Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

domingo, janeiro 28, 2007

Insónia Bocagiana

Estou in
quando in na Sónia
insónia

Sem sono
sem dono
bem como a Sónia

O sonho da Sónia
é pecado, é sin
quando eu estou in

Possui-me possessa
em posse de boss
com pose de ócio

Eu in na Sónia
eu out da Sónia
vai-vém cerimónia

Insónia
a Sónia sem sono
que me dá seu cono

A Sónia lasciva
espraiada na areia
da Ilha Maldiva

Abre-se ao amor
cede-me o seu túnel
buraco d'ozono


Dick Hard


Este poema foi escrito em pleno voo Bolonha-Lisboa, num regresso de uma semana de férias em Riccione, em Julho de 1995. A partir dos sonetos "Insónia", de Bocage, construí este meu "Insónia".



















INSÓNIA
(soneto V)

Já sobre o coche de ébano estrelado
Deu meio giro a noite escura e feia;
Que profundo silêncio me rodeia
Neste deserto bosque, à luz vedado!

Já entre as folhas Zéfiro abafado,
o Tejo adormeceu na lisa areia;
Nem o mavioso rouxinol gorjeia,
Nem pia o mocho, às trevas costumado:

Só eu velo, só eu, pedindo à sorte
Que o fio, com que está minh'alma presa
À vil matéria lânguida, me corte:

Consola-me este horror, esta tristeza:
Porque a meus olhos se afigura a morte
No silêncio total da Natureza


INSÓNIA
(soneto L)

Oh retrato da morte, oh Noite amiga
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fanstasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.

In "Bocage, Antologia Poética, Ulisseia, Biblioteca Ulisseia de Autores
Portugueses".

Pequena Aguarela Draculiana

DEDICADA A BRAM STOKER
COM PARAGEM EM O'NEILL
E APEADEIRO EM MELLO E CASTRO




Esta noite vou dormir comigo
acasulado num caixão
semeado num castelo transilvanês
arrendado por Drácula a láctea virgem doirada

Os meus fantasmas
emigraram com minha ex-mulher
presumo ter vomitado todos num relâmpago
em que o vodka me deu a volta ao fígado

Cortejar uma donzela
é ser corsário dum corpo
é esquartejar na alma
as Caraíbas do mito

Não quero mais
sobro-me em excessos de mim
nas volúpias que ela teceu
em teias de Penélope

Minha Ítaca é agora este caixão
minha música é o ribombar dos lobos sós
a uivar à lua em desgarradas sadias
como quem ganhou Deus ao totoloto

Tinha dentes de fome e crueldade
são como farpas apontadas em alvo às tuas pétalas
disfarçadas de seios com mamilos d'atalaia
em quartos de sentinela cravados no desejo

Por volta da meia-noite
mais morte menos morte
mais jugular menos jugular
mais sangue menos sangue

Por volta da meia-noite
dizia
quando baterem rigorosas doze badaladas em cio
ao soar do gongo nas muralhas da China do meu cérebro

Por volta da meia-noite
ela vai bailar envolta em olheiras de Mirandela
e todos os delfins de Prometeu
vão rodopiar excelsos e sorver o seu suor

Com a língua pendurada nas axilas
vão lamber os sovacos da donzela
cheirar os cabelos que olfactivamente são neutrais
mas revelam ainda restos de Pantene em segunda mão

Esta noite vou dormir comigo
quando o baile findar
por volta do nascer do sol
quando o raio dos raios acordarem com as galinhas

Haverá vampirinhos a adormecer nos túmulos
clautros e criptas alugados a preços de ocasião
dobradiças a ranger mognos que se fecham
vernizes de caixões a estalar

Mas não só, nem por sombras
haverá muito mais e o mais que haverá
ficará dependurado nas janelas como nos estendais
dos filmes de Beatriz Costa e Vasco Santana

Haverá poemas empalados em postes ensebados
mandados vir de propósito
das mais longínquas aldeias de Trás-os-Montes
geminadas com as mais próximas cidades da Roménia

