocupado com o rumo que as coisas estavam a tomar, Dick Hard olhou para Faye e desafiou-a:
— Ó Faye, e se a gente jogasse sem peões?
— Por amor de Deus, ó Dick! Os peões existem para jogar.
— É assim mesmo, madrinha. Meta-o no cu! — apoiou o peão branco de E4, que não tinha educação nenhuma e só jogava a titular de xadrez porque um tio que era titular num jogo de gamão de Faye tinha pedido a um primo que era titular no Monopólio de Faye para meter uma “cunha” a um enteado que era titular a taco de golfe no Clube das Estrelas de Hollywood e Relva Aparadinha Reinação S.A.
O jogo prosseguiu, com Faye de pernas escandalosamente abertas por baixo da mesa, esfregando-se toda no clítoris com a cabeça do cavalo branco que iniciara a partida em B1 e já tinha sido tomado.
E enquanto Faye se deliciava com as protuberâncias da crina cavalar, o ofendido estava pior do que estragado. Ele que tinha entrado em “O sétimo selo”, de Bergman (até tinha almoçado com Max Von Sydow), estava agora reduzido a esfregador de clítoris.

E tudo porque o barrasco do Dick Hard não jogava um caralho de xadrez e tinha a mania de orquestrar a teoria de finais com torres e rainha, sacrificando alegremente os cavalos. E não havia veterinários que obstassem a este estado de coisas. Nesse momento, lembrou-se das palavras sábias do seu pai:
— Filho, eu posso ser muito cavalo, mas acho que não deves trocar a tua posição no circo de Billy Smart, que é uma coisa certa e apoiada pela família do Mónaco, por um lugar mais do que incerto nos tabuleiros de xadrez por esse mundo fora. Sabe-se lá onde é que podes ir parar. Se calhar, nas mãos de crianças que nem sabem mexer as pedras e te usam para brincar aos cowboys e índios. Tu és novo, estás cheio de sangue na guelra, o que é natural, porque és Peixes de signo, mas eu que sou mais velho tenho consciência de que a ração de cada dia custa a ganhar.
Dick Hard estava quase no final do seu terceiro vodka, mas o que se lhe deparou a seguir não tinha nada a ver com o abuso de bebidas espirituosas:
— Ó Faye, já não basta estar a masturbar-se com um prisioneiro de guerra, agora o seu bispo está a montar a minha rainha!
— Dick, não seja possidónio. O jogo está engarrafado desse lado. Deixe lá o homem divertir-se um pouco. Eu sou contra o celibato dos padres.
— Faça favor de não misturar religião com xadrez.
— O xadrez é sagrado, foda-se! — gritou o peão branco de E4, que estava constantemente a tentar exibir-se, como se fosse um caniche de exposição canina.
O cavalo preto sobrevivente de Dick Hard perdeu a cabeça e deu um grande coice no peão branco E4, que chocou contra uma torre, fez alcochete e ficou estatelado na carpete da sala, a escassos milímetros da lareira, cinematograficamente instalada em contracampo.
— Ó madrinha, o cavalo preto bateu-me!
— Dinis Maria, agora o menino fica aí sossegado um bocadinho, que a mamã tem de discutir uma coisa importante com este senhor!
— Mas a madrinha ainda agora estava a brincar com a passarinha...
— Não interessa, Dinis Maria. A madrinha pode brincar com a passarinha, jogar xadrez e discutir assuntos sérios, como a Constituição Europeia, por exemplo.
— Mas, ó madrinha...
— Shiuuu! Mau, mau, Dinis Maria. O menino já sabe como é a madrinha. A madrinha é muito boa, mas se lhe chegam os azeites, o menino sabe que a madrinha não é boa de assoar com mostarda no nariz!

Dinis Maria lá se aguentou à bronca nas proximidades do calor lareirense. E Faye resolveu bater em retirada intelectual com Dick, dando uma de democrata com o seu bispo:
— Reverência, o que é que o senhor prefere? Desmontar da rainha do Dick e ficar a jogar normalmente ou vir para dentro de mim intermitentemente?
— Minha senhora, até ia um bocadinho de cona! Faça o obséquio. Jogos de xadrez há muitos. Esta rainha é de PVC e cona de estrela de Hollywood não é todos os dias. Por quem é!
Dick Hard não gostou lá muito da atitude de Faye, dando uma de snob. Passou-lhe uma coisa pela cabeça, fez um voo à Batman por cima da mesa de jogo e deitou Faye ao solo.Torceu-lhe um braço, obrigou-a a ficar de costas e sacou de quatro pares de algemas (aos bocadinhos, claro, não foi tudo de uma vez).
Cena seguinte: Faye está solidamente algemada num cadeirão de luxo. As mãos atrás das costas e um par de algemas em cada tornozelo. Os leitores mais coisinho podem ler artelho, se quiserem.
Dick Hard rasgou-lhe a roupa toda de urgência. E quando ela estava completamente absolutamente mas realmente nua olhou-a bem nos olhos e disse, à fulminante de pistola:
— Agora é que vais ver como elas te mordem!
— Calma, madrinha, eu vou salvá-la! — gritou o peão branco reguila, que ainda começou a rastejar. Por acaso teve azar. Nessa altura entrou um S.Bernardo na sala (“Cujo”) e mandou-lhe uma esguichadela de mijo que o projectou para dentro da lareira.
Faye arregalou os olhos tipo “Laranja Mecânica” e gritou:
— Dinis Maria!
O peão começou a arder rapidamente, mas Dick ainda o ouviu tossir e sussurrar:
— Joana D’Arca, amor, vou ter contigo!
Dick Hard olhou para “Cujo”, tirou-lhe o barril de aguardente da coleira e disse para o cão:
— Podes lamber um bocadito de pachacha de estrela de Hollywood, se quiseres, enquanto eu tomo um copo.
Mas a vida reserva-nos surpresas. Em vez de uma boa aguardente do cantão mais alcoólico da Suíça, saiu-lhe na rifa Isostar.
— Ó “Cujo”, pára lá de lamber um bocadinho. Atão isto não é aguardente lá da terra?

“Cujo” parou de lamber a espapaçada rata de Miss Dunnaway, de onde escorreu um prodigioso fio de baba caracteristicamente neutral.
— O quê?
— És sempre a mesma merda quando te deixo trombar estrelas de cinema. Aguardente, caralho! Onde é que está a aguardente do barril? Já bebeste?
— Não, agora temos um patrocínio da Isostar.
Enervado, Dick dirigiu-se a Faye e intimou-a:
— Tu é que sabes. Vou dar-te uma última hipótese de te redimires: ou entras na versão da Broadway de “Adriana”, de Margarida Gil, ou fazes um bobó ao “Cujo” ou te sujeitas à tortura. O que dizes?
— Venha de lá essa tortura. Ainda estive indecisa entre o boca-doce e a versão da “Adriana” para a Broadway, mas agora, só para não seres campeão, quero ver como vai ser a tortura.
A tortura?
Bem... não se aconselha a almas sensíveis. Dick foi buscar todas as peças de xadrez e alinhou-as à frente de Faye. E depois começou a dar ordens:
— Peões brancos, atenção. Todos lá para dentro.
E o “Octeto Pureza” mandou-se de cabeça para dentro da amplamente mobilada racha de Miss Dunnaway. Parecia “Tarzoon, a vergonha da selva”, o celebradíssimo filme de animação de Marcel Picha.
Mas Faye não estava a sofrer. Dick começou a perturbar-se. Já lá moravam todas as peças (menos Dinis Maria, claro) e os orgasmos sucediam-se. Bem, desse lá por onde desse, o conto aproximava-se do final e ainda nada de mal lhe acontecera. Um bocado enjoado do Isostar, Dick pôs-de a provocar o autor. Erro fatal:
— Ó Graça, atão hoje não me acontece nada?
O conto até era para acabar bem. Mas não gosto de ser gozado.
Uma fada pára-quedista aterrou em cima do tabuleiro de xadrez,tirou o equipamento e concedeu três pedidos a Faye Dunnaway:
1) Dick Hard completamente nu, indefeso e algemado ao cadeirão, com o rabo espetado.
2) O S.Bernardo com uma grande erecção, ainda maior do que a do bispo atesoado.
3) Fica à consideração dos leitores.



