Ganda Ordinarice

Desabafo bem intencionado e imagético sobre o Salão Erótico de Lisboa.

sexta-feira, julho 27, 2007

EXOTICA: NO “POPAR” É QUE VAI O GANHO







Não falamos de “Exotica”, o filme de Atom Egoyan, protagonizado por Mia Kirshner, a stripper de olhos de gelo e coração de fogo.

Local da acção: Lagos, cidade algarvia. Em espaço situado entre a residencial “Sol e sol”, ao lado da loja de tatuagens, a espreitar a antiga discoteca “Fénix”, hoje a funcionar com outro nome.

Mas o que há de especial neste local específico, ao qual falta apenas ser assinalado com uma cruz num mapa de piratas? Simples: há uma pequena sex-shop, de nome “Exotica”. Pequena em espaço físico, grande em simpatia da equipa.

A líder incontestada é a senhora Didina Popa, romena licenciada em engenharia alimentar, que se abalançou a deixar a Roménia e a espreitar o negócio do sexo no Algarve. Quando a senhora Didina não está na loja, é tempo de Joana (prestes a acabar o curso de Medicina Geral) ou Adélia (a tempo inteiro na loja), as suas filhas, tomarem o controlo das operações.

Sem problemas. Com horário de Verão entre as 11 da manhã e as 11 da noite, para ver como correm as coisas. Para já, tudo bem. Vendem-se mais vibradores que “lingerie” e há muitos estrangeiros como clientes da loja. Num espectro social variado. A 5 de Julho a loja cumpriu um ano de idade. “Exotica”, seu bebé querido!

Quando há disponibilidade, as manas Joana e Adélia ocupam o tempo livre no Centro Cultural e este que vos escreve, Dick Hard, aconselhou vivamente um saltinho para assistir a “As obras completas de William Shakespeare em 97 minutos”. Se a intenção se concretizou, por certo as manas Popa estiveram “sob fogo intenso” de Simão Rubim, João Carracedo e Manuel Mendes. Duas miúdas giras são sempre um apetite de levar para o palco.

Se tudo correr normalmente, os nossos destinos vão cruzar-se em Portimão, no Salão Erótico, entre 24 e 26 de Agosto. E o Ganda Ordinarice abre-se todo à honra de poder contar com uma potencial colaboração das manas Popa como colunistas.

E assim vai o mundo das sex-shops.



Auto-publicidade Poético-erótica

Contos do Dick Hard - VI

DICK HARD NO CENTRO DE ESTÉTICA

Dick Hard não podia ser considerado minimamente um metrossexual. Em primeiro lugar porque não gostava de andar de metropolitano. Depois, porque nunca tinha tido sexo em plena carruagem.
Por isso, quando a sua amiga Lolita lhe disse que não era preciso ser metrossexual para a acompanhar ao Centro de Estética, Dick Hard encolheu os ombros e deixou-se guiar, de braço dado, pelas labirínticas ruas de uma Lisboa antiga que já se mentalizara em aceitar um centro de estética.
O “Miminhos do Corpo” era um centro bem catita, com clientela do mais seleccionado. Esposas de gestores, viúvas de ex-traficantes de droga arrependidos, namoradas de seguranças de escritoras de livros de auto-ajuda, funcionárias de organismos estatais em vias de decomposição.
E como um centro de estética não tem de ser necessariamente dedicado às senhoras, o “Miminhos do Corpo” era bissexual, por motivos financeiros: tinha uma secção para senhoras e outra para cavalheiros. Era importante não descurar o negócio.
Lolita tocou à campainha e ouviu-se a voz de Vincent Price no filme de terror “O gato miou três vezes”. Dick não percebeu bem a frase, mas era assim a modos que a atirar para o horripilante. Se fosse levada a sério. Com o Vincent Price era difícil levar o terror a sério. Que raio de ideia para um toque de campainha!
A porta abriu-se e na recepção estava uma loira do mais terrífico que se podia imaginar. Ver aquela menina e não poder saltar-lhe para a espinha com imediatismo era algo digno de um filme de terror com Boris Karloff ou Cristóvão Lee.
O Dick mais pequenino pôs-se aos saltos dentro das calças de ganga do dono:
— Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero! Ó pá, eu quero!
Dick deu-lhe a meia-volta do costume (como indicado no livro de Alberto Moravia, “Eu e ele”) e sossegou o personagem.
Lolita dirigiu-se à Vânia Vitória (a menina da recepção que provocava erecções à velocidade da luz) e sorriu:
— Olá, o meu nome é Lolita Esplendores e tenho marcação de “Revisão Total Especial” para as 16 horas. Hoje trouxe um amigo meu. Gostaria de saber se é possível inscrevê-lo num programa especial de “Trate de si, cavalheiro”.
— Pois é, D. Lolita, sem marcação para o seu amigo vai ser um pouco difícil. Hoje é um dia mau. Tem estado tudo cheio. Sabe como é, sexta-feira, dia de sol, vésperas de Primavera. As pessoas saem de casa com vontade de se tratar bem.
— Veja lá o que se pode fazer. Eu quase arrastei o meu amigo...
Dick Hard não estava particularmente interessado em levar com um tratamento de estética e não tinha percebido se Lolita lhe ia pagar a sessão. Por isso, nada melhor do que jogar pelo seguro:
— Deixe estar, não se incomode. Eu vim só acompanhar a minha amiga...outro dia, talvez, com mais calma e disponibilidade...
— Ó Dick, deixe-se de coisas. Eu é que o convidei, não lhe vou dar uma seca enquanto espera por mim...só desisto se não puder mesmo ser...
A menina da recepção fez um sorriso especial de corrida (entre o malicioso e o vampírico) e disse com um ar muito estão-a-percerber:
— Vou esgotar todas as possibilidades, D. Lolita. E que tipo de “Trate de si, cavalheiro” pretendia? O “Miminhos banais” ou o “Miminhos especiais”?
— Ah! o “Miminhos especiais”, claro. Devo uns favores a este meu amigo e hoje decidi compensá-lo.
— Pois muito bem. A D. Lolita pode ir entrando para o gabinete “Dali” e o massagista vai lá ter consigo. Depois ainda vai fazer unhas e cabelo, não é?
— Exacto. Deixo-lhe então o Dick.
— Pode ficar descansada. O senhor Dick, se quiser, pode sentar-se ali na sala de espera, a folhear umas revistas. Já lhe digo o que consegui ou não consegui.
Enquanto Lolita desapareceu no horizonte, Dick dirigiu-se à sala de espera e escolheu um sofá com vista para o balcão da recepção, onde a loira fabulosa se atarefava em telefonemas. Quando ela desligou o telefone e fez menção de dar a volta ao balcão, Dick agarrou numa revista rapidamente e pôs-se a folhear, para não dar aquela “bandeira” de estar a “galar” a chavala despudoradamente.
— Boas notícias, senhor Dick. Consegui uma marcação daqui a 15 minutos, para o gabinete “Monet”.Queira acompanhar-me.
Dick levantou-se, suspirou e pensou para com os seus botões:
Botão 1: acompanhava-te e era com batatas, mesmo sem ser canibal.
Botão 2: acompanhava-te era a Vale de Lençóis, minha boazona.
Botão 3: acompanhava-te até ao Inferno, se me desses essa pachacha presumivelmente deliciosa.