Cluj não é Bucareste
a Serra dos Candeeiros, contudo
tem umas luzinhas que parecem os Cárpatos
quando piscam árvores de Natal a 24

Esta noite vou dormir comigo
a pança cheia de bandulhos ARH+
aquele sabor de hemorragia nasal acidental
aquele muco viscoso da cor do Benfica

Antes de dormir
rezarei orações a Satanás
terei pensamentos piedosos
para Torquemada e seus sequazes

Lá fora a tempestade não amainará
os trovões serão espelhos de nostalgia estereofónica
o céu cortado e recortado em raios e coriscos
coretos e coristas do Parque Mayer

Pode ser que esta noite não durma comigo
acasulado num caixão
semeado num castelo transilvanês
arrendado por Drácula a láctea virgem doirada

Pode ser que os meus fantasmas
não tenham emigrado com minha ex-mulher
ou até que eu nem tenha vomitado todos num relâmpago
por o vodka me ter dado a volta ao fígado

A ser assim
e só Deus e o Demónio sabem como são as coisas
a ser assim
tudo girará à velocidade de um corcel louco por pipocas

E já não dormirei comigo
mas contigo
minha puta em frenesim de luas cheias
minha vaca de Kreutzfeld-Jakobs

É louca a tua carne?
É rouca a tua boca?
É pouca a tua sede?
É tanta a tua fome?

Possui!
Devora!
Chama-me vampiro!
Desflora!


Dick Hard




Um dos vários poemas que acabou excluído do livro 'De boas erecções está o Inferno cheio' por motivos de espaço. Foi publicado no número um do jornal literário "Artes e Artes" e declamado na Casa Fernando Pessoa, num encontro poético luso-espanhol.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Editorial V

Pingue-pongue? Mas isto é um programa de rádio ou estamos a brincar ou o que é isto? E rebéubéu pardais ao ninho. Quem cá está é que está bem e quem não está é que não está...


Então que pouca vergonha é esta? Um blogue sobre sexo começou a desvairar e pôs o Unas a declamar poemas do Dick Hard. Bem, isso ainda é o menos. Sempre era uma coisa seriamente ordinária. Mas agora deu a louca no Luís Graça e o man acha que um blogue sobre sexo pode ter reportagens de pingue-pongue.
Ai que a gente zanga-se! Pingue-pongue é o que ele joga no Inatel. O Portugal—França foi ténis de mesa de alto nível.
E até o Luís Graça transpirou nas bancadas, de mangas arregaçadas a tirar apontamentos para o “Diário Desportivo”, o novo diário gratuito que anda por aí na rua e é só gamar legalmente, que não se paga nada.
Depois, Impulse Number 7, telefona-se aos amigos da Ganda Ordinarice, marca-se uns copos com jantar e toma lá fresquinho.
--- Mas tu não preferes fazer um blogue só com ténis de mesa?
--- Isso é que era bom. Venham de lá os gajos que gostam de gajas e provem do ténis de mesa. E os gajos que gostam do ténis de mesa venham de lá espreitar o Ganda Ordinarice e descubram as gajas.
Seja como fôr, ainda arranjei maneira de falar da Emanuelle Sylvia Kristel e da Edwige Fenech a propósito de ténis de mesa. Não acreditam?
Abram a reportagem, por favor!
A partir daqui, este blogue é um Cabo das Tormentas, um Bojador do Acém, um Cabo da Boa Esperança da Subversão.
Vale tudo.
Tomem lá fresquinho.

Links:
http://nucleovalongotenisdemesa.blogspot.com/
http://www.marcosfreitas.net/pt/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1&limit=6&limitstart=96
http://www.ittf.com/
http://www.fptm.pt
http://atml.com.sapo.pt/
http://www.patachotenisdemesa.com/e%5Fpat/store/comersus_index.asp
http://www.tenisdemesa.com.pt/
http://www.geocities.com/Colosseum/Field/9132/

Vai um chouricinho?