Auto-publicidade Poético-erótica

sábado, agosto 25, 2007

Contos do Dick Hard - XII

DICK HARD ENFERMEIRO DE NOITE

“Nunca ninguém me tratou tão bem como você”, disse ela.
Bem, a história pode ser curta ou comprida. É como o tamanho de um sardão. E se no caso do sardão a gente não pode fazer nada, no que toca às histórias temos a obrigação de seleccionar a versão mais adequada ao eleitorado, que dizer, aos leitores.
Tudo começou na tarde em que começou.
Estava um calor infernal, mas nas histórias policiais com estilo é mesmo assim que o clima se deve comportar. Ou está um calor do caraças (talvez seja de Los Angeles) ou chove a cântaros (talvez seja da arqueologia).
Bem, estava um calor do caraças e eu estava sentado na minha cadeiras de molas “Range Range”, com as pernas esticadas em cima da mesa. Sei que não sou americano, mas detective que se preze tem de saber assumir uma postura descuidada. Aquilo que os americanos designam por “sloppy”. Ou coisa que o valha.
Bem, “to make a long story short” (ou shot, no caso de tiro ou cálice de tequilla), posso dizer que estava a ouvir a barba a crescer com o ritmo do Chevy Corvette branco da Marie-Claude Beaumont no Autódromo do Estoril em 1972 (capotou, mas saiu ilesa). Olhava pela janela. Na rua não se passava nada, tirando os habituais homicídios, violações e os grupos de adeptos do Benfica a festejar o título, após um período de considerável hibernação desportivo-categórica.
Ainda pensei em ter uma porta a sério no escritório, mas depois que desculpa tinha para ser um detective fracassado a nível profissional, sexual, afectivo, familiar e outros que são bem mais importantes?
Por isso mesmo, tinha mandado vir pela Internet uma daquelas portas à detective, com vidro fosco enrugado, que deixam apenas vislumbrar um corpo a cair pesadamente em soalhos tão sujos de sangue que até dão nome a um particular tom de vermelho: vermelho-soalho-de-detective.
E pintado a preto: “Dick Hard, investigações com dignidade. Fazemos descontos a grupos”.

A Velma estava de folga, provavelmente a mamar nos margalhos, que era a actividade favorita da Velma, segundo ela me contava. Eu já tinha tentado que ela me bafejasse com os seus talentos labiais, mas a Velma insistia em explicar-me que broche e patrão são duas palavras que não se dão bem. Por isso, nos dias em que a Velma estava bem disposta, limitava-me a ir-lhe ao pacote com subtileza, até que era a própria Velma que me espicaçava o amor-próprio: “Mais hard, Dick, que até cura mais que o dick do senhor cura”.
E eu dava-lhe com alma e hardor. Depois, deixava-me cair para cima da cadeira, puxava as calças, desapertava o nó da gravata (um calor de “Body Heat”, com o William Hurt a perguntar ‘Ei, lady, do you wanna fuck?’) e dizia para a Velma:
— Baby, chega aqui a garrafa da ginjinha, OK?
E a Velma trazia a garrafa da ginjinha, com elas.
(Devia ser ‘bourbon’, mas é preciso não perder de vista um certo patriotismo alcoólico).

Bem, foda-se, vamos lá avançar com o caralho da história, para falar bem e depressa.

(Esta linguagem seria verdadeiramente necessária à compreensão da narrativa? Deixamos à consideração dos leitores e dos espíritos dos críticos literários)

A Velma estava de folga, a mamar nos sardões ou lá o que é isso (provavelmente, também podia estar a fazer malha ou a jogar bowling no Vasco da Gama), mas antes de sair tinha metido aquele fabuloso par de mamas dentro do gabinete e sibilado com aquela vozinha de “carneirinho fode-me”:
— Não te esqueças que tens uma cliente às seis da tarde...
Eu grunhi uma resposta qualquer, do tipo:
— Ahn? O quê? Qual cliente?

Bem, como a Velma não me explicou correctamente quem vinha ao escritório às seis da tarde, não achei que fosse necessário tirar os recortes de jornal de cima da mesa cheia de cascas de amendoim, tampouco pôr as latas de cerveja no caixote do lixo. Ou mesmo fazer a barba.
Pelas 18 horas, ou seis da tarde, aqui a doutrina divide-se, apareceu-me no escritório a cliente.

Eu estava à espera de uma sessentona com cara de cavalo, chamada Camila Páscoa Bolhas, a encomendar-me uma vigilância ao seu mais-que-tudo Carlos. Ou coisa assim. Saiu tudo ao contrário.
A menina Anastácia Turim-Velho era uma russa de boas famílias, que tinha perdido os pais num mini-massacre conduzido (sem carta) por um gajo chanfrado que dava pelo nome de Carlos Mansão.
Anastácia tinha 27 anos e uns olhos verdes de fazer inveja a uma mamba verde, temperada por Pisang Ambong e com uma pitadinha da relva pisada por Hector Yazalde, imediatamente após a marcação do seu 46º golo, na época sagrada de 73/74.
O caso era este: um SMS anónimo tinha alertado a menina Anastácia para a possibilidade do massacre ter sido estimulado por uma enfermeira de nome Florência Melro.O massacre já tinha acontecido há uns bons cinco anos, mas há coisas que ainda dão comichão no coração passados cinco anos.
A menina Anastácia não olhava a despesas. Era o que fosse preciso. Mas queria saber, veementemente, se Florência Melro tinha algo a ver com o assassinato dos seus pais.
— Já pensou em falar com o Carlos Mansão? --- perguntei, só para ver se sabia a resposta.
— Já, mas ele fugiu da Quinta das Celebridades e anda a monte no Alentejo.
Bem, dados os dados da situação, só havia uma solução.
(É português foleiro, mas é de propósito)


***************

Florência Melro trabalhava na Clínica Vincent Lorre, que ficava perto da Praça de Londres.
Arranjei uma bata branca e uns ténis da mesma cor. Depois mandei fazer uma plaquinha com o nome “A.Silva”, para não dar nas vistas. E desbronquei-me a uma daquelas notas roxas, de 500 euricos. O Salustiano (um gajo que eu conhecia da moinice e das noites, nos tempos em que o Salustiano se afinfava nos prazeres, antes de se ter convertido às boas causas e ter abandonado as boas conas) cheirou a nota, riu-se com os dentes todos e disse-me:
— Bem, ó compincha, já sabes que a bomboka vai estourar mais tarde ou mais cedo. E estou desconfiado que vai ser mais cedo. Até perceberem que não és mesmo enfermeiro tens aí umas 12 horas, que é o tempo das mudanças de turno, do blá-blá-blá e das análises da situação. Estás a morder o esquema, ó magano?

— Estou. Não gastes a nota toda em Superbock Stout.
— Man, quem é que te disse que eu gostava de pretas?

E o Salustiano desapareceu da minha vida pela esquerda baixa. Para trás ficava um almoço no Tavares Rico (fazia parte do acordo, eu só comi uma salada, para poupar). O Salustiano tinha-me elaborado um dossier completo com os pacientes da clínica e tinha-me facilitado a vida ao máximo. Disse lá no estaminé que eu era um amigo dos tempos do Ultramar e que o substituía por dois dias. O Salustiano era mesmo um enfermeiro verdadeiro.
Se tudo corresse bem, ao segundo dia eu já contava estar no escritório, com a Velma em cima de mim, aos saltos, a arfar como uma secretária de detective verdadeira.
Entrei na clínica e uma gaja fatelosa olhou-me de alto a baixo e perguntou-me com bons modos:
— O senhor é que é o senhor enfermeiro Silva que vem substituir o senhor enfermeiro Salustiano?
Disse que sim à gaja, mas nem me dei ao trabalho de sorrir. A mula era feia como os trovões e estou desconfiado que nem gostava de sexo. Muito provavelmente, nem os dedos das próprias mãos ela deixava que lhe mexessem no marisco.
Ainda por cima a gaja cheirava a “Bien-Être”, lembrando-me uma ex-namorada que me tinha posto os palitos com um chefe de esquadra que eu tinha encornado sem saber. A vida dá mais voltas que o circuito de Nurburgring, antes da cosmética alcatroada.
Bem, por volta das 20 horas fui medir a temperatura aos pacientes.O meu plano era simples. Media a temperatura, deitava uma rabiscadela às papeletas, fazia a conversa da treta (“Qual quê, quando der por isso está a comer sardinhas em Alfama”, “Não, minha senhora, não vai nada morrer, isso não é nada, está em boas mãos”, “Isso não lhe posso dizer. Mas amanhã o senhor fala com o doutor e ele explica-lhe tudo direitinho, está bem?”) e depois ia ao cubículo da enfermeira-chefe e adormecia a Florência Melro com um niquinho de clorofode-as.
Levava a gaja para um prédio em ruínas das redondezas, dava-lhe uns estalos, sacava a informação e pronto. Claro que um homem tinha de se precaver. Mas não há nada como umas polaróides comprometedoras para calar uma enfermeira. Tipo Florência com a minha sarda entesada a tocar-lhe nos lábios, de mamas à mostra. Está bem que ficava com os olhos fechados, mas naquelas circunstâncias até seria normal.

