Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

domingo, setembro 30, 2007

Contos avulsos - VII

A QUESTÃO NÃO É ESSA

A questão não é essa. Posso perfeitamente torturar um ser humano sem que nada me aconteça. Por isso não me venham perguntar o porquê da coisa. Nem tudo precisa de ser racionalmente justificado. O facto é que gosto de torturar. Porquê? A questão não é essa, já disse.
Temos assim como perfeitamente natural o cenário deste Domingo de manhã, chuvoso, cinzento, frio por dentro e por fora. A chuva bate na janela em duetos de vento, embalando sinfonias de folhas que se desprendem das árvores em dissidências militantes de um Outono travestido de Inverno pró-siberiano.
O meu saguão é mais amplo que um saguão normal. Mozart toca na aparelhagem. No chão, um pequeno fio de sangue intriga consideravelmente uma barata, bastante indecisa quanto ao rumo a tomar. Vermelho e preto, preto e vermelho. Lembrei-me de Stendhal. As voltas que esta cabeça não dá...
Estou desconcentrado. Nem torturo como deve ser. As pessoas merecem ser torturadas com profissionalismo.Não é preciso ter estado ao serviço de Henrique VIII para se ser um bom profissional. Mesmo para quem tortura por mero prazer, como eu.Desculpem, ainda não fui ao cerne da questão e ando para aqui às voltas. A torturar também sou assim.
Temos então uma jovem de 23 anos, solidamente amarrada por cordas de nylon a uma cadeira. Está aqui no saguão desde ontem à noite. Hoje não dormi. Passei pelas trevas a ouvir a chuva e Mozart.Com pedacinhos de tortura nos iogurtes que fui comendo.
Chama-se Maria Teresa, mas passei a noite a tratá-la por Teresinha. Corpo apetitoso. Aliás, se assim não fosse, que motivo me levaria a torturá-la ? O prazer advém da degradação dos corpos belos, o que já é uma explicação para as minhas actividades. A questão não é essa.Já vos tinha avisado.
O medo salienta-lhe a beleza dos olhos verde-acinzentados. Ainda tem lágrimas por chorar, depois de uma noite de tortura. O corpo humano sempre me intrigou. Apanhei-a a passear um caniche no jardim. Estrafeguei o cão sem grandes problemas, junto ao escorrega. Tossiu um bocado. Parecia engasgado. A chuva não convida a sair à rua e não havia vivalma. Convencia-a de que o cão tinha desmaiado de repente e trouxe-a para casa, a pretexto de telefonar a um veterinário ou de levar o cão no meu carro. Jaz na minha banheira, rodeado de formigas. A banheira tinha um bocado de doce de morango. Gosto de comer torradinhas com doce e ler BD na banheira, com música jazz em fundo.
Dei-lhe um mata-coelhos na nuca, mal ela entrou em casa. Caiu redonda. Acordou nua da cintura para baixo, só com os sapatos de salto alto. Inicialmente, o olhar foi de espanto.
Como gosto de intrigar, comecei por lhe dar prazer às doze badaladas da meia-noite. Ela não se transformou em abóbora. Fui insinuando a minha língua por entre as suas pernas. Precisei de vários compassos arraçados entre o prazer e o medo para a conseguir descontrair, ao ponto de lhe ter provocado um orgasmo dez minutos depois.
A seguir, fui cortando o pullover às postas. Riscando de dor o seu torso, dando autógrafos de bisturi nos seios. Gosto de estiletes. Sempre gostei. Lembram-me as cidades italianas do Renascimento,com os seus "condottieri" sempre prontos a despachar os incautos numa zona mais escura de Veneza ou Florença.
O sangue foi escorrendo de mansinho até tingir de púrpura o seu púbis de pombinha indefesa. A ideia trouxe-me outros planos. Fui comprar maçarocas. Agora tenho uma enfiada no seu belo ânus e outra atracada na sua fenda vaginal. Já nem sei se teve prazer. A do ânus provocou-lhe dor. Disso estou certo, porque as lágrimas escorreram-lhe com mais força e o sangue subiu-lhe à cabeça. Tive de deitar a cadeira, para poder introduzir a maçaroca.
Agora são dez da manhã e o sol não rompeu.
Por isso, rompi eu o soutien, que ainda estava amarrado à cintura, já bastante tinto de sangue, embora não empapado. Um soutien normal, nada de particularmente apelativo, ao contrário dos seus seios bem desenhados.
Já gastei os Marlboro quase todos. Ela tem aí umas quinze marcas de cigarro no corpo. Ah! esqueci-me de vos dizer que ela não pode gritar porque tem as cuecas na boca, presas com fita adesiva. Sendo mais específico: gritar ela até grita, mas o som não sai. Fica abafado. Devo explicitar: "acuecado".
Os cabelos são pretos, sedosos, compridos. Tem franjinha egípcia à frente, deixa cair em anfiteatro até ao princípio das costas. É muito bela. Há duas horas fui buscar o caniche cheio de formigas e abri-lhe um buraco no estômago. Deixei o cão pingar um pouco para cima dela. Caíram três ou quatro formigas. Uma delas pôs-se a cirandar de um lado para o outro da maçaroca e acabou por entrar no túnel. Os olhos dela encheram-se de um pânico profundo. Do mais profundo que eu vira nas últimas horas. Por fim, a formiga saiu. Ela pareceu aliviada. Foi o que a perdeu.
Fui buscar doce de morango à cozinha. Retirei a maçaroca.Abri-lhe amplamente a vagina. Besuntei com doce de morango. Ela deve ter percebido a intenção, porque tentou guinchar bastante.Com jeitinho, trouxe dez ou quinze formigas da banheira. Pareciam trapezistas de circo, entretidas a passear no púbis como artistas sem rede, entrando no túnel como funcionários do Metropolitano.
Por fim, chateei-me.Usei um silenciador e dei-lhe um tiro na nuca. É quase meio-dia. Talvez vá à missa. Claro que não se trata de pedir perdão. A questão não é essa. Gosto de ver reunida tanta gente com medo da morte. Faz-me sentir Deus.