Por acaso, gosto bastante de chouriço. Quando o meu avô Ayres Nunes chegava a casa com os petiscos, o momento era de particular veneração.
Velho lobo do mar, comandante da Marinha Mercante que não sabia nadar, era dado aos prazeres da mesa (como o pessoal do ténis de mesa) e do convívio.
Trazia para casa punhetas de bacalhau, caranguejos (que soltou no chão da cozinha, produzindo um curioso sapateado que deixou a empregada histérica e o cão aos saltinhos pelo meio dos simpáticos sapateadores), ostras, conservas e...o chouricinho.
Depois, era colocar o chouricinho no espeto, num recipiente especial, uma taça que tinha rodinhas e tudo. Embebia-se um algodão em álcool, largava-se o fogo e punha-se o chouriço a rodar, enquanto a chama azul me fascinava e o agradável odor do chouriço me ascendia pelas fossas nasais numa espécie de transe.
MAS ISTO VEM A PROPÓSITO DE QUÊ, POR AMOR DE DEUS!?!
Vem a propósito dos “chouriços” no ténis de mesa, géneros alimentares muito apreciados pelos mesa-tenistas que deles usufruem e particularmente odiados pelas vítimas.
É de bom tom e de boa educação pedir desculpa quando se “mete um chouriço” e não é considerado nada hipócrita o facto de o jogador chouriçador pedir desculpa com uma expressão culpada, apesar do seu coração estar a bater palminhas de contente dentro do peito.
O francês Damien Eloi proferiu alguns “Pardon” cheios de polidez. Há quem prefira levantar a mão e ficar em silêncio, gesto igualmente revelador de boa educação. É mais o estilo do Tiago Apolónia, um moço discreto.
Neste Portugal—França não houve muitos “chouriços”, para um encontro de duas horas e meias. Contam-se mesmo pelos dedos das duas “mãos”.
Mas há “chouriços” que deixam uma pessoa a pensar na vida.
Último jogo do Portugal—França. João Pedro Monteiro defronta Patrick Chila. É trucidado nos dois primeiros “sets”. Entra mal no terceiro. Recupera de 2-6 para 7-9. Depois empata a contenda nos serviços de Chila. A sala de Alvalade volta a acreditar. A assistência ao rubro. Monteiro vai servir. Pode reduzir para 1-2. Talvez Chila se enerve e o desgaste físico se possa fazer sentir.
E nessa altura, precisamente nessa altura, Chila “mete um chouriço” do tamanho da Sé de Lisboa. Ó Céus! Ó justos Céus!
Ainda na ressaca do “chouriço”, João Pedro perde o ponto seguinte e acaba-se o Portugal---França.
Porra para o “chouriço”!

Dá-lhe, Diogo! És o bombo da festa!




O menino que já joga como gente grande chama-se Diogo Chen e se calhar não se lembra do “Circo Chen” que havia na sala de ténis de mesa do Sporting quando o seu pai dava verdadeiras aulas de defesa e contra-ataque.
O papá chama-se Chen Shi Chao e era um verdadeiro espectáculo a jogar. Veio para o Sporting em 1987, a ganhar 120 contos dos antigos. Diz-se que o Aguiar de Matos (era o tempo da dinastia Sousa Cintra, lembram-se?) achou que era caro.
Mas o homem lá veio e deu show. O show do Chao.
Ganhou que se fartou em Alvalade e um belo dia emigrou até ao Ginásio do Sul. Agora está de volta a Alvalade, como treinador. E o filho Diogo Chen já põe os adversários de olhos em bico e com sorrisos amarelos. “Esperem aí que já vos dou o arroz Chao-chao. E tchauzinho no marcador”.
O puto sino-português é, além do mais, um reguila da melhor espécie. Desde mini-chavalinho, quando já tinha os cabelos engraçadamente espetados mas ainda não sabia pegar numa raqueta, se é que uma coisa destas se pode dizer de um chinês.
Bem, em Alvalade, o puto foi o bombo da festa. Ele e uns amigos estavam de serviço à tarola, mesmo sem “Oh! when the saints go marching in”. E à falta de melhor, o Diogo agarrou-se a uma garrafa de meio-litro de Água do Luso e lá ia dando a sua martelada.
Mais velho uns anitos, João Apolónia exibia um espampanante cachecol da selecção portuguesa. E o mano mais novo, o Tiago Apolónia, ia dando o melhor de si na mesa. E não foi pouco. Mas ainda assim não foi suficiente.
Outro de cachecol à maneira era Pedro Lopes, que andava pelas primeiras categorias do Inatel e também trabalhou numa loja de Banda Desenhada da Meribérica, ali para a Duque de Ávila, que agora tem trincheiras de guerra por causa das obras do Metro. E também foi jogador do Sporting. Por acaso, também havia outro Pedro Lopes nas bancadas. Um que jogou comigo este ano, na primeira fase. Sentado ao lado do seu amigo Rui Gonçalves, que me aviou por 3-0 e havia de se sagrar campeão do 3º lugar das III Categorias.
O pai do Rui Gonçalves também lá estava. Ao lado do Picado e do Serôdio. Como uma família.