A loira deliciosa depositou Dick, com um sorriso matreiro, no gabinete “Monet”, que tinha uns quadros muito foleiros com nenúfares, em tons de rosa e verde. Uma coisa super-pirosa.
Depois rodou os calcanhares nas sandálias tipo romano e pôs-se na alheta, em desfile afastatório tipo passarela. Até dava gosto observar o diálogo profícuo entre as duas bochechinhas do rabo. Qual Mário Soares, qual carapuça!
Dick tirou o casaco, pendurou-o num cabide todo estiloso e sentou-se num sofázão fofíssimo. Estava ainda a tentar tirar as medidas ao espaço quando um plasma do último modelo se pôs a falar, mostrando um grande plano de uma morena de olhos verdes e cabelo curto, com uns brincos em forma de caveira e um sotaque do Rio de Janeiro:
— Olá, isto é uma gravação. Bem-vindo ao gabinete “Monet”, onde vai receber uma sessão de hora e meia do programa “Trate de si, cavalheiro”, versão “Miminhos especiais”. Parabéns pela sua escolha. Vai ver que não se arrepende. Aqui no “Miminhos do Corpo” damos o nosso melhor para que se sinta no Paraíso. O meu nome é Bruna Brasil. Estarei consigo dentro de dez minutos. Até lá, vai ouvir sons seleccionados. Começaremos com Mozart, depois passamos a Prokofiev e acabamos com Bela Bitoque.
Mal o rosto desapareceu, o plasma começou a trasmitir imagens de paisagens maravilhosas, com a sala totalmente às escuras. As luzes desligaram-se num ápice.
Dick recostou-se e fruiu de todo aquele luxo. Se era a Lolita a pagar, tudo bem. É verdade que Dick a ajudara numa altura difícil da vida dela, fazendo umas vigilâncias gratuitas ao cabrão que estava casado com ela e lhe punha os cornos várias vezes ao dia. Se a Lolita queria retribuir assim, tudo bem. Dick já tinha atirado o barro à parede, mas a Lolita não se desbroncava. Nada de sexo. Só amizade. Ora bem. Que viessem de lá os tais miminhos especiais.
Como o gabinete dispunha de uma marquesa, Dick calculou que ia receber uma massagem, com sons reconfortantes. E a tal Bruna Brasil era bem bonita. Uma hora de massagem, talvez seguida de duche...nada mau!
Estava nestas cogitações quando uma fatia de luz cresceu pelo solo luxuosamente atapetado do gabinete “Monet”. A porta abriu-se e Bruna Brasil (senhores ouvintes, 1 metro e 80 de tentação, vestida num fato de cabedal preto, com um decote mais do que generoso) entrou com um candelabro na mão.
Em passo lento e coleante, foi-se aproximando de uma série de velas. Curiosamente, Dick nem tinha reparado nas velas, que estavam por trás do sofá, junto da marquesa. Uma a uma, Bruna foi dando à luz e dois minutos depois estavam as 16 velas acesas.

Depois chegou-se a Dick e deu-lhe dois beijinhos nas bochechas:
— Oi, tudo bem? Bruna... prázê...
Dick gargarejou para fora da boca qualquer coisa parecida com dois roncos de timidez, embrulhados no mais puro deslumbramento.
— Muito prazer... Hard, Dick Hard...
Bruna tomou-o pela mão e levou-o para a marquesa. Despiu-o. Fê-lo deitar-se de costas. Depois amarrou-o com fitas de seda. Dick ficou todo nu, expectante, com a cabeça ligeiramente levantada, assente numa almofada, de forma muito confortável.
Nessa altura, um ecrã em frente da marquesa deu início à programação. Que era, nem mais nem menos, o show ao vivo que Bruna lhe ia proporcionar. Uma série de câmaras, disfarçadas no gabinete de forma perfeitamente competente, iam captando vários planos do strip-tease de Bruna Brasil.
Dick suava como se lhe estivessem e enfiar mostarda pelo pacote acima. Ai, meu rico coração! Olha que preparos! Era o sorriso de Bruna a saltitar de meiguices, era um grande plano dos seios (ai, que me dá uma coisa e me fico aqui), um longo passeio pelas pernas abaixo, pelas pernas acima (ai, ai, ai...ainda acabo por terminar antes de começar), sabe-se lá que mais...
Bem, até se sabe. Bruna ficou toda nua (aí uns 15 minutos depois, que tortura mais suave) e subiu para a marquesa. Percorreu todo o corpo de Dick a golpes de lambidela e depois meteu na boquinha acolhedora o membro hirto do senhor Hard.
Estava nisto há uns 20 segundos, não mais (e o ecrã a dar tudo em grande plano, o melhor era fechar os olhos, era cedo demais para ir ao Paraíso) quando começou a tocar uma sirene.
Dick ficou parvo. Bruna levantou a boca do coiso de Dick, arregalou os tímpanos, vestiu uma expressão decidida no rosto e saiu a correr do gabinete:
— Outra vez! É a terceira vez esta semana! Alarme de incêndio! Corra! Temos de sair. Venha para a recepção!
Venha para a recepção?!? Então a chavala deixa-me aqui amarrado, sai embrulhada num robe e eu fico aqui tipo cobaia de grelhador, se isto estiver mesmo para arder?
O ecrã desligou-se, adeus música suave, adeus velinhas, acenderam-se as luzes todas. Foi-se a magia. Dick tentava desesperadamente desamarrar-se quando três monstros culturistas entraram no gabinete:
— És o Dick Hard?
Dick desconfiou que nada de bom estava para lhe suceder e por isso saiu-lhe a resposta da praxe:
— E se fosse? Quem quer saber?

À noite, no bar “Afoga-Desgostos”, do seu amigo Adérito, Dick contou tudo em pormenor, porque ele e Adérito já tinham passado por muitas:
— Foda-se, Adérito! Ganda melão. A gaja a fazer-me um bico de luxo, eu no Paraíso, um dia do caralho. Depois a puta da sirene a tocar, entram os três culturistas, paneleiros do caralho, e põem-se a perguntar se eu sou o Dick Hard. Eu respondo assim um bocado envinagrado, eles vão-se-me ao casaco, tiram a carteira, confirmam que sou mesmo eu e vá de embute. E eu ali amarrado. A cabrona da seda é mais resistente do que se pensa. De qualquer forma, elas eram três elefantes e apanharam-me numa altura má...
— Mas tens a certeza que a coisa foi planeada?
— Meu, estou convencido de que a Lolita não teve nada a ver com o assunto. Nem o centro de estética. Aquilo foi estudado. O cabrão do ex-marido da miúda deve estar a vigiá-la há colhões de tempo. Viu-me a entrar, deve ter chamado os gorilas, a história de eu ter ido para a sessão só facilitou. Tocaram o alarme de incêncio, aproveitaram a confusão e serviram-se. Na volta, apertaram os gasganetes à miúda da recepção e ficaram logo a saber onde eu estava.
— Dick, sabes que eu te digo sempre o que tenho a dizer. Já te tinha avisado dos perigos dessas cenas de vigilâncias de adultério...
— Man, é a minha vida...
— O gajo foi porco, essas merdas não se fazem. Se queria, marcava um homem-para-homem contigo. Até aceito que mandasse uns chavais darem-te um correctivo, afinal perdeu a mulher à tua conta...agora o que ele te fez...
— Palhaço de merda. E logo os três. A Bruna Brasil só voltou passados uns 45 minutos e deu com a marquesa toda cheia de sangue...
— Ainda te dói muito o rabo?
— Foda-se, Adérito! O kékachas? Foram 35 pontos no hospital...
— Man, deves ter batido o recorde da Laura Diogo com o Reinaldo...
— Isso foi boato.
— O tanas é que foi!
— Tá bem, merda! Dá aí mais um vodka...a Bruna era tão bonita...logo vi que era bom demais...
— Sabes porque é que as tuas histórias acabam sempre mal?
— Porquê?
— Para o Luís Graça não ser acusado de machista, como a Gotinha.