Não estava a ver que a gaja se quisesse desbroncar com uma identificação cá do Dick Hard (no caso ‘A.Silva’, enfermeiro diplomado) ou se atrevesse a coisas mais tipo desporto radical, como chumbo na focinheira ou naifita entre as costelas.
Isto era o plano A. Mas o abecedário dos imprevistos por vezes mete-nos à frente do nariz o plano K e nós nem sabemos se existe K no abecedário cá do burgo.
Já eram umas 20 e 30 e tudo tinha corrido nos trinques nas três primeiras camas. Mas ao quarto quarto (4º quarto, já estão a perceber melhor agora, foda-se?) o vento mudou e ela não voltou.
Nem queria acreditar no que vi quando entrei no quarto. Uma fabulosa mulher dos seus 28/30 anos, ruiva, de cabelo curto, olhos azuis de huskyzinha do Alaska (ai que lasca!) estava nua da cintura para baixo, com os lençóis para trás.
Eu bem bati com os meus viris nós dos dedos na porta, mas ela estava com os auscultadores do “walkman” a tapar-lhe os ouvidos. O raio da chavala era um bocado atrevida. Se calhar queria mesmo ser apanhada com uma cenoura dentro da grutita.
Não vi grande inconveniente. Afinal, ela já tinha tirado o apêndice e no dia seguinte tinha alta. Bem, se calhar até nem se deve meter cenouras na pachacha num pós-operatório de “adeus, ó apêndice”, mas nestas coisas o A.Silva sabia tanto como o Dick Hard.
E antes que o A.Silva tivesse podido dizer algo, já a chavala abria os olhos, dava com o Dick Hard à frente dela, de bata branca, e desatava a fazer-me propostas que um enfermeiro de noite a sério tinha por obrigação deontológica recusar:
— Vá, senhor enfermeiro, ajude!
E para que não restasse qualquer tipo de dúvidas, abriu a boquita e pôs-se a fazer movimentos muito rápidos com a língua, à colibri assanhado, do estilo “é mesmo minete que eu quero, cavalheiro”. E olhou para baixo, para que não restassem mesmo equívocos nenhuns.
Fiquei a pensar naquilo por três segundos. Que diabo, segundo os preços da clínica (O Salustiano tinha-me dito que os preços até tiravam a saúde só de olhar para a factura, mesmo que se tivesse recuperado bem), uma miúda gira tinha direito aos seus 15 minutos de glória:

— Tire lá a cenourinha, está bem?
— Não, a cenourinha fica a entrar e sair. Trabalhe lá como deve ser no meu botãozinho secreto. Só lhe pedi uma lição de línguas em matéria específica...
Bem, para que é que servem os enfermeiros, se não ajudarem no pós-operatório?
Palavra de honra! A coisa dela sabia a compota de cereja! Pode ser?
Podia. Olhei de esguelha para o tabuleiro do jantar e vi a caixinha redonda da compota de cereja toda aberta e vazia. E só depois percebi que o diacho da chavala tinha usado a compota de cereja como lubrificante.
De modos que eu estava para ali a comer cona de cenoura com travo de cereja. Partindo do princípio que lamber clítoris conta como comer cona.

(Questão académica: se um gajo só lamber o clítoris é considerado minete? E se meter os dedos na vulva já é punheta ou continua a ser minete? E se meter a língua tipo pénis, dentro e fora, sem lamber, é punheta ou minete?)

E estava eu nestes preparos há uns 20 minutos (“Ai, senhor enfermeiro, nunca ninguém me tratou tão bem como você”), a gaja a gemer como uma baleia a responder a um inquérito sobre a poluição nos oceanos, levo com um SLÓIIINNNGGG nos cornos que apaguei a luz em menos de nada, passando, sem preencher papelada, para a secção de desmaios urgentes.
Na altura não percebi nada, só apaguei.
Foi três dias mais tarde, depois do bobó que a Velma teve a amabilidade de finalmente me fazer no escritório (doentinho tem direito a miminhos) que eu soube das coisas, por soma de elementos e porque o meu amigo Zé Gomes (um detective que me deve alguns fervores) me contou tudo.

— O que apurei pelos meus ‘informas’ foi o seguinte: a gaja ruiva estava feita com a Florência e nem sequer tinha sido operada. A Florência desconfiou da cena do Salustiano

(que apareceu a boiar no Tejo, a propósito)

a cena do Salustiano, dizia eu, e orquestrou a noite de forma a tirar-te do caminho. A ruiva, que se chama na realidade Carolina Fialho de Almeida e é uma matadora profissional, já trabalha com a Florência há uns três anos. Ou melhor, trabalhava. Foram as gajas que gamaram um quadro famoso do Louvre.
A Florência era mesmo enfermeira, mas exercia o crime em parte-time. A gaja andou na escola com a Anastácia e foram as duas amantes no liceu. Mas depois a coisa acabou, porque a Anastácia começou a fazer minetes à balda, sem nenhuma consideração pelos orgasmos da Florência, ao que parece. E passados uns anos a Florência, só pela maldade, resolveu mandar-lhe os pais para os anjinhos. E picou um chanfrado dos cornos chamado Carlos Mansão, para lhe executar o trabalhinho sujo.
Agora, a Anastácia recebeu um SMS anónimo de uma gaja que também tinha levado com os pés da Florência e se quis vingar. E depois a Florência foi ter contigo. O resto já sabes.
— Ó Zé, agora as coisas começam a fazer sentido.

(E se não fizessem, problema dos leitores. Já vou na segunda volta do CD duplo da Aretha Franklin e apetece-me ir tomar o chazinho e ler os jornais)

— E muita sorte tiveste tu, Dick. Podes agradecer à Anastácia, que resolveu seguir-te. Ela viu a Florência a sair da clínica, mais a ruiva. Quando elas estavam à brocha para meter um saco grande no porta-bagagens do jipe, a Anastácia somou dois mais dois, rapou de um gelado Magnum e enfiou o pauzinho pelas goelas abaixo da Florência, que morreu asfixiada no maior sofrimento. Depois sacou da Magnum e enfiou uma bala mesmo no meio da testa da ruiva, que cheirava a compota de cereja e ficou a encher-se de formigas nas traseiras do parque de estacionamento, onde elas tinham o jipe.


***************


No dia seguinte, na clínica Vincent Lorre, conversa entre duas empregadas da limpeza originárias da Damaia:
— Ontem foi um dia mesmo esquisito.
— Foi, Genoveva?
— Foi. Eu ia a passar no corredor, de noite, com os baldes e o desinfectante e ouvi gemidos no 321.
— Alguém que se estava a sentir mal...
— Estava era a sentir-se bem. Fui espreitar, porque pensei como tu, que era alguém a sentir-se mal. Bem, estava um enfermeiro a lamber a rata a uma senhora que tinha sido operada ao apêndice.
— O que é que fizeste?
— Primeiro, fiquei a espreitar um bocadinho. Depois, fui à sala das enfermeiras, para chamar alguém. Só lá estava a Florência, que disse que não se devia interromper, porque podia provocar traumas.
— E depois?
— Olha, voltei para a entrada do quarto e fiquei a espreitar. Mas a senhora operada estava a gemer muito e o enfermeiro (que eu não reconheci) nunca mais acabava.Eu é que não tenho essa sorte com o meu marido! Só a mim. É lavar e esfregar para levar para casa ao fim do mês meia-dúzia de euros...
— Deixa lá isso! Acaba lá de contar...
— Ih!Ih!Ih!…olha, o gajo não parava de lamber, ela não parava de gemer e eu comecei a ficar mesmo no ponto. Saí do corredor e fui para a casa de banho. Lavei muito bem o desentupidor e pus-me a chupar o meu clítoris com ele. E depois fiquei a esfregar com o dedo e meti o cabo dentro da cona. Ai, filha, já não me vinha assim desde a noite de Ano Novo, com o meu cunhado.
— E depois?
— Depois ouvi assim uma coisa tipo BÓING, estilo bandeja a cair. Mas era um som abafado. E depois ouvi a voz da Florência a dizer: “Ajuda, puxa desse lado. Temos pouco tempo”. Se não foi isto, foi parecido.
— E depois?
— Depois, saí da casa de banho e fui espreitar ao quarto. Mas já não estava lá ninguém. Achei estranho. Resolvi ir à rua fumar um cigarro e tinha vista para o parque de estacionamento. E ouvi outra vez a voz da Florência. Ia a carregar um grande saco com outra pessoa. Acabei de fumar o cigarro e voltei para dentro. Aí uns três minutos depois ouvi um barulho, tipo tiro ou escape de mota.
— E depois?
— Depois, o estranho é que a Florência hoje não veio trabalhar e ninguém sabe da senhora que foi operada ao apêndice. Nem sequer de um enfermeiro novo, que era para substituir o Salustiano por dois dias.
— Telefona ao Salustiano.
— Já telefonei. Ele não atende. Vai logo para as mensagens e ouve-se um barulho tipo aquário. Tudo isto é muito estranho.
— Hmmm. O que achas que pode ser?
— Provavelmente um conto do Dick Hard. Provavelmente os melhores contos do mundo (fresquinhos).