A propósito de famílias. Só Monteiros eram vários: o João Pedro a jogar, o irmão, a mãe e o pai a incentivar. Se formos até aos Apolónias, a coisa ainda é mais numerosa: o Tiago a jogar, o irmão João a incentivar, mais a mãe, o pai e o avô.
Foi você que pediu um Porto Ferreira? Então, pegue lá.
Seu maroto, já bebeu a garrafinha da Jenna Jameson?
(É um post lá mais para os idos do Verão. Procurem a loura do livro ‘Como fazer amor como uma estrela porno’)

Sauna City para o Chila, já!

Monsieur Patrick Chila tem 37 anos, nasceu às 8 horas e 55 minutos do dia 27 de Novembro de 1969, em Ris Orangis.
Tem 1 metro e 80 e pesa...pesa 78 quilos nalguns sítios da Internet e 71 quilos noutros. Depende.
Bem, em Alvalade pareceu bem gordinho. Devido à caloraça da “Sauna City” (a sala do Multiusos de Alvalade) resolveu ficar sem camisola por um bocadinho. E deu para ver o chamado tecido adiposo de alta competição (TAAC).
Pois é. A história é esta: em França mamou dois joguinhos que nem ginjas. E em Portugal mamou mais dois joguinhos. Contas feitas, quatro vitórias frente aos portugueses.
Chamem-lhe El Gordito, chamem, a ver se ele se importa.
E agora, por obséquio, se não vos der muito trabalho, emigrem de armas e bagagens para o You Tube e digam-me se o cavalheiro não joga umas coisas.
Vai-se a ver, ainda era homem para me ganhar no Distrital de Terceiras Categorias do Inatel, jogado na sala do centro de formação da Associação de Ténis de Mesa de Lisboa, com arbitragem de Álvaro Leal.


Patrick Chila vs Damien Eloi 2003.1:




Patrick Chila vs Damien Eloi 2003.2:




Kalinikos KREANGA vs Patrick CHILA:

Quem me acaba o resto?

No final do encontro Portugal---França houve sorteio de bolo-rei pelos espectadores. Ah! não era bolo-rei?
Bem, o que sei é que a malta dos jornais andava nas entrevistas e havia números a saltitar que nem pipocas loucas das salas de cinema do El Corte Inglés.
Havia brindes.
Só a França é que resolveu brindar Portugal com uma derrota.

Ah! goela linda! Seus heróis do mar! Nobre povo!