Auto-publicidade Poético-erótica

“MAD MAX” ATACA EM LISBOA






Poucos metros ao lado do Largo da Misericórdia, Max Cortes (ou Max Cotez, como vem escrito na capa do DVD da IFG) contempla o Castelo de S.Jorge, do outro lado. O jardim altaneiro em frente do antigo “Harry’s Bar” (mais conhecido como do “Joãozinho”, local onde Amália Rodrigues era ídolo supremo) é um belo princípio de bilhete postal do filme “O ponto climax supremo”.

Esta longa-metragem de 120 minutos, realizada e protagonizada por Max Cortes, saltita de cidade para cidade, começando com uma super-felação no Rio de Janeiro, interpretada/mamada por Dúnia Montenegro, a carioca radicada em Espanha.

Se a cidade do México tem direito a uma cena, Lisboa não foi esquecida. Do Terreiro do Paço, à Ponte sobre o Tejo, passando pelo Elevador da Glória, nada é esquecido como ícone lisboeta de primeira água. Há sardinhas a assar, há a bela cena de sexo da pensão típica. O senhor é Max Cortes, a senhora é a checa Jane Darling, presença simpática e sensual do primeiro SIEL, em 2005.

Da equipa de estrelas que veio ao primeiro Salão Internacional Erótico de Lisboa temos o realizador/actor Max Cortes, o “speaker” e actor Roberto Chivas, Susie Diamond, Julie Silver e Dúnia Montenegro.

As cenas têm uma produção cuidada e as meninas sentem-se como peixe na água nas cenas de sexo. E se os diálogos entre espanhóis (em espanhol, obviamente) soam naturais, as dobragens de Jane Darling e das outras actrizes, em espanhol, tiram um bocado de graça ao filme. É preciso que façamos um exercício: esquecer o som e focarmo-nos nos rostos de prazer de Jane Darling ou Julie Silver, que tiram prazer da pornografia e não gostam de “meias-tintas”. Se é para foder, vamos lá embora, senhores ouvintes.

A intriga é policial e gira à volta de uma droga que vicia Max Cortes em sexo.

Mas isso é perfeitamente secundário. O importante é que os “alfacinhas” sintam orgulho por ver que Lisboa não foi esquecida no grande roteiro pornográfico mundial. E não a Lisboa da Lapa ou do Restelo, mas a Lisboa do Bairro Alto, a Lisboa da pequena pensão típica, a Lisboa que tem história.

Motivo mais do que suficiente para cantarolar a plena voz o tema que se ouvia nas gargantas de milhares de benfiquistas nas noites de gala basquetebolísticas de Carlos Lisboa, no pavilhão da Luz: “Cheira bem, cheira a Lisboa”.

E apesar do sexo ser “puro e duro, como a gente gosta” (como diria a Dra. Rute Remédios/Herman José) não consta que nenhuma actriz tenha sido obrigada a levar 45 pontos, como aqueles que Carlos Lisboa marcou numa noite de inspiração ao Partizan de Belgrado.

Eu estava lá.

Falhei a rodagem do filme porno. Não se fode ter tudo.






Auto-publicidade Poético-erótica

Contos do Dick Hard - V

DICK HARD E O PUTANHEIRO COM CORAÇÃO DE OIRO

Felismino Florindo era um putanheiro com coração de oiro.
Um homem intrinsecamente bom. Perdia-se nas putas, mas a sua vida era muito arrumadinha. Os pais tinham emigrado para o Luxemburgo em busca de uma vida melhor e Felismino muito cedo aprendeu a dar valor ao dinheiro. Aos 14 anos já era uma figura conhecida em Wertzenspiegel, mesmo ao lado de Kondordurex, a olhar as neves sagradas de Flockriefensthal.
Dick Hard conheceu-o na sequência de um caso complicado de partilhas. Felismino não queria fazer nada contra um primo conhecido na família pelas suas vigarices. Mas outro primo acabou por chamar Dick Hard à revelia. Dick fez umas vigilâncias suaves e o primo vigarista acabou por sair de cena.
Felismino ficou muito contente, porque não teve de se zangar com ninguém e convidou Dick Hard para ir às putas luxemburguesas. As pessoas pensam que não há putas no Luxemburgo, mas isso é uma enorme ilusão. Em Trucktruckfakmi existe um bordel de luxo, com piscinas de água estarrecida, saunas pay-per-fuck, ecrã de plasma transatlântico e outras mordomias, só para quem tem muito dinheiro.
Felismino Florindo tinha, porque descobrira maneira de ser o único representante dos esfregões de palha d’aço para o Luxemburgo e os países do Benelux.
— Venha-se aí comigo — disse Florindo para Dick Hard, na altura em que uma negrinha querida, de nome Jacqueline, lhe dava a última lambidela na sarda coberta de leite condensado.
Dick Hard sorriu, mas não estava pronto para o clímax. Ainda tinha muita compota de alperce na sua bisnaga e Olga (uma lituana de olhos azuis e 1 metro e 90 de mulher) insistia em fazer as coisas com todos os éfes e érres, ou seja, com calma, estupidez e descontracção natural.
Felismino Florindo ejaculou generosamente nas fuças de Jacqueline (a linguagem é um pouco crua, mas o nível não pode descer mais, por isso não há nada a perder) e pediu uma Superbroche estupidamente gelada.
— Ó filha, traz-me aí mais uma Superbroche geladinha, como tu sabes. Ó amigo Hard, não vai uma Superbroche geladinha? Nem uma Superbroche Trout? Saiu mesmo agora do rio...

