Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Contos do Dick Hard - XI

DICK HARD E A AVENTURA EDITORIAL


— Sabe, senhor Hard, dificilmente a escrita pode ser considerada como uma carreira, em Portugal. É mais uma aventura, um “hobby”, um devaneio, um pássaro que esvoaça numa floresta da Finlândia.
— Porquê da Finlândia?
— Porque é um país que fornece muito papel para impressão. Isso e broche.
— Perdão?!?
— Nunca ouviu falar do broche finlandês?
— O que é isso?
— Não sei, mas deve ser bom, porque é muito famoso.

A conversa decorria animada entre o aspirante a escritor Dick Hard e o editor Lobato Bulhosa Mattos y Rodriguez, da “Ilusões Óptimas Editora”.
Metera-se na carola de Dick que ser escritor era uma boa. Gajas, vernissagens e copos. Não necessariamente por esta ordem.
Mas o que sabe um miserável detective do nobre mister da escrevinhação? Pouco. Sabe apenas um cochinho, é o que é.

— Sabe, senhor Hard, editar um livro chamado “Esporra-te agora no meu peito, amor” tem custos.
— Bem, eu sei que a crise...
— Não percebeu, senhor Hard. Tem custos em termos de imagem, prestígio.
— Então e se fôr “Ejacula temporariamente no meu busto, amor”?
— Isso não é título, senhor Hard.
— Trate-me por Dick, caralho!
— Está bem. Pois é, senhor Dick Caralho, compreendo e respeito os seus anseios literários, mas a vida está difícil para todos.

A vida estava difícil para todos, desde os chulos mais ordinários até ao político mais empertigado. Ou vício e verso.

— Sabe, senhor Dick Caralho...
— Só Dick, só Dick...
— Sabe, senhor Só Dick-Só Dick, o meu conselho é de que escreva algo na área em que se move, ou seja, na área da investigação. Porquê atirar-se logo a um romance de cavalaria, passado em Roncesvalles, com 23 personagens?

— Alembrou-se-me...
— Pois é, pois é, os autores vêm para aqui com montes de ideias, senhor Só Dick-Só Dick, mas depois é que são elas...
— Quem, as da literatura Light?
— O quê? Não estou a perceber...
— Disse “depois é que são elas”. Presumo que “elas” são as escritoras Light...
— Nada disso. Lights só conheço o SG. Senhor Só Dick-Só Dick, não há literatura Light, tão certo como o Heavy Metal ser uma mistificação. Tal como há boa e má música, há boa e má literatura.
Olhe, antes de mais, peço-lhe que passe para a nossa sala de “Projectos Embrionários Literários”. Vai conhecer a nossa “publisher”. É a Valentina Vitorina. É um primeiro passo. Ela diz-lhe tudo o que vai ser preciso. Depois voltamos a falar, está bem, senhor Só Dick-Só Dick ?
— Bem... eu...
— Então até já.

E dito isto, Lobato Bulhosa Mattos y Rodriguez levantou-se com um impulso marado e saiu da sala à desfilada. Ainda Dick Hard estava a pensar o que havia de pensar de tudo isto quando uma chavala de metro e 80 e cabelo roxo lhe disse:
— Boa tarde, cavalheiro. Queira fazer o obséquio de me acompanhar à sala da Dra. Valentina Vitorina.
Dick Hard acompanhou a miúda até à sala de Valentina Vitorina.
Entrou numa sala com paredes verdes e tapeçarias roxas, com fotos do Torneio de Wimbledon em cima de uma mesa enorme de mogno das Maldivas.
A Dra. Valentina Vitorina era uma mulheraça de 1 metro e 75 (mais centímetro, menos centímetro), com seios renascentistas (um wonderbra também ajuda, olá se ajuda), um penteado bastante pontiagudo Outono/Inferno e uns sapatos de matar baratas aos cantos das portas, com vista para Paris, 17º quarteirão e também queria levar uma baguette, ó fáchavor.
— Olá, o meu nome é Dra. Valentina Vitorina, mas vamos deixar-nos de formalismos. Trate-me apenas por Dótora.
— Muito bem, Dótora. Trate-me por Dick, apenas.
— Muito bem, Dick Apenas. Então, segundo se consta aqui na “Ilusões”, o meu amigo quer ser escritor de sucesso...
— Se fosse possível...
— Claro que é. A Literatura não é nenhuma ciência, muito menos uma arte. Hoje em dia, e à noite também, obviamente que obviamente essencialmente, de madrugada coisa e tal de igual modo. Hoje em dia, como dizia, a Literatura só não é uma receita para quem não faz parte da nossa seita.
Em primeiro lugar, o Dick Apenas tem de ser conhecido...
— Apenas tenho de ser conhecido?..
— Exactamente. Apenas tem de ser conhecido, que é como quem diz, promovido. O que está no livro não interessa. Se fôr conhecido, vende. O que faz falta é promover a malta. Eles comem tudo, eles lêem tudo e não deixam nada. Ou melhor, não digerem nada.
Veja, é “Harry Potter” ou “Larry Putas”, é “Código D’Avintes”, é “Os Três a Caminho da Virgindade”, é “A Anita Não é Bonita mas acredita que um broche se faz”...livros, papéis pintados com tinta, como dizia Camões...
— Fernando Pessoa...
— Pois, não interessa. Mais século menos século...de qualquer forma, qualquer dia ninguém se lembra deles. Também não lembra ao diabo fazer um livro com dez cantos...
— Dótora, eu nem sei bem o que estou a fazer aqui consigo...
— Calma, Dick Apenas. Eu sou a sua “publisher”. Eu é que sei tudo. Antes de mais, preciso que me faça um minete, para avaliar os seus conhecimentos linguísticos.
— Mas...
— Não há mas nem meio mas. É língua na cona e prego a fundo! Como é que pensa que a Marilyn chegou ao estrelato? Com amortecedores Monroe?
— Foi ao minete?
— Ao minete não foi, mas ao broche de certezinha, pela alma da minha mãezinha. Vá, atire-se aqui à felpudinha da Dótora e dê-me o seu melhor.

