Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

sexta-feira, julho 27, 2007

Contos do Dick Hard - V

DICK HARD E O PUTANHEIRO COM CORAÇÃO DE OIRO

Felismino Florindo era um putanheiro com coração de oiro.
Um homem intrinsecamente bom. Perdia-se nas putas, mas a sua vida era muito arrumadinha. Os pais tinham emigrado para o Luxemburgo em busca de uma vida melhor e Felismino muito cedo aprendeu a dar valor ao dinheiro. Aos 14 anos já era uma figura conhecida em Wertzenspiegel, mesmo ao lado de Kondordurex, a olhar as neves sagradas de Flockriefensthal.
Dick Hard conheceu-o na sequência de um caso complicado de partilhas. Felismino não queria fazer nada contra um primo conhecido na família pelas suas vigarices. Mas outro primo acabou por chamar Dick Hard à revelia. Dick fez umas vigilâncias suaves e o primo vigarista acabou por sair de cena.
Felismino ficou muito contente, porque não teve de se zangar com ninguém e convidou Dick Hard para ir às putas luxemburguesas. As pessoas pensam que não há putas no Luxemburgo, mas isso é uma enorme ilusão. Em Trucktruckfakmi existe um bordel de luxo, com piscinas de água estarrecida, saunas pay-per-fuck, ecrã de plasma transatlântico e outras mordomias, só para quem tem muito dinheiro.
Felismino Florindo tinha, porque descobrira maneira de ser o único representante dos esfregões de palha d’aço para o Luxemburgo e os países do Benelux.
— Venha-se aí comigo — disse Florindo para Dick Hard, na altura em que uma negrinha querida, de nome Jacqueline, lhe dava a última lambidela na sarda coberta de leite condensado.
Dick Hard sorriu, mas não estava pronto para o clímax. Ainda tinha muita compota de alperce na sua bisnaga e Olga (uma lituana de olhos azuis e 1 metro e 90 de mulher) insistia em fazer as coisas com todos os éfes e érres, ou seja, com calma, estupidez e descontracção natural.
Felismino Florindo ejaculou generosamente nas fuças de Jacqueline (a linguagem é um pouco crua, mas o nível não pode descer mais, por isso não há nada a perder) e pediu uma Superbroche estupidamente gelada.
— Ó filha, traz-me aí mais uma Superbroche geladinha, como tu sabes. Ó amigo Hard, não vai uma Superbroche geladinha? Nem uma Superbroche Trout? Saiu mesmo agora do rio...