Dick Hard recusou e foi acanzanar uma loirinha ucraniana que usava um top prateado e umas botas Doc Martens, porque tinha deixado os movimentos radicais há pouco tempo. Ainda não se tinha conseguido desviciar de ver “A Laranja Mecânica” mas mordia muito menos nas alturas do sexo oral. Agora já só dava dentadas no namorado, poupando os clientes do “Paraíso das Carnes”.
Felismino Florindo saiu do bordel abraçado a Dick Hard, ao mesmo tempo que passava para as mãos de Jacqueline os documentos do Rolls Rói-se.
— Vai dar-lhe um Rolls Rói-se?
— Vou. A miúda portou-se bem. Era meiguinha.
A generosidade de Felismino Florindo era bem conhecida por todo o Luxemburgo. Foi Felismino Florindo quem salvou a Condessa de Magic-Pussy da falência, com uma revigorante injecção de capitais na sua fábrica de conservas. Sim, Felismino Florindo era um putanheiro de coração de oiro. Fazia o bem sem olhar a quem. Num dia era uma vivenda para uma puta, no outro dia era um emprego para o filho de um amigo, de noite era uma bicicleta BTT para a sobrinha de uma empregada de lupanar.
Diz-se que a Condessa de Magic-Pussy ficou tão agradecida com a generosidade de Felismino Florindo que passou uma tarde inteira a obsequiá-lo com o famoso analingus, beijo negro, botão de rosa, como lhe quiserem chamar.
— Olha, esta é uma actividade muito curiosa. Ó marquesa, não se incomode...deixe estar...não quero que se mace...não dei o dinheiro a pensar numa coisa destas...
— Ó senhor Florindo, é o mínimo que eu posso fazer. É apenas uma atenção...
Como Felismino Florindo deu o Rolls Rói-se num impulso, teve de chamar um rent-a-puta para irem até ao “Le gatô du xuxi”, um restaurante muito na moda, especializado em peixe-crude, fresquinho dos últimos derrames.
— Um rent-a-puta? — perguntou Dick Hard, intrigado, enquanto Felismino Florindo desligava o telemóvel.
— Ai o amigo Hard nunca andou num rent-a-puta? Isto não tem nada que saber. Um rent-a-puta é um táxi que vem com uma puta. A gente aluga por um período mínimo de uma hora e se houver algum problema de trânsito sempre estamos entretidos. Os vidros são fumados, por isso ninguém vê o que ela está a fazer. Agora até já há uns novos rent-a-puta que vêm com realizador de vídeo. Filmam o acto em directo e depois dão uma cassette para levar para casa.
— Isso deve ser um dinheirão...
— Ó amigo Hard, não o podemos levar connosco. Já viu o preço a que estão os bilhetes para o futebol? E a porcaria de jogos que há por aí...
“Le gatô du xuxi” estava quase cheio. Era sempre assim à hora do jantar. Mas Felismino Florindo tinha mesa reservada ao mês. Era um recanto acolhedor, um privado finíssimo, tapado por um conjunto de biombos, com aquários à volta, música ambiente regulável por telecomando e uma passagem secreta através da cozinha.
— Ó amigo Hard, eles aqui na tasca têm uma fodinheiras maravilhosas...
— Cozinheiras...
— Não, é mesmo fodinheiras. Não me diga que não sabe o que é. Não há disso em Lisboa? Pois é. Já não vou lá há bastante tempo. Mas esta novidade também é relativamente recente. As fodinheiras são cozinheiras que fodem, dão massagens e fazem mais umas coisas, à mesa, enquanto a malta come. Há de vários países, mas as melhores são as fodinheiras-samurai. Você manda vir um rodízio-xuxi, por exemplo, depois de uma entrada de rodavalho-vai-tu, e elas cortam o peixe em fatias fininhas, com golpes à Lin Chung. Aquilo parece patinagem artística, misturada com filmes do Bruce Lee.
Dick Hard pediu iscas de javali do rio, com puré de enguias, para entrada. Depois, para “pièce de resistência” encomendou o Salmão-punheta. Gostou do nome.
Minutos depois, apareceu um salmão belamente confeccionado. Mal a menina-samurai pousou o prato, Dick Hard sentiu a braguilha a abrir-se e as mãos delicadas de Miss Akiko a peregrinarem-lhe uma virilidade cada vez mais evidente.
— O que é isto?
— Então, você não pediu o Salmão-punheta?
— Pensei que era uma mistura de Salmão com punhetas de bacalhau...
— Qual quê?!? Você tem é imaginação. Salmão-punheta...estava-se mesmo a vir o que era...

Depois do Salmão-punheta, Felismino Florindo tomou a liberdade de encomendar uma pratinho de ambrósias doiradas, como sobremesa. As ambrósias doiradas eram servidas em cima de um grande tabuleiro, transportado por latagões de ginásio. Três de cada lado. Em cima do tabuleiro, três ambrósias. As ambrósias doiradas eram senhoras trintonas, muito finas, com vestidos amarelos, chapéu a condizer e motorista à porta. Vinham a comer Ferrero Rocher. Desciam do tabuleiro e começavam a lamber as coisitas do pessoal. E o chocolate ia-se misturando com as coisitas do pessoal e era uma sensação muito agradável.
Foi pena o primo vigarista ter aparecido nessa altura, de revólver em punho, aos gritos pelo privado:
— Felismino, filho dum cabrão, a tua vida acaba aqui!
Dick Hard conseguiu tirar o seu derringer da algibeira e enfiou-lhe um mini-tiro nos cornos que o fez tombar anti-delicadamente sobre a travessa de bolinhos de Shogun. Mas a dentada que levou, quando a fodinheira se assustou, é que já ninguém lhe tirava...
— Ó amigo Hard, esta é que não estava no programa. Olhe, vou-lhe dar um Lotus novo. Aquele cor-de-rosa que tem já está um bocado batido...
— Ó senhor Florindo, deixe lá isso... telefone mas é para a Polícia e para as ambulâncias...




Auto-publicidade Poético-erótica

LIBERTEI A GAIVOTA!!



Cantemos todos juntos, camaradas:

GANGUE DA SS ATACA DICK HARD PELAS COSTAS! GANDAS ORDINÁRIOS!






















A vida reserva-nos curiosas experiências. Dick Hard já tinha sido agredido por hooligans no pavilhão de Alvalade, à saída do Sporting-Cetinje de andebol, que deu porrada de criar bicho num 1º de Dezembro que deixou Dick Hard com um olho à Belenenses.

Seis anos volvidos, o perigosíssimo gangue da SS (Segurança Social) atacou Dick Hard à traição, aproveitando-se da sua ausência física no Algarve, para cobrir (sempre a cobrir, este Dick Hard, só lhe apetece é cobrir) a final Final Four da Liga Europeia de Voleibol (Portimão) e passar uma semana a ser fodido por gaivotas que não o deixaram dormir (Lagos).

Chegado a Lisboa, depara-se com uma carta da Segurança Social, acusando-o de dever 24 meses de contribuições, entre 2002 e 2004. E o perigosíssimo gangue da SS ameaça com acções punitivas dignas do General Custer, também pródigo a fornicar índios e derivados, até lhe ter dado a travadinha na batalha de Little Big Horn.

Dick Hard, contribuinte exemplar (ou otário em vias de extinção?), passou-se dos cornos, independentemente de serem os cornos azuis do blogue ou os cornos amarelos da capa das “Super-Erecções”.
Ainda esteve para ir até ao Areeiro armado do seu bastão de beisebol que tem um cromo do Wayne Gretzsky (o melhor jogador de hóquei no gelo de todos os tempos) e uma inscrição a tinta verde (Thor).