Agora, fazem favor de se levantar, senhores espectadores, que está na hora de cantar os hinos de Portugal e França.
Primeiro as visitas.
O pessoal todo de pé, bem comportadinho. Toca “A Marselhesa” sem espiga. E agora, o grande “hit” português de Keil do Amaral: o hino nacional. Um, dois, três...falhou! Não há hino para ninguém.
Mais uma tentativa: um, dois, três...silêncio, vamos rir. Olha que parte gaga, que cinema mudo. E sem António Lopes Ribeiro.
“Diga boa-noite a estes senhores, ó Melo”.
“Boa nôte”.
Bem, teve mesmo de ser à goela. E já vi o pessoal desafinar mais, pela Luz, por Alvalade, pelo Restelo, por esses Jamores desconhecidos que esperam por nós.
Pois é. Pingue-pongues do imprevisto. Pingue-pongue não. Ténis de Mesa. Vamos a dobrar a língua.
E também aconteceu nos idos de 1985, no autódromo do Estoril. Antes do GP de Fórmula Um que havia de ser marcado pela primeira vitória de Ayrton Senna da Silva na Fórmula Um (ui, o que chovia, e o Lotus preto e doirado a dar ao rabinho na recta da meta), houve necessidade de tocar o hino da Dinamarca, para assinalar a vitória de John Nielsen, na corrida da II Divisão da Fórmula Um.
Dinamarca? Eh! pá, algo está podre no reino da Dinamarca. Não há hino da Dinamarca. Não fez mal. Tocou-se o hino inglês.
Ao menos em Alvalade cantou-se o hino certo.
Goelinhas mais ou menos afinadas. Havia vontade. Havia vozes.
Não havia era hino.
Por isso mesmo, o Ganda Ordinarice, com o espírito altruísta que o caracteriza, dá o hino ao povo. O povo do ténis de mesa e o povo das gajas, que hoje deve estar um bocado baralhado com o blogue.
Eu avisei.




Eu sou um gajo do baralho!
























Eu sou um gajo do baralho, não é para me estar a gabar. Mas qual baralho? O baralho dos “ases” da selecção portuguesa. Mordam bem o estilo dos ménes: João Pedro Monteiro, Énio Mendes, Ricardo Garcia (o treinador), Marcos Freitas e Tiago Apolónia. E a gralha é do calendário. Não é minha. O chaval madeirense chama-se mesmo Marcos, no plural. Como Marcus Vinicius de Moraes, inspirado no Marcus Vinicius de Robert Taylor no “Quo Vadis”.
Por acaso ainda há outra gralha no calendário. A 9 de Janeiro estava marcada uma vitória da selecção portuguesa sobre a França. Vamos lá a ver se não falham os dias 6 e 13 de Fevereiro, em que o calendário marca vitórias sobre a Itália.
E Portugal na final do Europeu, em Belgrado, a 1 de Abril?
Mentira?
Como diria Margarida Rebelo Pinto, sei lá!

E nós pimba!



O Emmanuel Lebesson tem mau feitio. Chegou a Alvalade e aviou o Tiago Apolónia. Eu achei chato. E os assistentes portugueses também.
O Emmanuel Lebesson não é a Sylvia Kristel, por isso pode muito bem não ser o Anti-Virgem, a Emanuelle Negra, eu sei lá.
Eu vi um filme da Emanuelle no defunto cinema Avis.
O meu amigo Kiko queria entrar no “Emanuelle”, mas ainda não tinha 18 anos. E o cinema Roma tinha fama de pedir o bilhete de identidade e ter porteiros que não davam tolerância zero.
A rapaziada tinha de se consolar com os filmes da Edwige Fenech no Pathé, não aconselháveis a menores de 18. Mas já dava para ver umas mamas.
Ó Lebesson! Lixaste a cena toda aos tugas. Agora temos de ganhar à Itália e fazer horas extraordinárias.
Se estivesses sentadinho numa ganda cadeira de verga, como a Emanuelle a sério, é que fazias bem.
E nós pimba! A chupar no dedo.










Caralho! O Damião partiu a bandeira do Brigola!




