As mulheres fatais têm lábios que não fazem reféns
De joelhos no soalho
onde um escaravelho
se passeava
ao sabor da indolência
A senhora Arminda abocanhava
com uma competência doce
e feita de meiguices
o falo hirto do senhor João
Cabeça vem, cabeça vai
num carrossel de lábios
língua, gemidos, prazeres
e duas gotas de suor
Quando o senhor João explodiu
em jactos de malte e açúcares
bem nas goelas da senhora Arminda
surpresa e estupendamente indefesa
A sua cabeça bateu com imponente estrondo
na parede onde estava o quadro do menino a chorar
e a sua nuca estoirou como um ovo podre
e o sangue pingou sobre o escarevelho que ia a passar
Há broches assim
Mas são raros
Dick Hard, 28/2/2007
Este poema é dedicado ao escritor Alface, recentemente falecido. Ficaram os livros. Com as suas dedicatórias para mim, dadas na editora Fenda, na Rua de S.Nicolau. E as últimas memórias, com a entrevista televisiva ao Francisco José Viegas. Faltei à sessão da Comunidade de Leitores da Culturgest, coordenada pela Maria João Seixas.
Tive uma pena enorme por ter de faltar. Falou-se do livro “Cá vai Lisboa”, de Alface. Que esteve presente. E foi durante a Comunidade de Leitores que foi acometido pelo AVC que o vitimou.
Afinal, fiquei muito satisfeito por estar no workshop de teatro do D.Maria II, à mesma hora.
O homem morre. O talento fica. Estou certo de que este poema o disporia bem. Por isso, o tom da homenagem, à falta de um “irish funeral” pode muito bem ser este. Com todo o respeito e saudade.
Quem estará a sentir a morte do amigo e do companheiro literário (escreveram livros a duas mãos) é Manuel da Silva Ramos, que editou recentemente “O sol da meia-noite, seguido de outros contos para a juventude” (D. Quixote).
Fui seu aluno (e de Miguel Martins) num curso sobre Literatura Maldita, que aconteceu há uma dezena de anos no Centro Nacional de Cultura, onde estreitámos laços.
Outro dos que sente a morte de Alface é Vasco Santos, editor da Fenda, onde Alface deixou a sua marca. E ainda há meses o Vasco teve a amabilidade de me obsequiar com uma espécie de “Best Of” de Alface, que devorei rapidamente e com um gozo enorme, reservando um cantinho no coração, com lugar cativo para o glorioso subversivo e talentosíssimo escritor Alface.
O Verão passado, o director da revista “Os meus livros”, João Morales, depois de ter lido o meu “Fado, Futebol e Farpas, uma aventura psicadélica”, encontrou um parentesco literário entre os dois. Nunca tinha pensado nisso. Mas senti-me honrado.
Descansa em paz, Alface.
Dias complicados. Manuel Galrinho Bento, Alface e Boaventura Bonzinho, pai do jornalista João Bonzinho. Partilhei com Boaventura Bonzinho muitos quilómetros por essas terras fora, na Volta a Portugal, na Volta ao Alentejo, no GP Correio da Manhã. Muitos dias de ciclismo.
Aos familiares e amigos dos falecidos, os meus sentidos pêsames. Com um grande abraço especial para o João Bonzinho.
onde um escaravelho
se passeava
ao sabor da indolência
A senhora Arminda abocanhava
com uma competência doce
e feita de meiguices
o falo hirto do senhor João
Cabeça vem, cabeça vai
num carrossel de lábios
língua, gemidos, prazeres
e duas gotas de suor
Quando o senhor João explodiu
em jactos de malte e açúcares
bem nas goelas da senhora Arminda
surpresa e estupendamente indefesa
A sua cabeça bateu com imponente estrondo
na parede onde estava o quadro do menino a chorar
e a sua nuca estoirou como um ovo podre
e o sangue pingou sobre o escarevelho que ia a passar
Há broches assim
Mas são raros
Dick Hard, 28/2/2007
Este poema é dedicado ao escritor Alface, recentemente falecido. Ficaram os livros. Com as suas dedicatórias para mim, dadas na editora Fenda, na Rua de S.Nicolau. E as últimas memórias, com a entrevista televisiva ao Francisco José Viegas. Faltei à sessão da Comunidade de Leitores da Culturgest, coordenada pela Maria João Seixas.
Tive uma pena enorme por ter de faltar. Falou-se do livro “Cá vai Lisboa”, de Alface. Que esteve presente. E foi durante a Comunidade de Leitores que foi acometido pelo AVC que o vitimou.
Afinal, fiquei muito satisfeito por estar no workshop de teatro do D.Maria II, à mesma hora.
O homem morre. O talento fica. Estou certo de que este poema o disporia bem. Por isso, o tom da homenagem, à falta de um “irish funeral” pode muito bem ser este. Com todo o respeito e saudade.
Quem estará a sentir a morte do amigo e do companheiro literário (escreveram livros a duas mãos) é Manuel da Silva Ramos, que editou recentemente “O sol da meia-noite, seguido de outros contos para a juventude” (D. Quixote).
Fui seu aluno (e de Miguel Martins) num curso sobre Literatura Maldita, que aconteceu há uma dezena de anos no Centro Nacional de Cultura, onde estreitámos laços.
Outro dos que sente a morte de Alface é Vasco Santos, editor da Fenda, onde Alface deixou a sua marca. E ainda há meses o Vasco teve a amabilidade de me obsequiar com uma espécie de “Best Of” de Alface, que devorei rapidamente e com um gozo enorme, reservando um cantinho no coração, com lugar cativo para o glorioso subversivo e talentosíssimo escritor Alface.
O Verão passado, o director da revista “Os meus livros”, João Morales, depois de ter lido o meu “Fado, Futebol e Farpas, uma aventura psicadélica”, encontrou um parentesco literário entre os dois. Nunca tinha pensado nisso. Mas senti-me honrado.
Descansa em paz, Alface.
Dias complicados. Manuel Galrinho Bento, Alface e Boaventura Bonzinho, pai do jornalista João Bonzinho. Partilhei com Boaventura Bonzinho muitos quilómetros por essas terras fora, na Volta a Portugal, na Volta ao Alentejo, no GP Correio da Manhã. Muitos dias de ciclismo.
Aos familiares e amigos dos falecidos, os meus sentidos pêsames. Com um grande abraço especial para o João Bonzinho.
1 Comentários:
Às 5:53 da manhã , Anónimo disse...
Fiquei ontem a saber por uma colega da Comunidade de Leitores que o Vasco Santos estava ao lado do amigo na altura do AVC.
Alface estava a dialogar com Maria João Seixas, fez um esgar e não respondeu a uma pergunta. Maria João Seixas disse a Vasco Santos: "Vá, pergunta lá tu, que ele não me responde".
Alface já não estava em condições de responder.
Choque enorme para a Maria João e o Vasco, que estavam ao lado dele. Choque enorme para todos os participantes da Comunidade de Leitores.
Sorte minha, que não assisti a uma cena que me iria marcar profundamente.
Alface morreu no seu posto, a falar dos seus livros para uma Comunidade de Leitores. Há algo de poeticamente heróico numa morte assim.
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