Ao invés, acabou por ir calmamente aos serviços do “Informativo” ao pé do Técnico, atacando a situação burocraticamente. Atendido por funcionários simpáticos e diligentes (homens e mulheres solidários e com sentido de humor), acalmou. Tinham seguido 31 mil cartas para os contribuintes, largos milhares deles com tudo em ordem.

É assim o perigoso gangue da SS. Dispara primeiro e pergunta depois, como em Tombstone. Dick Hard, qual Doc Halliday (ou Hollyday on ice?) tuberculoso (com tratamento no Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas, na Ajuda, no Verão de 1978) está preparado para sacar da sua arma preferida: o humor corrosivo, satírico, cáustico, bocagiano.

E depois é ver quem saca primeiro. Se é o perigosíssimo gangue da SS que saca as massas que Dick Hard já pagou, ou é Dick Hard que saca do seu humor, em acção de auto-defesa. Atenção, gangue da SS: Dick Hard é neto do comandante Ayres Nunes (que saía de bote para as águas em frente à ilha de Moçambique a dar com um estoque na cabeça dos tubarões que lhe perseguiam a traseira — do bote, do bote!) e produto da fornada 1975/1980 do Liceu Camões.

Dick Hard também é perigosíssimo, embora lhe fique mal dizer isto. Malandro não estrilha, muda de esquina. Mas Dick Hard não é Duck Hard, não é assim tão pato. Dick Hard é mais na base da loucura, como Duffy Duck.

E teve a sorte de encontrar o céu na Céu, da Caixa de Jornalistas da avenida de Berna. Dick Hard deu umas erecções pequeninas à Céu (“De boas erecções está o Inferno cheio”, Polvo, 2004), a Céu achou piada, não desceu aos Infernos e subiu ao primeiro andar, onde relatou a situação à chefe de serviços, a D. Rosa. E sabe-se que o importante é a Rosa.
Menos de uma hora depois já Dick Hard tinha a declaração a provar em como está tudo em ordem.

Mas Dick Hard é rancoroso como o pénis e quis desabafar. E cá vai post. Por isso deliciem-se com a carta do gangue da SS, deliciem-se com a declaração da Caixa de Jornalistas, deliciem-se com um sortido de recibos de Dick Hard que atravessam décadas e até mudam de século.








































Dick Hard aguarda que o processem. Para ir a tribunal, escudado no seu ex-professor António Garcia Pereira, a quem convidará para o defender, se fôr caso disso. O que a gente se ia divertir! Lá para 2019 ou coisa assim...

Até lá, divirtam-se com uma proposta literária da mais alta relevância, uma coisinha que me veio à cabeça mesmo agora. Uma “almada-negreirice”. Vejam lá se gostam.
















MANIFESTO ANTI-GANGUE DA SS

O gangue da SS é estúpido. Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.
O gangue da SS não sabe que o código postal da morada de Dick Hard há que ânus mudou de 1000 para 1050-193.
Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.

O gangue da SS é idiota. O gangue da SS não sabe há que ânus mudou o número de telefone de 766 para 21 7966.
Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.
O gangue da SS não sabe mandar cartas registadas. Manda envelopes sem carimbo, envelopes sem data.
Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.

O gangue da SS é parvo. O gangue da SS não sabe que Dick Hard já fechou os recibos verdes a 31 de Março de 2007. O gangue da SS não sabe que o cruzamento de dados entre as Finanças e a Segurança Social devia ser automático. E depois, o trio atacante do Panaskinaikos (Sócrates, Platonão e Aristafa-os) fala em globalização e computadores e o mafarrico a sete e a oito e a nove.

Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.
O gangue da SS cheira mal da boca. O gangue da SS faz broches em Gondomar, a pedido expresso do Major Bergantim Veleiro, para usar aos domingos e bater com a mão no peito, enquanto diz: “Ganda broche, major! Isto é que é um pito doirado de se lhe ir a Coina comer um Porky Pig da Mealhada!”.

O gangue da SS é incompetente. O gangue da SS ainda não tem pitbull para atacar os contribuintes devedores e os contribuintes cumpridores. O gangue da SS ainda não tem chaminés crematórias à vista nas instalações do Instituto Superior Técnico ou ao lado da cabeçorra do Sá Carneiro, na rotunda do Areeiro.

Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.


O gangue da SS não sabe o que é a liberdade de expressão. Por isso, vamos ver quanto tempo resiste aberto o Ganda Ordinarice. Se desaparecer repentinamente, nada se perde, nada se cria. Tudo há-de aparecer no “BD Voyeur”.
E outros Ganda Ordinarices surgirão. Dick Hard não é silenciável, mesmo que o deixem esventrado na mata de Monsanto às cinco da madrugada, enquanto um passarinho cantava. Mesmo que o deixem pasto dos vermes.

Morra o gangue da SS. Morra. Pim. Pam. Pum.

Dick Hard está à espera da pancada. Corre direito às balas, de peito feito, como em “Galipolli”, o filme de Peter Weir.

Adolfo, Benito, Oliveira de Santa Comba Dão, aqueçam! Pelo andar da carruagem, ainda têm lugar para vocês nos tempos que correm.
Mas façam um favorzinho à Humanidade: Adolfo, muda de bigodinho; Benito, emagrece um cochinho, Oliveira de Santa Comba Dão, despede a D. Maria e contrata o chefe Vítor Sobral ou a Maria de Lourdes Modesto.

Foda-se, Botas! Da maneira que o país está, o melhor é reservar um lugarzito na Barca do Inferno com direito a lavagante e Moet et Chandon rosé.

Se possível rumo à tal ilha deserta em que George Clooney passeia com o cão e uma caixa de Martini. E que se lixem a miúda boazona, o iate de luxo e o chaval bonitão que tem a mania que engata as gajas.

O que é a Morte comparada com a Poesia?



Auto-publicidade Poético-erótica

quinta-feira, julho 12, 2007

PUTAS DAS GAIVOTAS!


Já me estou a passar dos cornos e daqui a bocado vai tudo aviado à caçadeira, à pedrada, à fisgada ou à bastonada de beisebol!

Um homem vai ao Porto ao lançamento da revista número 9 das "Águas Furtadas" e a um encontro do Clube Literário do Porto (em Julho de 2006) e leva com as gaivotas a aterrar e a levantar voo nos telhados adjacentes ao Grande Hotel do Porto. Parecia Heathrow! Havia sempre três gaivotas a aterrar e outras tantas a levantar. Num cagaçal do camandro, claro!

Toma lá kainever, de manhã um ganda pequeno almoço e aulas de hidro no Holmes do Bessa. Um gajo chegava lá, via o sorriso da Katja e ficava logo melhor.

Um homem volta ao Porto em Março de 2007, fica no Hotel Douro (ao pé do cemitério de Agramonte e da Praça da Boavista, para ficar perto do Holmes) e leva com as putas das gaivotas que andavam lá perto do cemitério. Cri! Cri! Cri! Cri, o caralho, suas putas de merda! Toma lá mais kainever para dormir.

Um homem vem a Lagos a 4 de Maio de 2007 (para uma leitura, seguida de sessão de autógrafos na Biblioteca Municipal de Lagos, completamente a abarrotar de leitores que ainda desconheciam o Dick Hard e ficaram muito favoravelmente impressionados), dorme na "Sol e sol" e leva com as putas das gaivotas a guinchar. Às vezes até parece que estão a ladrar.