Auto-publicidade Poético-erótica

sexta-feira, agosto 24, 2007

Contos do Dick Hard - XI

DICK HARD E A AVENTURA EDITORIAL


— Sabe, senhor Hard, dificilmente a escrita pode ser considerada como uma carreira, em Portugal. É mais uma aventura, um “hobby”, um devaneio, um pássaro que esvoaça numa floresta da Finlândia.
— Porquê da Finlândia?
— Porque é um país que fornece muito papel para impressão. Isso e broche.
— Perdão?!?
— Nunca ouviu falar do broche finlandês?
— O que é isso?
— Não sei, mas deve ser bom, porque é muito famoso.

A conversa decorria animada entre o aspirante a escritor Dick Hard e o editor Lobato Bulhosa Mattos y Rodriguez, da “Ilusões Óptimas Editora”.
Metera-se na carola de Dick que ser escritor era uma boa. Gajas, vernissagens e copos. Não necessariamente por esta ordem.
Mas o que sabe um miserável detective do nobre mister da escrevinhação? Pouco. Sabe apenas um cochinho, é o que é.

— Sabe, senhor Hard, editar um livro chamado “Esporra-te agora no meu peito, amor” tem custos.
— Bem, eu sei que a crise...
— Não percebeu, senhor Hard. Tem custos em termos de imagem, prestígio.
— Então e se fôr “Ejacula temporariamente no meu busto, amor”?
— Isso não é título, senhor Hard.
— Trate-me por Dick, caralho!
— Está bem. Pois é, senhor Dick Caralho, compreendo e respeito os seus anseios literários, mas a vida está difícil para todos.

A vida estava difícil para todos, desde os chulos mais ordinários até ao político mais empertigado. Ou vício e verso.

— Sabe, senhor Dick Caralho...
— Só Dick, só Dick...
— Sabe, senhor Só Dick-Só Dick, o meu conselho é de que escreva algo na área em que se move, ou seja, na área da investigação. Porquê atirar-se logo a um romance de cavalaria, passado em Roncesvalles, com 23 personagens?

— Alembrou-se-me...
— Pois é, pois é, os autores vêm para aqui com montes de ideias, senhor Só Dick-Só Dick, mas depois é que são elas...
— Quem, as da literatura Light?
— O quê? Não estou a perceber...
— Disse “depois é que são elas”. Presumo que “elas” são as escritoras Light...
— Nada disso. Lights só conheço o SG. Senhor Só Dick-Só Dick, não há literatura Light, tão certo como o Heavy Metal ser uma mistificação. Tal como há boa e má música, há boa e má literatura.
Olhe, antes de mais, peço-lhe que passe para a nossa sala de “Projectos Embrionários Literários”. Vai conhecer a nossa “publisher”. É a Valentina Vitorina. É um primeiro passo. Ela diz-lhe tudo o que vai ser preciso. Depois voltamos a falar, está bem, senhor Só Dick-Só Dick ?
— Bem... eu...
— Então até já.

E dito isto, Lobato Bulhosa Mattos y Rodriguez levantou-se com um impulso marado e saiu da sala à desfilada. Ainda Dick Hard estava a pensar o que havia de pensar de tudo isto quando uma chavala de metro e 80 e cabelo roxo lhe disse:
— Boa tarde, cavalheiro. Queira fazer o obséquio de me acompanhar à sala da Dra. Valentina Vitorina.
Dick Hard acompanhou a miúda até à sala de Valentina Vitorina.
Entrou numa sala com paredes verdes e tapeçarias roxas, com fotos do Torneio de Wimbledon em cima de uma mesa enorme de mogno das Maldivas.
A Dra. Valentina Vitorina era uma mulheraça de 1 metro e 75 (mais centímetro, menos centímetro), com seios renascentistas (um wonderbra também ajuda, olá se ajuda), um penteado bastante pontiagudo Outono/Inferno e uns sapatos de matar baratas aos cantos das portas, com vista para Paris, 17º quarteirão e também queria levar uma baguette, ó fáchavor.
— Olá, o meu nome é Dra. Valentina Vitorina, mas vamos deixar-nos de formalismos. Trate-me apenas por Dótora.
— Muito bem, Dótora. Trate-me por Dick, apenas.
— Muito bem, Dick Apenas. Então, segundo se consta aqui na “Ilusões”, o meu amigo quer ser escritor de sucesso...
— Se fosse possível...
— Claro que é. A Literatura não é nenhuma ciência, muito menos uma arte. Hoje em dia, e à noite também, obviamente que obviamente essencialmente, de madrugada coisa e tal de igual modo. Hoje em dia, como dizia, a Literatura só não é uma receita para quem não faz parte da nossa seita.
Em primeiro lugar, o Dick Apenas tem de ser conhecido...
— Apenas tenho de ser conhecido?..
— Exactamente. Apenas tem de ser conhecido, que é como quem diz, promovido. O que está no livro não interessa. Se fôr conhecido, vende. O que faz falta é promover a malta. Eles comem tudo, eles lêem tudo e não deixam nada. Ou melhor, não digerem nada.
Veja, é “Harry Potter” ou “Larry Putas”, é “Código D’Avintes”, é “Os Três a Caminho da Virgindade”, é “A Anita Não é Bonita mas acredita que um broche se faz”...livros, papéis pintados com tinta, como dizia Camões...
— Fernando Pessoa...
— Pois, não interessa. Mais século menos século...de qualquer forma, qualquer dia ninguém se lembra deles. Também não lembra ao diabo fazer um livro com dez cantos...
— Dótora, eu nem sei bem o que estou a fazer aqui consigo...
— Calma, Dick Apenas. Eu sou a sua “publisher”. Eu é que sei tudo. Antes de mais, preciso que me faça um minete, para avaliar os seus conhecimentos linguísticos.
— Mas...
— Não há mas nem meio mas. É língua na cona e prego a fundo! Como é que pensa que a Marilyn chegou ao estrelato? Com amortecedores Monroe?
— Foi ao minete?
— Ao minete não foi, mas ao broche de certezinha, pela alma da minha mãezinha. Vá, atire-se aqui à felpudinha da Dótora e dê-me o seu melhor.

Dick Hard desconfiou que lhe estavam a tentar extorquir um minete à traição, mas assim cona assim não havia nada a perder, por isso era de lamber. Prà frente é que é a coninha. Antes isso que levar no cu em Caminha!

— Issooo, isssooo, assim, assim, lamba com alma, Dick Apenas, com alma...e menos cuspo, se não se importa...quero sentir a pontinha da sua língua a trabalhar-me, o cuspo é para as colecções de cromos e os selos do correio...

Cerca de trinta minutos depois, maxilares doridos e língua um bocado entaramelada, Valentina Vitorina deu ordem de soltura a Dick Hard.

— Bem, Dick Apenas, agora que estes pró-formas burocráticos já estão despachados, venha daí comigo à sala da Dótora Inocência Ifigénia. Se a Dótora lhe pedir minete, você não faça. Aqui na “Ilusões”, minetes é só comigo. Elas têm a mania de explorar os escritores, mas você não vá na cona delas. Têm muita lábia, mas depois fica tudo em mágoas de bacalhau. Quanto mais cedo conhecer as conas à casa, melhor. Minete é comigo.

A dótora Inocência Ifigénia não era boazona, mas sabia disfarçar. Mal Valentina Vitorina fechou a porta da sala, Inocência Ifigénia disse para Dick Hard, com um sorriso traquina:
— Abra a braguilha e feche os olhos!
Dick Hard não estava muito inclinado para um número desses. Sabia lá se a Ifigénia era gaja para lhe zurzir com um corta-relvas na sarda! Abriu a braguilha, fechou o olhou direito e ficou a espreitar com o esquerdo, assim à malandro não estrilha, muda de esquina.
Mas afinal não havia truque. A Inocência puxou a cadeira de rodinhas para o pé de Dick e tratou de mamar no Little Dick, que ficou rapidamente em pé:

— Atenção, Little Dick! Apresentar armas! Não mexe nem que passe uma manada de elefantes a ler “Memórias do Cu de Judas”.

(Isto aqui é uma voz imaginária, para vocêses imaginarem, não foi ninguém que arrotou esta posta de pescada número 5, para empatar com o Chanel)

Ora bem, a “Ilusões Óptimas” já se estava a parecer com uma editora a sério. A dótora número 2 sabia o que chupava e passados 7 minutos (Dick não aguentou mais) aspergia com dignidade laríngica o líquido preciosamente vital de Hard lá com ele.