FIM

6 Comentários:

  • Às 11:00 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

    Luis.... acho que após tanto tempo, tenho mesmo de comentar este teu post:
    - Balha-me Deuzzzzzzzz!!!!!!!!!

    Amen

     
  • Às 11:01 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

    Sorry man... saíu anónimo... vá-se lá saber pukê... :-)


    - Balha-me Deuzzzz!!!!!!!!

     
  • Às 3:16 da tarde , Blogger antónio m p disse...

    Meu caro Luis de Sade, venho pedir-te um poco desse doce (desse doce?) de morango se ainda te sobrou algum. E "já agora", também me podes mandar a miúda se também te sobrou algum bocado, pois sem ela não sei o que fazer com o doce (não digas!). Gostei do remate (climax, orgasmo)do texto. Nisto como no futebol o que importa é saber como acaba.
    amp

     
  • Às 1:34 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

    Meus caros Rui e António:

    Isto foi o que se arranjou para "queimar tempo" e o empate já convém, em termos blogueiros.
    Ou seja, fomos desencantar o texto ao frigorífico dos contos e deixámo-lo à amável equipa postadora, mesmo sem revisão prévia.

    A minha falta de autonomia impede-me de postar como deve ser.

    E o cansaço é muito. Reparem que andei em "tournée": um dia Lisboa/Porto. Dormida no Porto e ida até Casa das Eiras, Vilar, Boticas, para "Os Dias da Criação".
    Fim-de-semana transmontano.

    Depois, logo no domingo, percurso Boticas/Porto, para deixar um amigo participante. E Porto/Baiona, com mais dois amigos de Ponferrada.

    Dormida em Baiona (com magnífico passeio nocturno solitário) e ida até Ponferrada.
    Dia e meio em Ponferrada e regresso a Vigo de autobus.
    No dia seguinte, Vigo/Porto (bus) e Porto-Lisboa (comboio).

    Dormida e sprint rápido até Beja, sexta-feira passada, no carro do Rui Unas, meu co-declamador. Foi chegar às 21h30m, comer ovos mexidos com espargos e carne alentejana e entrar no palco do Pax Julia, para 25 minutos do "De boas erecções está o Inferno cheio", com a honra do acompanhamento do João Cataluna (Adiafa), ao acórdeão.

    Dois dias em Beja e regresso ontem à tarde.

    Em casa, o elevador continua em reparação, o esquentador está avariado e os problemas vão aparecendo.

    O que vai desaparecendo é o dinheiro.

    Mal possa, farei um post (ou mais) com "Dick Hard Cultural Tour, Outono/2007".

    Mas não prometo nada em termos temporais. Em última análise, mais uns contos.

    Este que saiu por último já tem uns anos valentes. Pode ser considerado na onda do "Beleza em cubos de gelo" (que saiu no fanzine/revista 'Azul BD Três', com ilustração de João Mendonça), no princípio dos anos 90.

    E era, sem eu o saber, já um pequeno esboço da definição de personagem para a peça "Meia-dúzia de maldades", com que ganhei o 3º prémio do Inatel, em 2000. E uma das cenas foi traduzida para espanhol com o título "O sótão das torturas". Acho que muita da culpa deste universo é do Brett Easton Ellis, com o "Psicopata Americano", que li lá para 97 ou 98.

    Mas tenho promessas de fotos do Salão de Barcelona, que começa amanhã. Por isso, é provável que haja "bonecada" à maneira muito brevemente. Porquê? Porque só o fotógrafo é que lá está, os "bonecos" passarão para a minha equipa postadora e os textos serão curtos, porque eu não estou lá.

    Hoje, para já, ida à SPA e IGAC, registar uns projectos (surpresas! surpresas!) e Tertúlia BD de Lisboa, à noite.

    Grande abraço para vocês.

     
  • Às 11:20 da manhã , Blogger Capitão-Mor disse...

    Estou de volta ao Forte dos trópicos! Já me passou a birra! LOL

     
  • Às 5:33 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

    Meu caro Capitão-Mor:
    Não tenho mesmo andado por blogues, por isso estou completamente off-side.

    Muita coisa para fazer, entre elas um port-folio deste "Volta a Portugal em Salões Eróticos", com post enviado de casa de um amigo, há uma hora.

    Ideia recente, embora germinasse já no meu espírito durante o Sexy 2007, em Portimão. E nem tem havido disponibilidade (minha e dos meus amigos) para continuar com os episódios do Salão de Portimão. Que ainda tem muitas fotos e reportagens para dar. Só não se sabe quando.

    Agora tenho de me dedicar aos últimos retoques no "Dick Hard, Detective Privado, Azares e Agruras, Lda", já integralmente publicado aqui no Ganda Ordinarice, embora não pela ordem com que vai sair em livro.
    Impressão digital, 100 exemplares, praticamente sem ofertas a ninguém.

    Para recuperar rapidamente o dinheiro investido.

    Hoje voltou a haver elevador no prédio, voltei a ter esquentador com água quente em minha casa e registei o livro na SPA e no IGAC. Concluí o dia com uma vitória do Sporting em Kiev e com uma snookerada (por acaso aqui perdi três jogos e ganhei um) no Snooker Clube.

    Foi bom!

    Espero que os ventos soprem de feição por essas bandas.

    Grande abraço.

     

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