Um homem vem a Lagos para descansar do voleibol de Portimão, para recuperar baterias e instala-se na alta de Lagos, no Hotel Montemar. E as putas das gaivotas no estrilho nocturno.

Aquilo são gaivotas inglesas, por certo. Reparem: tanto no Porto como em Lagos há ingleses em barda. As putas das gaivotas metem-se nas "pints" e nos "shots" e depois andam por aí a voar aos ésses, a guinhar "England! England! England!" e não deixam dormir ninguém. Gandas vacas!

Depois, um homem vai passear até à Meia-Praia, bate os areais todos, vê meia-dúzia de gaivotas paradas no areal e nem um cabrão de um guincho para amostra.

Foda-se que é demais!

As gajas bem me olhavam de lado... deviam saber a merda que fazem de noite, depois de sair da praia. Assim como assim, resolvi enrabar uma, só para não ser chito. Pois é, pois é, pagam as justas pelas pecadadoras. Não sei se aquela era das putas bêbedas barulhentas. Mas não resisti.

Resta desejar um grande abraço ao meu amigo escritor e jornalista Afonso Melo, que nas crónicas sobre as refeições a bordo dos aviões costumava referir que serviam gaivota.

Agora a sério: mesmo com o incómodo todo, não consigo ter rancores ao raio dos bichos que me andam a foder as noites. Eu a enrabar a gaivota é ficção. É montagem. As gaivotas a foderem-me todas as noites é perfeitamente real.


Auto-publicidade Poético-erótica

Contos do Dick Hard - IV

DICK HARD NA SIERRA NEVADA


--- Porra, vai-te mas é para o catano, meu!
--- Vai tu!
Pois é, Dick Hard não podia imaginar que aquelas férias na neve de Sierra Nevada iam colocar em risco a sua carreira existencial.
--- Vamos comer as gajas no barracão do guarda, vamos comer as gajas no barracão do guarda, vamos comer as gajas no barracão do guarda...estás satisfeito, agora?
--- Ó Rick, mas tu achas que eu fiz de propósito?
--- Isso não me interessa. És uma merda de homem, é o que tu és.

Talvez o leitor(a) não recuse uma pequena analepse, que é o mesmo que dizer flash-back, em termos cinematográficos.

( “Bem, para falar em analepse temos de encarar o ponto de vista linguístico ou literário e estas coisas muito dificilmente podem ser consideradas literárias ou do domínio da linguística”

Luís Graça )

As férias na neve de Dick Hard e do seu primo Rick Dart (argumentista de filmes porno amadores, de orçamento reduzido e excitação garantida, S.A) estavam planeadas há anos. Primeiro, Dick Hard andara muito entretido com uma investigação à mulher de um ornitologista, que punha os cornos ao marido com um pelicano. No ano seguinte tinha sido ferozmente espancado por um gangue de ladrões de alpista. A seguir, formou-se a firma “Cabeças no ar” e Rick Dart não podia seguir para férias na altura em que se estava a rodar o primeiro filme: “’Bora lá, Maria, é rápido”.
Finalmente, nesse ano é que foi. Puseram as mochilas dentro do Lotus Europa rosa-choque de Dick Hard (“é antigo e apertadinho mas vais ver o que é isto na estrada, ó palhação Rick”) e abalaram até Sierra Nevada.




Como não se estava na época alta, Dick e Rick conseguiram alojamentos em conta e sem grandes problemas. Chegados ao quarto, Rick (que estava numas férias de neve pela primeira vez) proclamou, embevecido pelo manto branco que parecia querer cobrir o universo e arredores:
--- Bem, man, isto aqui é mais branco do que eu a jogar na lotaria!
--- Grande descoberta, és o meu primo mais inteligente!
--- Sempre quero ver se isto tem tantas gajas como dizes. Para já, na recepção está um gajo.
Na recepção do centro de neve “ Uno Skizito con 2 pedras de hielo” trabalhava um mexicano refugiado político: Pablo Barracuda, homem de metro e 90 e maus modos, que acrescentava uns “cobres” ao ordenado tratando do barracão do guarda, que só trabalhava na época alta.
Em contrapartida, a empregada panamiana era um espanto de mulher, perene no seu corpo de jovem promessa sexual, tanto mais que ainda nem tinha direito a voto. Rick Dart conseguiu dar-lhe uns “linguados” meio à traição ao final do dia, mas não mais do que isso.
--- Assim não levas nada, Rick. Temos é de levar as gajas para o barracão do guarda. Tenho comigo a chave-mestra para investigações penetradoras. Se dá em todas as fechaduras portuguesas, também há-de dar no barracão.Como é que se chama a outra empregada?
--- Qual?
--- Aquela loura espanhola de mamas grandes, que tem um brinco em forma de caveira e usa maquilhagem escura?
--- A...a..Viviane!
--- Isso! Está feito. Tu já começaste com a panamiana, eu trato da Viviane. Convidamos as gajas para uma descida de esqui e depois subimos até ao barracão do guarda.
--- Olha lá, ainda são uns 3 quilómetros ou mais!
--- Pois claro que são. O barracão do guarda tem de estar no ponto mais alto das pistas, ó idiota às riscas! Queres ou não comer as gajas?
--- Quero.
--- Então tem de ser como eu digo. Aqui no hotel as gajas não podem, porque dá muita “bandeira”. Com a pouca frequência de turistas, elas podem ser topadas pelo mexicano. Olha, o instrutor de esqui esteve a contar-me que despediram uma sueca de Estocolmo que tinha a mania de fazer “boca-doces” às excursões dos colégios de Madrid.
--- Pois é, os tempos não estão para brincadeiras.





Os tempos não estavam para brincadeiras, mas Dick e Rick estavam. No final do terceiro dia de férias conseguiram levar Rosalia del Clitoris (tinha havido engano no registo, o nome correcto era Rosalia del Cantoris) e Viviane até ao barracão do guarda, depois de uma tarde bem passada, dividida entre algum ski e muito sku.
Os portugueses estranharam quando viram as duas empregadas boazonas todas de negro. Desde o fato de esqui até ao rímel, passando pelos esquis, luvas e gorros. Esquisito como o caraças. Parecia que tinham caído no filme “Os canhões de Navarone”. Bem, isso era o menos. Lá dentro do barracão, com a lareira acesa (porra, o barracão do guarda havia de ter lareira!) e as gajas nuas, as férias até iam saber a ginjas! Está bem que o esqui era giro; que até dava um certo estilo chegar a Lisboa e dizer que se tinha estado na neve, mas a cereja no topo do bolo eram as gajas. Até parecia mal chegar à mercearia do Jorge e não ter nada para contar. Dick Hard parecia estar a ver a cena:
--- Então, conta lá, sempre “agasalhaste o palhaço” lá em Espanha?
--- Não deu, Jorge, fica para a próxima. Mas foi porreiro. Fui com o meu primo, sabes, aquele que escreveu os argumentos de “Mete agora, meu amor, é mesmo a sério”, “Traseiros empinados II, o regresso do martelo-pilão” e “Fúria sexual delinquente”.
Era o que faltava! Férias de esqui sem gajas não eram férias de jeito. Certo que Rick e Dick podiam sempre fazer um pacto de silêncio e inventar umas fodas virtuais com muito escabeche e algum molho à espanhola, mas isso seria como beijar a mão à decadência, mal esta virasse a esquina do insucesso.
O barracão era bastante amplo. Quando lá chegaram a noite tinha caído, mas não se aleijara, porque a neve estava fofa. As miúdas tinham levado um cestinho com uns bocadillos de jamon serrano, umas garrafas de vinhaça, umas frutas, assim a modos que merenda nocturna. A coisa prometia. Dick queria acender a luz, mas as miúdas não deixaram. Disseram que à luz da vela era mais romântico.
--- Ustedes já cá estiveram, é isso?
Elas disseram que não, que era um tractor, negaram. Néribi, nestum, não sabiam, não queriam saber e tinham raiva a quem soubesse. Era uma “première” como deve ser, mas elas queriam luz de velas para o truca-truca com sabor a neve.