— Pois bem, senhor...
— Hard, Dick Hard...
— Pois muito bem, senhor Ardicard, agora que já percebi qual é o seu gosto, podemos estabelecer um plano de penetração do mercado.
— Acho muito bem.
— Ora ainda bem que em português nos entendemos. Ó Gertrúria Gertrudes, traga o material de aprofundamento inventarial!
(disse a dótora pelo intercomunicador)

Mau, que raio era isso?
A Ifigénia desligou o intercomunicador e passados uns cinco minutos entrou uma chavala na sala, com um dildo rosa muita grande. Dick Hard ainda pensou que fosse para consumo da casa, já que era um artigo exposto à curiosidade da globalização, mas está quieto ó meu. Isso é que era naice com Chuépes Laranja sem borbulhas.
Quando deu por ele, Dick tinha levado com uma estalada na sua apetência para o prazer. A puta da Gertrudes deu-lhe um murro de Berlim que o fez desmaiar em stereo e acordou sem calças, com o dildo rosa a entrar e a sair do pacote, já muito alargadinho da Silva.
E como Dick começasse a gritar “ó da Guarda, ó da Covilhã, ó de Gouveia”, a dótora Ifigénia teve de o acalmar com um carolo:

— Então, senhor Ardicard. Tem de ter paciência. Um escritor tem de saber sofrer, isto é todo um percurso. Temos de avaliar de que é feito o seu carácter. Ou pensava que isto de escrever um livro era um mero exercício literário de talento, perseverança e alguma ética?
Não seja ingénuo, por amor de Baco. Isto aqui é uma editora séria. Não há um único escritor que nos tenha caído nas manápulas que não tenha atravessado com um esgar de esforço uma “geme session”. Ninguém vai a lado nenhum no Olimpo da escrita sem uma recruta literária.
Mas é para o seu bem, meu bem. Não me vai levar a mal, pois não, seu garanhão?

Quando saiu, Dick tinha um andar novo e não era na Reboleira do “Pois, pois, J. Pimenta”. Ser escritor em Portugal é como levar com um tarolo pela bilha acima.
As subtilezas entre o simbolismo e a mais aguda dor física não passam de um pequeno carioca de limão numa esplanada da moda.
Perceberam ou querem queijo parmesano e óregãos?



Auto-publicidade Poético-erótica

quinta-feira, agosto 23, 2007

Contos do Dick Hard - X

DICK HARD NO CASTELO DE BARBARELLA

VERSÃO A (para pseudo-intelectuais)


Bem na tua pele.
Até fazer corar a tua dor.

“As lâminas da alma sabem cortar fatias melancólicas da desesperança”

Disse Barbarella.

Bem na tua pele.
Até fazer corar a tua dor, Dick.
O que Hard cura.

Vou enfiar-te um dedo de vinil pelo ânus acima, Dick. E quero ouvir-te a suar de desejo, quero saber-te à mercê dos meus medos. Disse Barbarella. Ou não?

Tudo isto não passa de um sonho cruzado de Cronenberg e Lynch? Temperado por uma pitada de filosofia estanque à emoção? Ou foi o indomável marquês Donatien Alphonse que se sentou aos comandos do meu cérebro e se pôs a vomitar maldades pelas teclas de um Direct Acess Keyboard?

Chove nos cabelos roxos de Barbarella. Dick Hard está solidamente agrilhoado às paredes húmidas de um castelo em demanda do Santo Graal do Erotismo. E ouve-se ao longe um lobo que uiva “maladie d’amour chantait le coeur d’Emanuelle”.
E mil formigas com nervos de nylon deixam-se invadir pela sede do corpo e circulam livremente em Dick Hard. Entram pelo ouvido esquerdo, saem pela narina direita. Entram pela narina esquerda e saem pelo ouvido direito. E lambem de malícias um pénis hirto que se ergue à entrada de uma dama no salão escuro e viscoso, onde os candelabros sabem tremer de frio e as luzes se banqueteiam de mágoas com as sombras.

Boa-noite. O meu nome é Clarice Lispector. Tenho mesa reservada para duas.


Duas? Disse duas, Clarice?
Sim, a Dining Room do castelo de Barbarella tem mesas com anões robóticos em permanente erecção de eunucos de Marte.
E Clarice tem mesa reservada no castelo de Barbarella.

As palavras fazem sentido? Ou são apenas caudais, rios de lava orgânica em bacanal de sílabas?

“Sorry, Dave, I can’t do it”, disse Hal para Barbarella. E as naves dançaram ao som de Strauss, porque não sabiam dançar ao som de AC/DC.


INTERVALO
(pipocas, WC, um cigarro, essas merdas)


VERSÃO B (para os habituais leitores destas ordinarices)


Vou enfiar-te um dedo de vinil pelo ânus acima, Dick. E quero ouvir-te a suar de desejo, quero saber-te à mercê dos meus medos. Disse Barbarella. Ou não?

Olá, o meu nome é Dick Hard (Ou René). Ouçam muito cuidadosamente. Só vou dizer isto uma vez (Alô? Alô? Quem fala?). Estou aqui fechado no castelo da Barbarella porque o marido dela é um desconfiado dos colhões e foi lá ao meu escritório para eu lhe fazer uma vigilância. E eu, claro, desde que caia o guito, vamos lá embora.
E vá de sacar das máquinas digitais e dos microfodes vaginais. Depois foi só arrancar à papo-seco para o castelo da gaja. O pior é que me saíram ao caminho o Herr Flick e a Helga, que me deram com uma moca de Rio Maior no toutiço e me prenderam às paredes húmidas e viscosas do castelo da Barbarella.

Vou enfiar-te um dedo de vinil pelo ânus acima, Dick. E quero ouvir-te a suar de desejo, quero saber-te à mercê dos meus medos. Disse Barbarella. Ou não?


— Estás a sentir bem o meu dedo de vinil pelo teu ânus acima, miserável clown, cloaca dos meus amores?
— Ó D. Barbarella, não se importava de retirar o dedo, só por um bocadinho?
— Silêncio, verme! Helga, traga os caranguejos de Odemira!

(FODA-SE! NÃO, OS CARANGUEJOS DE ODEMIRA NÃO!)

Nota cultural: não faço ideia se existem caranguejos em Odemira, mas vamos admitir que sim, porque eu estou-me baldando para a coerência desta cena e já estou há muito tempo à frente do computador.
Ou seja, os caranguejos de Odemira são tendencialmente homossexuais e gostam de meter as patitas nas sardas dos detectives privados. São basicamente pequenos (entre 10 e 15 centímetros), apresentam uma tonalidade róseo-alaranjada e ejaculam rapidamente na época de desova.
Diz a lenda que tiveram um blog: www.crab-da-rocha.blogspot.crac.
Gostam de caviar, Moet et Sardon, trufas de girafa e alpista.
Recusam-se a ler “O código d’Avintes”, de Ian Green, e “Escarrador”, de Emanuel Rosa Tovarich.

(FODA-SE! NÃO, OS CARANGUEJOS DE ODEMIRA NÃO!)

— Helga, essas caranguejos de Odemira? São para hoje?
— É só um momento, Fraulein Barbarella. O Luís Graça parou um bocadinho para pensar.
— Não seja ridícula, Helga. O Luís Graça nunca pensa quando escreve contos para este blog.
— Mas, Fraulein, há quem diga que ele até revê os contos antes de os enviar para publicação.
— Isso são questões de princípio. O sonho de qualquer escritor é fechar todas as gralhas num gueto.

(Todas as gralhas estão fechadas num gueto. Todas? Não. Algmas gralhs resstem ada e sempre ao invasr)


Alô? Daqui fala o Asterix. Quem deu autorização para fazer uma piada comigo? Ahn? Quem deu? Continua a chupar, Obelix. Não me interessa que tenhas uma entrega de menires. Primeiro acabas o bico. É sempre a mesma merda, gordo!
Está? Exijo uma indemnização de dez javalis ou vinte sestércios. Caso contrário vens bater com os costados ao tribunal de Lutécia. Por Belenos! Que nem ginger rogers!

Vou enfiar-te um dedo de vinil pelo ânus acima, Dick. E quero ouvir-te a suar de desejo, quero saber-te à mercê dos meus medos. Disse Barbarella. Ou não?

— Pronto, Fraulein Barbarella. Aqui estão os caranguejos de Odemira. Comprei à dúzia, que era mais barato.
— Not so fast, Helga. Fraulein Barbarella precisa de saber que os caranguejos de Odemira só podem comer sarda de detective depois da sesta e nunca começam a trabalhar sem um cantar alentejano.
— Mas...Herr Flick…
— Shut up, Helga. You stupid woman!

(Já sei que era ‘boca’ do René para a Edith, mas eu faço o que me apetece nos meus contos. São amigos do Herr Flick, por acaso? Prò carvalho, seus palhaços!)


(OH! NÃO! OS CARANGUEJOS DE ODEMIRA NÃO!)

— Ó não, os caranguejos de Odemira! (disse Dick Hard)
— Ó yes, com batatas (disse Barbarella)

Helga puxou os ‘boxers’ com bonequinhos de Dick Hard e enfiou-lhe dentro dos calções um par de caranguejos de Odemira, que iniciaram um curioso bailado.