Dick Hard recusou e foi acanzanar uma loirinha ucraniana que usava um top prateado e umas botas Doc Martens, porque tinha deixado os movimentos radicais há pouco tempo. Ainda não se tinha conseguido desviciar de ver “A Laranja Mecânica” mas mordia muito menos nas alturas do sexo oral. Agora já só dava dentadas no namorado, poupando os clientes do “Paraíso das Carnes”.
Felismino Florindo saiu do bordel abraçado a Dick Hard, ao mesmo tempo que passava para as mãos de Jacqueline os documentos do Rolls Rói-se.
— Vai dar-lhe um Rolls Rói-se?
— Vou. A miúda portou-se bem. Era meiguinha.
A generosidade de Felismino Florindo era bem conhecida por todo o Luxemburgo. Foi Felismino Florindo quem salvou a Condessa de Magic-Pussy da falência, com uma revigorante injecção de capitais na sua fábrica de conservas. Sim, Felismino Florindo era um putanheiro de coração de oiro. Fazia o bem sem olhar a quem. Num dia era uma vivenda para uma puta, no outro dia era um emprego para o filho de um amigo, de noite era uma bicicleta BTT para a sobrinha de uma empregada de lupanar.
Diz-se que a Condessa de Magic-Pussy ficou tão agradecida com a generosidade de Felismino Florindo que passou uma tarde inteira a obsequiá-lo com o famoso analingus, beijo negro, botão de rosa, como lhe quiserem chamar.
— Olha, esta é uma actividade muito curiosa. Ó marquesa, não se incomode...deixe estar...não quero que se mace...não dei o dinheiro a pensar numa coisa destas...
— Ó senhor Florindo, é o mínimo que eu posso fazer. É apenas uma atenção...
Como Felismino Florindo deu o Rolls Rói-se num impulso, teve de chamar um rent-a-puta para irem até ao “Le gatô du xuxi”, um restaurante muito na moda, especializado em peixe-crude, fresquinho dos últimos derrames.
— Um rent-a-puta? — perguntou Dick Hard, intrigado, enquanto Felismino Florindo desligava o telemóvel.
— Ai o amigo Hard nunca andou num rent-a-puta? Isto não tem nada que saber. Um rent-a-puta é um táxi que vem com uma puta. A gente aluga por um período mínimo de uma hora e se houver algum problema de trânsito sempre estamos entretidos. Os vidros são fumados, por isso ninguém vê o que ela está a fazer. Agora até já há uns novos rent-a-puta que vêm com realizador de vídeo. Filmam o acto em directo e depois dão uma cassette para levar para casa.
— Isso deve ser um dinheirão...
— Ó amigo Hard, não o podemos levar connosco. Já viu o preço a que estão os bilhetes para o futebol? E a porcaria de jogos que há por aí...
“Le gatô du xuxi” estava quase cheio. Era sempre assim à hora do jantar. Mas Felismino Florindo tinha mesa reservada ao mês. Era um recanto acolhedor, um privado finíssimo, tapado por um conjunto de biombos, com aquários à volta, música ambiente regulável por telecomando e uma passagem secreta através da cozinha.
— Ó amigo Hard, eles aqui na tasca têm uma fodinheiras maravilhosas...
— Cozinheiras...
— Não, é mesmo fodinheiras. Não me diga que não sabe o que é. Não há disso em Lisboa? Pois é. Já não vou lá há bastante tempo. Mas esta novidade também é relativamente recente. As fodinheiras são cozinheiras que fodem, dão massagens e fazem mais umas coisas, à mesa, enquanto a malta come. Há de vários países, mas as melhores são as fodinheiras-samurai. Você manda vir um rodízio-xuxi, por exemplo, depois de uma entrada de rodavalho-vai-tu, e elas cortam o peixe em fatias fininhas, com golpes à Lin Chung. Aquilo parece patinagem artística, misturada com filmes do Bruce Lee.
Dick Hard pediu iscas de javali do rio, com puré de enguias, para entrada. Depois, para “pièce de resistência” encomendou o Salmão-punheta. Gostou do nome.
Minutos depois, apareceu um salmão belamente confeccionado. Mal a menina-samurai pousou o prato, Dick Hard sentiu a braguilha a abrir-se e as mãos delicadas de Miss Akiko a peregrinarem-lhe uma virilidade cada vez mais evidente.
— O que é isto?
— Então, você não pediu o Salmão-punheta?
— Pensei que era uma mistura de Salmão com punhetas de bacalhau...
— Qual quê?!? Você tem é imaginação. Salmão-punheta...estava-se mesmo a vir o que era...

Depois do Salmão-punheta, Felismino Florindo tomou a liberdade de encomendar uma pratinho de ambrósias doiradas, como sobremesa. As ambrósias doiradas eram servidas em cima de um grande tabuleiro, transportado por latagões de ginásio. Três de cada lado. Em cima do tabuleiro, três ambrósias. As ambrósias doiradas eram senhoras trintonas, muito finas, com vestidos amarelos, chapéu a condizer e motorista à porta. Vinham a comer Ferrero Rocher. Desciam do tabuleiro e começavam a lamber as coisitas do pessoal. E o chocolate ia-se misturando com as coisitas do pessoal e era uma sensação muito agradável.
Foi pena o primo vigarista ter aparecido nessa altura, de revólver em punho, aos gritos pelo privado:
— Felismino, filho dum cabrão, a tua vida acaba aqui!
Dick Hard conseguiu tirar o seu derringer da algibeira e enfiou-lhe um mini-tiro nos cornos que o fez tombar anti-delicadamente sobre a travessa de bolinhos de Shogun. Mas a dentada que levou, quando a fodinheira se assustou, é que já ninguém lhe tirava...
— Ó amigo Hard, esta é que não estava no programa. Olhe, vou-lhe dar um Lotus novo. Aquele cor-de-rosa que tem já está um bocado batido...
— Ó senhor Florindo, deixe lá isso... telefone mas é para a Polícia e para as ambulâncias...




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