Brigola. Sim, Brigola. Francisco Brigola. O infeliz. O azarado. O Brigola joga ténis de mesa no Inatel e é um apaixonado da modalidade. Eu já joguei com o Brigola. Eu perdi sempre com o Brigola. A primeira vez na Mouraria, numas salas que o Inatel tinha para ali, ao pé da esquadra da Polícia. Da primeira vez até fui para os balneários dos velhinhos da ginástica e só dei por ela passado um bocado.
O Brigola foi o único a perder um “set” comigo no primeiro ano em que joguei no Inatel, segundas categorias, se é que eu tenho alguma categoria. O Brigola perdeu o “set” por 22-20. E eu ainda tinha a raqueta antiga, que era fraquinha. Mas pouco mais mereço. Apesar disso, com os sábios conselhos do Miguel Amadis Mendes, comprei uma raqueta a sério.
Brigola. Sim, Brigola. O azarado, o infeliz, o apaixonado pela modalidade.
Onde é que eu ia? Ah! sim. O Brigola queria cravar-me a cadeira na sala do Multiusos, que aquilo estava de chuva para a ingrícola.
“Se fosses um cavalheiro, davas-me a tua cadeira”.
“Oh! pá, é que eu estou a apontar ponto a ponto”.
Ficámos assim.

Passado um bocado, o Brigola conseguiu um quarto com vista para a cidade. Que é como quem diz: uma cadeira com vista para o Portugal—França. E o António Vieira Pacheco (jornal O JOGO) lá ficou com o Brigola à frente. Mas com boa vontade tudo se arranjou.
E o problema foi mesmo a vontade. O Damien Eloi teve vontade. E saiu a meio de um jogo do Chila. Como a coisa estava a correr bem para a França, voltou todo entusiasmado. E para não perder muito tempo a voltar ao seu lugar, na cabeceira, passou à frente do Brigola na ponta da unha: “Allez, Chils”. E só tocou ao de leve, com o joelho, muito ao de leve, na bandeira de Portugal que o Brigola tinha na mão.
Chegou para partir a haste. E o Brigola não ficou agarrado ao pau (que era de plástico frágil), mas ficou agarrado ao pano, desgostoso.

“Ó Brigola, como é que isso partiu? Ele pisou?”
“Não, isto é Made in China, foi só um toquezinho”.
“Bem, foi sem querer”.
“Ah! sim, claro”.

Caralho! O Damião partiu a bandeira do Brigola.
Foda-se em top spin!

No calor da noite




O ambiente que se viveu na sala de Alvalade foi perfeitamente “infernal”, com temperaturas elevadas (próximas dos 30 graus) e bastante humidade, embora a aderência dos sapatos de ténis ao piso fosse boa.
Nas bancadas, perto de 300 espectadores, na esmagadora maioria directamente ligados ao ténis de mesa. Antigos jogadores “leoninos” como Pedro Miguel, praticantes do Inatel, jogadores do maior campeonato português, dirigentes da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa e da Associação de Ténis de Mesa de Lisboa, entidades organizadoras da competição.
Os dirigentes optaram por uma sala pequena em detrimento de um pavilhão, na tentativa de criar um ambiente de intensa pressão para o seleccionado gaulês. O que foi conseguido, diga-se, com um apoio entusiasta e sempre muito correcto. Houve ruído, mas sempre entre os pontos. Não se ouviram insultos ao adversário, que no final teve mesmo direito a uma merecida salva de palmas.
Fernando Gomes, director-técnico nacional, explicou que “era difícil encontrar nesta altura um pavilhão com uma temperatura mínima de 16 graus, condição obrigatória, por isso optámos por esta sala”.

Fernando Gomes: “Excelente prestação”