— Ó Maneli, primêro a gente dá uma tenazadita na piruca do Dicki Hardi e dipois vamos beberi um tintinho da casa ali a um amigo que ê tênho perto da Lapa...
— Tá combinado, compadri. Atãoi, se o compadri queri, na sou ê que vou dizeri que nã...porra!

Passados vinte segundos com os caranguejos de Odemira, Dick Hard pediu clemência a Barbarella:
— Por favor. Eu faço tudo o que fôr preciso.
— OK. Helga, tire-lhe os caranguejos da pichota. It’s minete time! My time for minete!

(É TEMPO DE MINETE. VOCÊ, QUE É UMA MULHER MODERNA, O QUE FAZ DURANTE UM MINETE? OLHA PARA AS PAREDES? PARA OS QUADROS? PARA O TECTO? GEME? AGORA, VOCÊ TEM OPORTUNIDADE DE SABER DO MUNDO ENQUANTO A CHUPAM. “TIME”, A REVISTA PARA QUEM GOSTA DE MINETE. É TEMPO DE MINETE. É TEMPO DE ‘TIME’).

(Frize, deixem falhar o Patorras!)

E a língua a suar frio de Dick peregrinou os lábios vaginais de Barbarella com o desânimo dos vencidos.

— Então, senhor Hard? Isso é que é lamber? (disse Barbarella)

(Formidável estalo foi prodigalizado nas fuças ranhosas de Dick Hard)

— Helga, venha mostrar ao senhor Hard como se lambe!
— Ya, Fraulein Barbarella. Com todo o gosto!

E Helga (na realidade a actriz Kim Hartman. Não fazemos ideia das suas preferências sexuais. Mas marchava) despiu o seu casaquinho à nazi, ficou de cinto-de-ligas a bater a pala à tesão de Dick Hard, ajoelhou-se no lajedo (habituado ao putedo) do castelo e meteu a sua língua sábia de fufices na racha eroticamente imaculada de Barbarella.
Barbarella desfazia-se de orgasmos múltiplos (esta semana há jackpot) e vibrava de elogios a Helga, enquanto Herr Flick se masturbava furiosamente com as luvas de cabedal preto e esbofeteava Dick Hard, ainda e sempre preso à parede.
— Vou-me vir todo para cima do teu peito, Dick Hard. E quando as gotas de sémen secarem, vais ficar com pingos em forma de cruz suástica a escorrerem-te pela barriga abaixo. O meu suor cheira a Hitler, porco português!
— Vai-te lixar, ó Flick! (disse Dick Hard, que levou um pontapé nos colhões no mesmo instante, para desespero dos caranguejos de Odemira)

(— Atão, Maneli? Estã maltratando a nossa comida? Na querem lá veri?..
— Dêxa. Inda nos hã-de vir pedire pra chupari nas pachachas...)

Nessa altura, Long John Silver entrou no castelo de Barbarella, a mamar numa garrafa de rum. Tinha um papagaio branquinho no ombro:
— Oh!Yeah, Baby. Give it to me, baby!

MARTINI, BABY?

Yes, please. Com uma casquinha de limão.

Acaba assim?
Pois. Nem me apetecia escrever.
Nota-se?


Auto-publicidade Poético-erótica

E O SEXO CHEGOU AO ALGARVE!
























Quando lerem estas linhas é bem provável que o Luís Graça esteja já no Algarve, mais concretamente em Portimão.
Depois do “reconhecimento do terreno” na final four da Liga Europeia de Voleibol (em Julho, ver o blogue www.oprazerdamesa.blogspot.com), Luís Graça volta ao local do crime, ou seja, o Portimão Arena, um pavilhão ao estilo do Atlântico do Parque das Nações, em Lisboa, alcunhado por alguns portimonenses de “Baleia Encalhada”.

Este fim-de-semana é que vão ser elas (e eles).

Das 7 da tarde às 3 da manhã. Sexta, sábado e domingo.

Não vai haver Sonia Baby nem Dúnia Montenegro, mas vai haver Melany Moore, Alina Rumena, Ana Ros, Channel 27, Luna Queen, Sharai, Susana Spears e Symba, entre outras.

Não sei se o Luís Graça terá coragem de entrar no concurso de “Deep Throat” (a Organização destaca alguns elementos para enfiarem uma salsicha pelas goelas abaixo de quem tiver coragem de se inscrever. Ganha quem engolir mais), mas estará em cima do acontecimento.

E também vai estar atento ao rapaz algarvio mais sexy, à menina algarvia mais sexy, ao casting para filme porno das Ninfas Maníacas (que já tinham vindo do Porto para Lisboa e agora descem mesmo até ao reino dos Algarves) e a tudo o mais que aconteça na I Expo do Sexo, Sexy 2007, uma organização sob a égide dos nossas amigos de Barcelona, com a colaboração da Expoarade.

Portanto, estejam atentos. No regresso a Lisboa, Luís Graça vai-se agarrar ao computador e dizer tudo o que sabe. E mal os amigos ajudem a “scanear” fotos e desejos, o Ganda Ordinarice abrir-se-á em todo o seu esplendor para o Salão de Portimão.

Está dito, está dito.



Auto-publicidade Poético-erótica

sábado, agosto 11, 2007

Contos do Dick Hard - IX

DICK HARD E OS FILMES DE TERROR

Dick Hard considerava-se boa pessoa. O facto de adorar filmes de terror não tinha nada a ver com o caso. Mas ele lembrava-se bem de que a sua mãe o advertia na sua tenra adolescência: “Ai, não percebo como podes gostar de filmes de terror. Que sádico!”.
Dick Hard respondia-lhe: “Isto é cinema. Sádicos são os gajos que ficam na estrada a ver os acidentados a esvair-se em sangue”.
Por acaso até era verdade. Hard só gostava de ver sangue no cinema.
Um dia, por mero acaso, andava a passear na Net e deu com um blog chamado “AfundaçãodasRosasPúrpuras.fodespot.bom proveito.come”.
Um miúda chamada Madre Mia confessou, num comentário a um post, que os filmes de terror a excitavam particularmente. O Dick ficou a coçar a cabeça um bom bocado. Olha! Afinal, os filmes pornográficos das meninas são os filmes de terror.
Mas o que se passa com as miúdas? Vêem um gajo a ser todo agatanhado pelo Freddie Mãozinhas-de-Tesoura e começam a ficar molhadas? Vêem o Cristóvão Lee às dentadinhas no pescoço das virgens e desatam a meter o dedo na grutazita? Vêem os piratas a rasgar o nevoeiro com más intenções e metem a mão na sarda do namorado? Pelo andar da carruagem, têm orgasmos múltiplos quando assistem à versão restaurada do “Nosferatu”, do grande Murnau.
E depois os homens é que são os tarados. Olhem bem para isto: um gajo anima-se quando vê gente na pantalha a ser feliz, quer dizer, a coiso-e-tal. Filmes pornográficos. Pois. Malta a ter sexo. Elas dizem que é estranho. Que está mal. Está-se mesmo a ver.
O que está bem é ficar excitado ou excitada a ver filmes de terror. Olha que porra! Os filmes de terror são para ter medo, não é para ficar excitado!
“Eu, quando estou com medo, perco a tesão toda!”, disse o Dick Hard para um amigo, numa noite de copos.
“Eu, quando vejo um filme de terror, arrepio-me toda. Mais do que isso só nos pré e pós-coitais”, disse a Madre Mia para a blogosfera.
O Dick Hard nunca levou uma namorada para o escurinho do cinema, a ver um filme de terror, com a intenção de se aproveitar dela. Pelo contrário, até levava camisas de manga comprida. Uma vez tinha assistido ao “Por favor, não me morda o pescoço”, do Polanski, e chegara a casa com os braços todos arranhados pela namorada. E era uma comédia de vampiros!

A partir daí, namoradas em filmes de terror, só com manga comprida. Mas qual sexo! Ele gostava de filmes de terror e queria ir ao cinema. As namoradas eram ciumentas e também queriam ir, porque não tinham confiança nele. Na volta, elas sabiam que havia miúdas que ficavam excitadas. Mas não era o caso das namoradas de Hard.
As namoradas de Hard ficavam com as mãos frias, roíam as unhas, agarravam-se ao Dick, suspiravam, ficavam com a boca seca. Sexo? Nada disso!

(Ouviu, sua Madre Mia?)

(Eu por acaso estou a ouvir ‘Cool velvet, Stan Getz and strings’. Só levei três anos até perceber que podia ouvir um CD e escrever no Word, tudo ao mesmo tempo. Sou uma vocação tecnológica nata. Quando acabar o CD — são 72 minutos — conto rematar o conto).