Depois, acenderam umas velas que estavam em cima de uma mesa. O barracão ficou tenuemente iluminado por sombras fantasmagóricas. Elas começaram a despir-se. Rick e Dick sentaram-se num banco corrido ao pé da lareira e apreciaram o panorama.
Viviane, toda nua, bombokas como bazookas, cabelos longos a escorrer de crinas pelas costas, foi à sua mochila e tirou um chicote. Bateu com ele no chão e dirigiu-se aos primos.
--- Vê lá mas é o que fazes com o caralho do chicote! Brincar é uma coisa, aleijar é outra! Não vim para Sierra Nevada para aparecer com vergões nas costas no health-club. Ai a porra! ---disse Dick, um bocado a sério, um bocado a brincar.
Mas não teve hipótese. Elas sacaram dos algo enregelados pilinhos dos meninos e começaram uma inspirada sessão de trabalhos manuais. Ora, um homem fica logo perdido, quanto mais dois!
Mal deram por eles, estavam amarrados. Sabe-se lá como. Eram cordas que davam a volta ao banco, passavam por cima da lareira, iam prender-se numas argolas na parede, era complicado dizer, estava escuro. O certo é que estavam presos e bem presos.
Nessa altura, a porta abriu-se e o rosto fechado de Pablo Barracuda deu à costa. Vinha mascarado de capuchinho vermelho e tinha uns sapatos de tacão-agulha, vermelhos, a condizer com a indumentária. Pablo abriu-se num sorriso e deu dois beijinhos a cada uma das miúdas.
--- Bueno, niñas.
E vá de lhes obsequiar um porradão de notas de euro, que as pesetas já eram. Rick e Dick não estavam a achar piada nenhuma à situação. Mais ainda quando repararam nos posters das paredes do barracão: tudo cenas de tortura, submissão, fotos de Hitler, os Kiss, Maradona a dar toques numa bola e Lady Sonia (“Hello, I’m Lady Sonia, the masturbatrix)”.
As miúdas foram-se embora e os dois primos, nessa altura bastante fodidos dos pirolitos, ouviram os esquis das perversas empregadas a cortar a neve daquelas paragens malditas.

(não está mau para piroso, pois não?)

A voz de Pablo Neruda ouviu-se: “Vou lá fora mijar e já venho. Vejam lá se descontraem, que dói menos e a carne fica mais tenrinha”.





--- És uma merda de homem, Dick, é o que és.
--- Calma, não te armes em mete-nojo. A situação resolve-se.
--- Ai sim? Então diz lá como.
--- Simples. Diênde.

terça-feira, julho 10, 2007

SORTIDO FINO, UNS BISCOITINHOS,UMAS GULODICES E A SONIA BABY A DAR BANDEIRA

Muito já se disse sobre o III SIEL (Salão Internacional Erótico de Lisboa). Muito mais ficou por dizer neste blogue.

Eu até já estou com a cabecinha em Portimão, onde vai decorrer o primeiro Salão Erótico da cidade, entre 24 e 26 de Agosto. Agosto inclusive. Não digo que estou com a cabecinha em Portimão no sentido físico. Para isso tinha de ser o Nando Rico (ver o post sobre o sardão dele) que tem um instrumento que vai de Lisboa ao Cabo Bojador, dá a volta na Rotunda ao pé dos correios e termina junto ao pódio onde a Vanessa Fernandes está a receber o prémio de mais uma vitória.

Porra que até já chateia. Não dá para ver triatlo feminino. Já se sabe quem vai ganhar antes mesmo da prova começar. O pai Venceslau ainda era um homem com um certo sentido de vergonha. Era candidato muitas vezes, mas não ganhava sempre, que é uma coisa que tira o interesse todo ao desporto. É muito importante que haja incerteza no resultado.

Tantos e tantos “carolas” que se andaram a esforçar por promover a modalidade em Portugal ao longo dos anos e agora vem uma miúda trinca-espinhas e estraga o trabalho de anos em meia-dúzia de provas. É uma vergonha. Por acaso o José Manuel Meirim ainda não escreveu sobre isto no PÚBLICO. Ou o Freitas Wolf, que é muito entendido em tárticas e extra-téjicas, ou seja, em tácticas que envolvem alimentação dos atletas à base de tartes; e processos de treino que não passam pelo prática de remo, canoagem ou vela no Rio Tejo.

(Dick Hard --- Vais meter as fotos das gajas ou não?
Luís Graça --- Estás com pressa, vai andando.
Dick Hard --- Já estiveste mais longe de levar.
Luís Graça --- Continua assim, apanho-te a dormir e serro-te os cornos.
Dick Hard --- Estás armado em Dalila do serrote?
Luís Graça --- Porquê? Estás convencido que és um Sansão que tem a força nos cornos?

Dick Hard --- Bem, metes as fotos das gajas ou não?

Luís Graça --- Que chato, pá. Meto, pronto! Posso fazer as legendas, ao menos?

Dick Hard --- Faz o que quiseres. Eu nem leio as legendas. Sou como o arquitecto A. Santos de Wall Street)

(Esta poucos percebem, mas é mesmo assim. Quem quiser tentar adivinhar pode postar um comentário, que eu não dou prémio absolutamente nenhum)

Tanta conversa para mais um espectáculo da Sonia Baby. Ó Sonia, porque é que dás tanta bandeira?


Vieste vestidinha de forma espectacular, dançaste, encantaste, chamaste ao palco dois voluntários, começaste a tirar bandeirinhas do sítio que a gente sabe, usaste os senhores como cabide dentário e foste dando novos mundos ao mundo, bandeirísticamente falando. Tens de ir à Casa das Bandeiras, na rua Barros Queiroz, ao pé do restaurante “A Berlenga”, onde se realizou o 22º aniversário da Tertúlia Banda Desenhada de Lisboa.

E olha que não fizeste a festa por menos de umas 60 bandeiras, de montes de países. Até havia lá a bandeira do Alentejo, da Cedofeita e da Lapa.