“Lutámos bem e tivemos uma excelente prestação, mas não chegou para derrotar esta magnífica equipa francesa. De qualquer forma, acredito que não vamos desperdiçar a oportunidade de que ainda disporemos frente à Itália. Convém não esquecer que os franceses actuaram com os 13º e 17º jogadores do ranking europeu”, disse o director-técnico nacional, Fernando Gomes, ao repórter do “Diário Desportivo”.
Por seu turno, o treinador francês, Jean-Claude Decret, salientou a qualidade de Portugal: “Estes jovens são muito promissores e tivemos de actuar ao nosso melhor nível para vencermos. Eu disse aos meus jogadores que era importante não estar a pensar nos critérios de desempate e vencer apenas dois jogos. Viemos para ganhar o encontro. Quanto ao Europeu de Belgrado, tudo pode acontecer com a França, mas depende do sorteio, já que a competição se inicia com uns oitavos-de-final. Triunfando, podemos chegar às medalhas. Perdendo, teremos de nos contentar com a disputa dos lugares entre o 9º e o 16º, não é?”.
João Pedro Monteiro e Tiago Apolónia estavam algo abatidos no final do encontro, como é natural, mas muito serenos e de consciência tranquila.
“A vitória no jogo com o Eloi motivou-me bastante, mas os franceses têm dois jogadores do Top-40 mundial. Há que levantar a cabeça e começar a trabalhar já para o encontro com a Itália. No campeonato alemão fui bastante bem recebido e a língua alemã não se constitui como uma barreira na equipa, pois todos falamos inglês”, confessou João Pedro Monteiro, rodeado pela família (pai, mãe e irmão mais novo, também jogador).
Quanto a Tiago Apolónia, não encontrava explicação para ter deixado fugir as confortáveis vantagens pontuais de que dispôs:
“Nem sei bem como explicar. Acho que não teve a ver com questões tácticas. Penso que a vitória no primeiro “set” seria muito importante, para me deixar menos pressionado no resto do jogo. Mas acho que estou a jogar melhor do que na primeira ‘mão’, em França, apesar de lá ter vencido o tri-campeão francês. Sinto que evoluímos. Quanto à minha estada na Alemanha, estou satisfeito. Até agora ainda não tive problemas em obter dispensas para poder actuar pela selecção portuguesa”.

Ficha do encontro




Jogo: Sala do Pavilhão Multiusos do Alvaláxia XXI, em Lisboa.
Temperatura ambiente: entre 25 graus iniciais e cerca de 30 a partir da meia-hora de jogo.
Equipa de arbitragem: Federico Lineros, representante da ITTF, Federação Internacional de Ténis de Mesa, e José Rodriguez (Espanha, dupla principal), Luís Sequeira e Júlio Paulo Nepomuceno (Portugal).
Assistência: cerca de 300 pessoas. Lotação esgotada, com instalação de bancadas adicionais.
Treinador de Portugal: Ricardo Faria; Treinador de França: Jean-Claude Ducruet.
Parciais: João Pedro Monteiro, 3 – Damien Eloi, 2: 11-9, (5 minutos); 7-11, (4m), 11-5 (4m), 6-11 (4m) e 11-4 (6m); , Marcos Freitas, 1 – Patrick Chila, 3: 6-11, (6m), 12-10 (9m); 5-11 (6m), 8-11 (11m); Tiago Apolónia – Emmanuel Lebesson, 1-3: 9-11 (6m), 8-11 (6m), 11-9 (9m), 10-12 (11m); João Pedro Monteiro – Patrick Chila, 0-3: 3-11 (3m), 5-11 (5m), 9-11 (9m).

Doce de Chila com travo de "amarguinha"




2ª “mão” das meias-finais de acesso à I Divisão Europeia Masculina

Portugal, 1 França, 3

A selecção portuguesa sénior masculina de ténis de mesa perdeu com a França, por 1-3, no encontro da 2ª “mão” das meias-finais de acesso à I Divisão Europeia Masculina, disputado terça-feira à noite na sala do Pavilhão Multiusos do Complexo Alvaláxia XXI, em Lisboa, onde o Sporting recebe os seus adversários. Esta derrota não impede o conjunto luso de estar presente no Europeu da Sérvia, em Belgrado, entre 25 de Março e 1 de Abril. “Basta” ganhar à Itália na última oportunidade de chegar a este grande certame mesa-tenístico. Primeiro, recepção aos transalpinos em Portugal (local a designar, a 6 de Fevereiro), seguida de deslocação à mesa dos oponentes(a 13 do próximo mês), que venceram a Holanda por 3-2, em Itália, o que não chegou para a qualificação directa, face ao resultado da primeira “mão” na Holanda.