Um belo dia, Dick Hard conheceu uma prima de Madre Mia, chamada Mia Madre, que lhe entrou pelo escritório dentro com uma mini-saia da Mary Quant, muito “sixties”, em xadrez. E um par de “melões” de se lhes tirar o chapéu em Almeirim!
— Senhor Hard, o meu nome é Mia Madre, mas pode tratar-me por Mummy. Vim recomendada por uma amiga. O marido andava a traí-la e o senhor arranjou provas para o divórcio.
— Faça favor de se sentar, D. Mia Madre.
Mia Madre sentou-se de perna cruzada à Sharon Stone e sorriu com os dentes todos, por sinal bem bonitos:
— Trate-me por Mummy, por favor. Posso tratá-lo por Dick?
Hard começou a descontrair-se, a ver o filme:
— Mummy, ponha o meu Dick na sua boca as vezes que quiser.
Dick estava a ver o filme todo, mas nunca pensou que Mummy se irritasse com a lentidão dos filmes de Manoel de Oliveira e pegasse num comando virtual para um “fast mais-do-que-forward-que-se-faz-tarde”.
Quando deu por ele, Mummy estava de joelhos na carpete esburacada do escritório do Hard. E não tinha nada que ver com a eleição de Bento XVI.
Pode-se dizer que foi agradável, tirando a ‘boca’ final, sem más intenções, mas algo perturbadora:
— Ó Dick, soube-me tão bem. Mas pilinhas assim cabem-me na cova de um dente!
— Mas...Mummy, são 17 centímetros! É a média europeia, padronizada!

COM OS NOVOS PÉNIS EUROPEUS PADRONIZADOS, NENHUMA MULHER É OBRIGADA A RECORRER A TÉCNICAS DE ‘DEEP THROAT’ FORA DAS ÉPOCAS FESTIVAS. EXIJA PÉNIS EUROPEU PADRONIZADO: O PÉNIS DE TODAS AS GARGANTAS.
EM CASO DE DÚVIDA, CONSULTE O SEU SEXÓLOGO.

Mummy era um caso de força. Uma mulher fatal nada fatela. Tinha começado a urdir a sua teia conspirativa. Levou Hard a comer uma “Banana Split”, depois de ter chupado a dele na cena anterior, como os leitores e leitoras puderam observar imaginariamente.
A ideia era esta: arranjar provas falsas para se poder divorciar do marido e sacar-lhe a nota. Fazia-se o que fosse preciso. Contratava-se putas, tirava-se fotos, ameaçava-se. Também havia o plano B:
— Mas, Dick, eliminá-lo meigamente, como por acidente, sem sofrimento desnecessário, é apenas um gesto de caridade. Afinal, ele tem 71 anos...
— Minha cara Mummy, o meu nome é Hard. Dick Hard. E nunca me meti num assado sem acabar cozido. Ou melhor, mais do que fodido. Estes contos são patrocinados pelo JB e a tradição ainda é o que era.
— Dick, você está cansado. Teve um dia duro. Eu sei. Ter um dia duro é hard como o caralho. Vamos ao cinema. Depois vamos jantar. E lá para a noitinha falamos melhor.
Dick franziu o sobrolho. Mas acabou por se deixar convencer. Mummy estava demasiado bem maquilhada para que ele pudesse resistir ao seu olhar. A instâncias de Mummy, acabaram a ver “The thing”, de John Carpenter. “Veio do outro mundo”, no título português. Uma coisa assim meio “Alien”, com um lavagante à solta a provocar baixas atrás de baixas.
Sempre que o bichinho aparecia, Mummy remexia-se na cadeira e emitia pequenos gemidos, nada parecidos com gemidos de pavor. Palavra de honra, a senhora dona Mia Madre, Mummy para os amigos, estava a ficar excitada como o cacete, para falar brasileiro corrente!
Sentados na última fila, não perturbavam nenhum espectador. Até porque os espectadores eram apenas Dick Hard e Mummy, numa sala obscura de subúrbio de Lisboa.
Mummy fez voar a mini-saia da Mary Quant. Mummy tirou o soutien e mostrou vaidosamente o seu magnífico par de seios amestrados. Mummy empalou-se em Hard sem meiguices. Mummy para cima, Mummy para baixo, Mummy a vir-se como uma vaca malhada em pleno cinema. E o lavagante a despachar gajos na tela, com quem bebe imperiais num final de tarde de Verão.

A transpiração a escorrer pelas costas de Hard, o ar condicionado avariado. E Mummy a vir-se como uma vaca malhada em pleno cinema. E o lavagante a despachar gajos porque sim, porque estava no argumento.
Vinte minutos depois, Mummy despegou-se de Hard, recuperou a roupa e a dignidade, sentou-se no seu lugar, deu um beijinho na testa de Dick e disse:
— Já estou melhor.
No ecrã, The End. Acabou o filme, acabou-se a papa doce. Não há mais terror para ninguém.
— Sabe, Dick, adoro ver filmes de terror. Mas é raro o dia em que consigo ver o filme até ao final. Fico tão excitada! Uma vez fodi um arrumador em plena plateia. Havia umas sete ou oito pessoas a olhar. Ele estava muito comprometido, até deixou rebolar a lanterna pela sala.
— E depois?
— Depois, uma miúda de trancinhas aproveitou para apanhar a lanterna e começou a masturbar-se com ela.
— Também devia excitar-se com filmes de terror.
— Não. Era conhecida de uma amiga minha. Vim a saber por acaso que ela gostou foi de nos ver a foder. Não teve nada a ver com o filme de terror.
— Que era?..
— Já nem me lembro. Acho que era o “Tubarão”.
Dick e Mummy estavam a sair do cinema quando um grupo de quatro homens mal encarados se aproximou e um deles exibiu um crachat a Dick:
— Boa-noite, nós somos da Polícia de Costumes e tivemos uma queixa de que os senhores teriam praticado sexo durante o filme. Confirmam e conformam-se?
— Mas que estado policial, kafkiano, orwelliano e pidesco é este? Já não se pode dar uma stickada em paz, na última fila?
— Meu caro senhor: para sexo existe o lar. O cinema é para ver filmes. E nem quero entrar em considerações de carácter moral. Que tipo de homem é o senhor para se excitar a ver filmes de terror? Eu vim com a minha mulher ver o “The thing” e tive de deixar o filme a meio, que ela se estava a sentir mal.
O diálogo nem estava mau de todo, para variar. Foi aí que Mummy se meteu na conversa:
— Tu tens cara de quem está mesmo a precisar de um bom broche!

(Então, menina Mummy! Por favor! Essa frase era dita em “Good morning, Vietnam”. Olhe o nível, por favor. Se quer ser ordinária, ao menos não plagie)

O agente da Polícia de Costumes não achou piada, mas ainda engoliu.
— A senhora vai manter-se calma, está bem?
— A senhora vai manter-se calma mas é os colhões do Padre Inácio. A senhora ainda te mete mas é o leque pela peida acima, que bem precisada deve estar — disse Mummy, com muito ardor, com muita alma. Era daquelas pessoas com um grande formato corporal e um feitio difícil. E tinha o coração ao pé da boca. Saía-lhe muita coisa sem ela querer. Porque no que toca a entrar ela queria sempre.

(Porra, Luís, trocadilhos obscenos deste nível? Que se lixe! Já não se pode descer mais)

Quando os quatro agentes da Polícia de Costumes desataram à chapada a Mummy, Dick tentou meter-se à frente e foi o que podem imaginar. Acordou na esquadra, umas três horas depois, com Mummy a olhar para ele e a ser fodida à canzana por um toxicodependente que tinha gamado um auto-rádio.
Esfregou os olhos, porque nem queria acreditar.
E ela, descarada, para Dick, com olhar de Dalila a desafiar Sansão:
— O kékefoi, pá? Nunca viste?
Nessa altura, começou a doer tudo a Dick. Sentou-se na cama de metal e ficou a observar. O toxicodependente veio-se, vestiu as calças, sentou-se na cama ao lado de Dick, sorriu (mostrando os dentes cariados) e disse:
— Tá-se bem, man. A tua gaja fode que é uma maravilha. Por acaso não tens nada que se fume?
É o que dá embrulhar-se com mulheres que se excitam a ver filmes de terror.