Dick Hard desconfiou que lhe estavam a tentar extorquir um minete à traição, mas assim cona assim não havia nada a perder, por isso era de lamber. Prà frente é que é a coninha. Antes isso que levar no cu em Caminha!

— Issooo, isssooo, assim, assim, lamba com alma, Dick Apenas, com alma...e menos cuspo, se não se importa...quero sentir a pontinha da sua língua a trabalhar-me, o cuspo é para as colecções de cromos e os selos do correio...

Cerca de trinta minutos depois, maxilares doridos e língua um bocado entaramelada, Valentina Vitorina deu ordem de soltura a Dick Hard.

— Bem, Dick Apenas, agora que estes pró-formas burocráticos já estão despachados, venha daí comigo à sala da Dótora Inocência Ifigénia. Se a Dótora lhe pedir minete, você não faça. Aqui na “Ilusões”, minetes é só comigo. Elas têm a mania de explorar os escritores, mas você não vá na cona delas. Têm muita lábia, mas depois fica tudo em mágoas de bacalhau. Quanto mais cedo conhecer as conas à casa, melhor. Minete é comigo.

A dótora Inocência Ifigénia não era boazona, mas sabia disfarçar. Mal Valentina Vitorina fechou a porta da sala, Inocência Ifigénia disse para Dick Hard, com um sorriso traquina:
— Abra a braguilha e feche os olhos!
Dick Hard não estava muito inclinado para um número desses. Sabia lá se a Ifigénia era gaja para lhe zurzir com um corta-relvas na sarda! Abriu a braguilha, fechou o olhou direito e ficou a espreitar com o esquerdo, assim à malandro não estrilha, muda de esquina.
Mas afinal não havia truque. A Inocência puxou a cadeira de rodinhas para o pé de Dick e tratou de mamar no Little Dick, que ficou rapidamente em pé:

— Atenção, Little Dick! Apresentar armas! Não mexe nem que passe uma manada de elefantes a ler “Memórias do Cu de Judas”.

(Isto aqui é uma voz imaginária, para vocêses imaginarem, não foi ninguém que arrotou esta posta de pescada número 5, para empatar com o Chanel)

Ora bem, a “Ilusões Óptimas” já se estava a parecer com uma editora a sério. A dótora número 2 sabia o que chupava e passados 7 minutos (Dick não aguentou mais) aspergia com dignidade laríngica o líquido preciosamente vital de Hard lá com ele.

— Pois bem, senhor...
— Hard, Dick Hard...
— Pois muito bem, senhor Ardicard, agora que já percebi qual é o seu gosto, podemos estabelecer um plano de penetração do mercado.
— Acho muito bem.
— Ora ainda bem que em português nos entendemos. Ó Gertrúria Gertrudes, traga o material de aprofundamento inventarial!
(disse a dótora pelo intercomunicador)

Mau, que raio era isso?
A Ifigénia desligou o intercomunicador e passados uns cinco minutos entrou uma chavala na sala, com um dildo rosa muita grande. Dick Hard ainda pensou que fosse para consumo da casa, já que era um artigo exposto à curiosidade da globalização, mas está quieto ó meu. Isso é que era naice com Chuépes Laranja sem borbulhas.
Quando deu por ele, Dick tinha levado com uma estalada na sua apetência para o prazer. A puta da Gertrudes deu-lhe um murro de Berlim que o fez desmaiar em stereo e acordou sem calças, com o dildo rosa a entrar e a sair do pacote, já muito alargadinho da Silva.
E como Dick começasse a gritar “ó da Guarda, ó da Covilhã, ó de Gouveia”, a dótora Ifigénia teve de o acalmar com um carolo:

— Então, senhor Ardicard. Tem de ter paciência. Um escritor tem de saber sofrer, isto é todo um percurso. Temos de avaliar de que é feito o seu carácter. Ou pensava que isto de escrever um livro era um mero exercício literário de talento, perseverança e alguma ética?
Não seja ingénuo, por amor de Baco. Isto aqui é uma editora séria. Não há um único escritor que nos tenha caído nas manápulas que não tenha atravessado com um esgar de esforço uma “geme session”. Ninguém vai a lado nenhum no Olimpo da escrita sem uma recruta literária.
Mas é para o seu bem, meu bem. Não me vai levar a mal, pois não, seu garanhão?

Quando saiu, Dick tinha um andar novo e não era na Reboleira do “Pois, pois, J. Pimenta”. Ser escritor em Portugal é como levar com um tarolo pela bilha acima.
As subtilezas entre o simbolismo e a mais aguda dor física não passam de um pequeno carioca de limão numa esplanada da moda.
Perceberam ou querem queijo parmesano e óregãos?



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