João Pedro começa da melhor forma

O encontro começou da melhor forma para Portugal, com João Pedro Monteiro (recente número 118 do ranking mundial,que actua no clube alemão Ochenhausen) a levar de vencida o gaulês Damien Eloi (nº 33 do mesmo ranking) por 3-2, com expressivo 11-4 na “negra”, após cerca de meia-hora de enorme emoção.
Actuando na mesa do clube onde adquiriu projecção, o jovem esquerdino entrou de forma explosiva no quinto “set”, trocando de extremos na mesa (o que acontece na partida decisiva, a “negra”) a vencer por 5-0, uma vantagem moralizadora.
O português teve no serviço e no top-spin de direita, cruzado, para o fundo da mesa, duas das suas principais armas frente a um atleta que não actuou no encontro da primeira “mão”, mas cuja experiência foi considerada uma mais-valia pelo treinador francês, Jean-Claude Decret. Eloi bem tentou, mas não conseguiu “pôr na mesa” todo o seu potencial ofensivo, por inteiro mérito do português.


O segundo elemento gaulês a entrar em jogo foi o veterano Patrick Chila (37 anos, 35º do ranking mundial, multi-medalhado em Singulares e Pares nas principais competições internacionais, tendo atingido o 15º posto do ranking mundial em 1999).
Patrick já tinha sido perfeitamente decisivo no jogo da primeira “mão”, com duas vitórias, repetindo a dose em Lisboa, com êxitos sobre Marcos Freitas (3-1) e João Pedro Monteiro (3-0). E se o actual atleta do Cérgy-Pontoise (após mais de uma década a actuar em clubes de topo como o Levalois e o conjunto belga do Charleroi) ainda se irritou com a belíssima réplica do madeirense Marcos Freitas (que joga pelos germânicos do Julich, localidade próxima de Colónia), não deu qualquer tipo de hipótese a João Pedro Monteiro, sem soluções para a maior maturidade de Patrick, apesar de exibir alguns quilos a mais para um mesa-tenista de Alta Competição.
Marcos Freitas ainda conseguiu empatar a sua partida a um “set”, após um suado 12-10, mas o seu óptimo bloco e a magnífica capacidade defensiva não deram para mais. A experiência e o talento de Chila revelaram-se demasiado fortes.

Tiago prometeu muito

A derrota portuguesa começou a definir-se no terceiro jogo da noite, em que Tiago Apolónia (183 mundial, a representar os teutónicos do Saarbrucken) não conseguiu aproveitar o balanço da vitória de João Pedro Monteiro no primeiro jogo.
O ex-estrelista (actuou desde muito jovem no Estrela da Amadora), que é um atleta sereno e cerebral, desperdiçou significativas vantagens em dois dos três “sets” em que foi derrotado por um jovem “foguetão” francês, Emmanuel Lebesson, com um ranking algo “enganador” (246).
Comandou por 7-3 no primeiro “set” e perdeu por 11-9; esteve a liderar por 4-1 e 5-2 no segundo “set” e cedeu por 11-8; adiantou-se por 7-3 no terceiro “set” e permitiu a reviravolta por 7-8, antes de triunfar por 11-9, vencendo os derradeiros dois pontos nos jogos de serviço do francês, um esquerdino totalmente de ataque. No quarto “set” a sorte não esteve com o português, que foi derrotado às diferenças, por 12-10.
No último parcial da noite, cedo se percebeu que só muito dificilmente João Pedro Monteiro “trocaria as voltas” a um Patrick Chila repousado e moralizado (houve uma pausa não prevista acordada entre as duas equipas, para obviar ao intenso calor da sala e poder desanuviar a atmosfera).

Os dois primeiros parciais (11-3, em 3 minutos de jogo, e 11-5) dizem quase tudo. A fabulosa recuperação no terceiro “set”, de 1-5 para 9-9, foi um fogo-de-artifício virtual. Uma bola de imensa sorte de Chila deu-lhe o direito a fechar o encontro no primeiro “match-point” de que dispôs, no serviço de João Pedro.
No final de cerca de duas horas e meia de encontro (iniciado às 20h40m e terminado às 23h10m), a festa não foi só gaulesa. Triunfou a modalidade; triunfou a assistência, privilegiada por assistir a um encontro deste nível, numa “gala” histórica para o ténis de mesa português.

Luís Graça