Auto-publicidade Poético-erótica

domingo, agosto 05, 2007

Contos do Dick Hard - VIII

DICK HARD NA FINAL DA TAÇA UEFA

Desporto-rei? Muito decadente anda o futebol! Onde estão aqueles jogos emocionantes como a final do Mundial de 74? Agora é só gajos a fazerem-se à falta, a mandar-se para a piscina, uma tanga é o que é!
Bem, mas uma final em Portugal é uma final em Portugal. Dick Hard não pudera presenciar no estádio da Luz a final do Euro-2004 (uma vigilância a uma gaja que punha os cornos ao marido com o melhor amigo da melhor amiga do marido), mas agora ia desforrar-se no Legolândia XXI (o nome do estádio não era esse, mas Dick Hard gostava da terminologia que Luís Graça usara no livro “Neura-2004”).
O Sporting despachara os adversários todos e chegava à final com os italianos do Parma. Dick Hard estivera uma vez em Parma, com o Luís Graça, que foi cobrir o Parma—Boavista para o “Correio da Manhã”. O cabrão do jornalista até tinha piada. O Boavista empatou e ele pôs em título: “Panteras não bebem leite”. Percebem? A Parmalat, o leitinho.
Depois, Dick Hard convidou o primo Rick Dart e foram até Torres Novas assistir ao jogo da segunda “mão”, porque o Boavista tinha o Bessa interditado. No final do encontro a sala de Imprensa estava fechada e o Luís Graça pôs-se aos murros na porta. Aquilo fazia um eco enorme e passou um senhor a chamar nomes ao Luís Graça: “Selvagem!Selvagem!”. E o Luís Graça para ele, depois do funcionário vir a correr abrir a porta: “Bem, pelos vistos parece que só os selvagens é que conseguem entrar na sala de Imprensa, para trabalhar”.
Cenas!
Dick Hard não deixara nada ao acaso e desta vez conseguira comprar um bilhetinho jeitoso ainda se estava na fase dos quartos-de-final da Taça UEFA. Fosse quem fosse ao prélio decisivo, Dick Hard queria estar presente num estádio português, numa final de uma competição europeia.
Mas gostava de assistir a tudo numa de calma. Chegou cedo e ficou ao lado da claque do Parma. Ou melhor, ficou ao lado de alguns adeptos do Parma que tinham bilhetes para a bancada central e estavam afastados da claque. Ainda faltava mais de uma hora para começar o jogo. O estádio já estava com muita gente, a vibrar com o clima de festa.
Pode pensar-se que de Parma só vinham homens para assistir à final. Puro engano. A claque do Parma tinha montes de senhoras. Quer dizer, miúdas. Especificando, gajas muita boas na casa dos vintes. Aquilo até dava alma a um morto.

A malta acha que as italianas são morenas, que as suecas são louras e etc e tal. Mas não é bem assim. Aquilo no norte de Itália está repleto de miúdas louras. E que louras, senhores ouvintes! Só no Legolândia estavam umas 500. Ou mais. E dessas 500 umas 350 a 380 eram mesmo muito jeitosinhas. Muito jeitosinhas é a gente a falar. Eram mesmo belas, de se lhes tirar o chapéu. E o resto da roupa, já agora.
Dick Hard estava mesmo numa de fruir o clima de festa e não lhe passava pela cabeça que as jovenzitas do Parma viessem meter conversa com ele:
— Prego, signore, onde é que é a toiletta?
Por acaso até já marchava um prego com mostarda, ou uma sandes de courato, pensou o Dick. Mas não se armou em esperto e indicou a tal toiletta à miúda, que tinha um decote muito adiantado para o adiantado da época, quer dizer, 18 de Maio.
Passada uma meia-hora, a miúda regressou da toiletta e veio outra vez falar com Dick:
— Lei é adepto do Sporting?
Mas qual lei! Ali eram todos europeus, para não armar discussões. Melhor dizendo, latinos. Era um truque que dava para portugueses, franceses, espanhóis e italianos. E com boa vontade ainda se alargava o conceito aos romenos, vampiros incluídos.
Dick lá foi dizendo que gostava era de futebol e tinha muita simpatia por Parma. Porquê? Ora essa, por causa das violetas e das mulheres. Mal disse isto arrependeu-se. Será que a miúda o ia considerar machista?
Qual quê!?! Fartou-se de rir.
Puseram-se a falar e passados uns dez minutos a miúda deu-lhe o mail dela: simona@xupaki.it. Dick pensou que era mau sinal: esta é amiga. Põe-se para aqui a trocar de mail, nada feito. Se quisesse fruta anónima não se punha a dar o mail.
E que pena Dick tinha de pensar assim. A loirinha com cabelo curto era mesmo uma curte. Um sorriso de andar à estalada às estrelas do céu, uma boquinha de lábios que até dava vontade de pintar a óleo. Um decote que deixava adivinhar dois seios nem pequeninos nem grandes. E um rabinho que merecia as mais solenes felicitações e um grande abraço ao presidente da República, se ele quisesse dar-lhe uma cumenda.
Ao intervalo, o Sporting ganhava por 1-0, golo de Liedson. “Liedson resolve”. Pois é, o pior é se o escarumba-salvador resolve ir-se embora no final da época.

Simona não estava nada preocupada. Saiu para a zona dos comes e bebes. Voltou já com a partida a decorrer e um olhar brilhante. Dick mirou-a, divertido, e sorriu. Percebeu que o intervalo tinha metido uma “broquita”, fumada assim a modos que às escondidas, que nem é muito às escondidas. Aquilo era o corredor cheio de italianos a dar-lhe com alma, para ver se era possível virar o resultado no segundo tempo. A “broquita” do intervalo correspondia ao tradicional copo de três português “para o caminho”.
O cachecolinho amarelo-e-azul do Parma ficava-lhe a matar com a cor dos cabelos. E ela aos saltos na bancada central, a acompanhar os cânticos da claque. Ai aquelas maminhas deliciosas aos saltinhos na fila H, como dois melros que a Pide tivesse acabado de soltar, depois de um interrogatório na António Maria Cardoso...
Ai, coração! Aguenta, Dick! O que Hard cura!
Quando o Tello escorregou no relvado e falhou o cruzamento (como uma vez aconteceu ao António Oliveira, com o Dínamo de Zagreb), ninguém pensou que a puta da bola fosse parar dentro da baliza. Mas o Sporting de José Peseiro reserva surpresas ao mais avisado dos sócios. A puta da bola chutada pelo Tello foi embater ruidosamente no carrapito do Rochembach, alterou a trajectória, raspou ao de leve no calcanhar de Beto e ainda beijou ao de leve o poste esquerdo do portero do Parma, antes de entrar, toda lampeira, para o 2-0.
Dick olhou para a Simona, que fez uma expressão de desagrado e depois encolheu os ombros, como quem diz: “Esta já não é nossa”. O diabo da miúda era mesmo querida. Ainda tinha paciência para brincar com a situação. Tirou o cachecol, embrulhou-o e ajeitou as maminhas, com mais um saltinho cómico.
Mas Dick não se riu. Tinha ficado a apreciar seriamente o movimento oscilatório das maminhas.Simona apercebeu-se da expressão de desejo de Dick e segredou-lhe ao ouvido:
— Tenho medo de ir sozinha à toiletta. Queres vir comigo?
Dick não queria acreditar.
— Agora? O jogo está a acabar...
— Agora é que é. Isto já está decidido. Gostava mesmo que viesses comigo.
Saíram. Com licença, com licença, com licença, os adeptos do Sporting a amaldiçoar os parvos que se punham a passar à frente nesta altura da final.
Simona tomou Dick pela mão e pôs-se a correr, emitindo gargalhadinhas. E levou-o para a casa de banho dos homens, entrando de rompante, sem querer saber se era vista.

Por acaso não estava ninguém no horizonte e Simona abriu uma porta do compartimento das retretes.Entraram. Fechou a porta e mandou Dick subir para cima da retrete. Dick ficou um bocado baralhado. Rapidamente passou o efeito da baralhação. Simona olhou para ele com uma expressão meiga, empurrou-o docemente contra a parede e disse:
— Agarra-te bem!
Dick agarrou-se o melhor que pôde, física e psicologicamente. Simona começou a acariciá-lo por cima das calças Wrangler e o Dick mais pequenino imediatamente correspondeu, porque era sócio da Associação de Amizade Lisboa-Parma.
— Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero!
Simona meteu a mão no bolso, tirou um preservativo com as cores do Parma, edição especial comemorativa da final, com sabor a abacate, envolveu o Dickofalo e toma lá e vê se gostas.
É óbvio que Dick gostou. Principalmente porque Simona manteve o sorriso durante todo o acto felatório, vulgo broche.
Quando Dick se aprestava para fechar a braguilha e descer da retrete, uma surpresa apareceu à traição, com um pirilampo azul e uma sirena muito ruidosa. Simona baixou as calças e exibiu uma sarda com o dobro do tamanho daquela que era propriedade do senhor Hard:
— Vá, também queres fazer-me um pompino?
Mas qual pompino! Dick saiu em alta velocidade da casa de banho, não voltou ao seu lugar, não viu entregar a taça ao Sporting e só parou a meio do Campo Grande, numa roulotte, pondo-se a mamar minis de urgência, até lhe passar a pancada.
Lá para as duas da manhã, o primo Rick Dart deu com ele:
— Homem, o que é que tens? Até parece que a filha do Nené te andou a mamar no sardão...



Auto-publicidade Poético-erótica