Já se sabe que há sempre invejosos que te querem ver falhar e meter água. Aqueles que te queriam ver falhar não tiveram sorte nenhuma. Quanto ao resto, eu estava na primeira fila a ver-te meter água. No sítio que a gente sabe. Garrafitas de 75. O que é isso para a gente?

Eu por acaso mergulhei a tempo e safei-me, quando disparaste à meia-volta, tipo Yazalde ou James Bond, com as bisnagas vira-bicos.


E como já te tinha visto o ano passado, brilhei a grande altura, contando o filme aos curiosos da primeira fila. Os homens viram que eu era mesmo bom. Quando lhes disse que este blogue tinha fotos do ano passado e deste ano e lhes comecei a distribuir flyers era vê-los de braço no ar. Por um momento senti-me como Aníbal Chaval City, o homem que nunca se encalha e raramente tem dívidas.



Como dizem quase todos os stand-up performers pelos palcos deste país:


Ó meu amigos, aquilo é que foi!








Auto-publicidade Poético-erótica

segunda-feira, julho 09, 2007

Contos do Dick Hard - III

DICK HARD NA LOJA DE ‘LINGERIE’

Dick não conseguia resistir a uma boa loja de “lingerie”. Ainda não tinha percebido se gostava de mulheres por causa da “lingerie” ou gostava de “lingerie” porque imaginava o recheio.
Tinha a cabeça cheia de DIM, Malizia la Perla, Lise Charmel, Triumph, o diabo a sete. Tudo o que era “lingerie” marchava. Preferia a “lingerie” negra e simpatizava sobremaneira com as meninas que respondiam aos inquéritos nas revistas masculinas: “No corpo --- lingerie negra”.
Um dos grandes momentos do seu dia era quando descia as escadas rolantes do Monumental e dava com a montra da loja de “lingerie”, que se despia dos seus segredos para ele.
Dick tinha adorado Silvia Saint de “lingerie” azul num dos seus primeiros filmes para a Private. Talvez fosse mesmo o primeiro. A Silvia na casa de banho, a ser encavada por...olha, quem era ele? Varreu-se.
Nessa noite, Dick andava a tentar comprar o jornal há que tempos e foi por acaso que deu com uma nova loja de “lingerie” no centro comercial. Os manequins estavam todos de “lingerie” vermelha, com aqueles fiozinhos dentais bem apetitosos. Uns soutiens pequeninos e meiguinhos. Até dava vontade de ser caruncho, para poder comer os manequins com algum proveito.
Entrou.
A menina que estava ao balcão era uma mulatinha de metro e sessenta, bem proporcionada, de lábios carnudos. Tinha um decote mais do que generoso e Dick imaginou que fosse obrigada a vestir uma “lingerie” que a loja tivesse.
--- Posso ajudá-lo?
Podia e de que maneira. Dick pensou, como um trovão: “Podes. Ajoelhou, tem de rezar. Isto como ‘entradas’, tipo cocktail de camarão. Depois, põe-te toda nua encostada ao balcão e vê lá se eu digo em bom português ‘água vai’. Para rematar, como sobremesa, pede à tua colega que me esgalhe ao pessegueiro como se fôssemos conquistar Olivença a 1 de Janeiro”.
A colega era uma loira estilosa, matulona, que devia saber sexo oral em várias línguas. Ficou a olhar para Dick com ar curioso e divertido. E Dick respondeu com a ultra-banalidade do quotidiano:
--- Obrigadíssimo. Estou só a ver.
E depois suspirou:
--- Infelizmente.

A loira matulona ouviu e não desperdiçou a “deixa”:
--- O senhor disse infelizmente...
E Dick, um bocado embaraçado:
--- Pois disse.
--- Infelizmente porquê?
Aí, Dick lançou os cavalos em longo tropel, devotado ao risco, como se estivesse em plena planície, num filme de John Ford:
--- Infelizmente porque não é possível vê-las a passar modelos para mim. Caso contrário, eu tinha motivos para comprar a loja toda.
O destino reserva-nos imensas surpresas. Não é que as miúdas fecharam a loja e levaram Dick para o apartamento que dividiam? Levaram é uma forma de dizer. Foi Dick que lhes deu boleia para o Cacém no Lotus Europa rosa-choque, a cair aos bocados. Mas o bocado que caiu para cima de Dick era muito bom. Concretamente, a perna e o seio esquerdos da mulatinha, que um Lotus Europa é assim a modos que a atirar para o rés-do-chão, um carro com apenas uma assoalhada. Três à frente é realmente tropa a mais.
No apartamento, se três podem ou não ser muitos, outra surpresa estava reservada a Dick. Uma amiga da mulatinha, uma ruiva de olhos verdes, que trabalhava numa perfumaria, estava sentada nas escadas do prédio:
--- Até que enfim, mulher, estava à tua espera há não sei quanto tempo...
--- Olha, Mimi, apresento-te o senhor Dick Hard. Detective particular, sócio do Belenenses e perito em “lingerie” --- disse a mulatinha, que se chamava Maria Armanda, mas não sabia cantar “Eu vi um sapo”, mesmo que fosse da ADSL.
--- Por favor, não me envergonhem. Eu estou muito longe de ser um perito, limito-me a gostar da modalidade...
--- Não seja modesto, por favor. Nós bem vimos como o senhor devorava com os olhos os manequins da montra. É preciso saber de “lingerie” para devorar uma montra como o senhor fez...
“Ou isso ou ser muito tarado sexual”, pensou Dick para com os seus colhões.
Maria Armanda meteu a chave à porta e ficou com o traseiro empinado virado para Dick, que meteu as mãos nos bolsos e iniciou uma partida não patrocinada de bilhar de bolso.
Ponto da situação: entraram os quatro no apartamento. Dick, Maria Armanda, a ruiva de olhos verdes e loira estilosa.
--- O Dick e a Mimi podem sentar-se aí a beber qualquer coisa, que eu e a Ana vamos preparar a “lingerie” para o desfile.



Desfile? Qual desfile? O desfile. Mas qual desfile? O desfile.
Enquanto a ruiva de olhos verdes (a Mimi) e o Dick estavam bem sentadinhos no sofá a beber umas cervejas, a Ana (a loira estilosa) e a Maria Armanda foram ao quarto preparar as coisas.
O pequeno Dick tinha acalmado, entretanto, por força de uma conversa banal com a Mimi. Mas alembrou-se de se alevantar de novo num arrepente quando a Maria Armanda entrou de “lingerie” branca, a contrastar com a sua tez de chocolate. E atrás vinha a Ana, de “lingerie” verde, a condizer com os olhos arregalados da Mimi, postados na primeira fila para a erecção-surpresa de Dick Hard, o detective mais obsceno a oeste de Paços.
--- Ó Mimi, se quiseres descontar aquela dívida que tens para mim, podes fazer uma atenção ao Dick...depois acertamos os pormenores...
E a Mimi, que parecia uma miúda suburbanamente decente, explorada oito horas por dia numa perfumaria e sem perpectivas de vida, transformou-se numa emérita sugadora com olhos de vórtice.
Enquanto Maria Armanda e Ana davam voltas e mais voltas numa valsa de “lingeries” sortidas, Mimi subia e descia, de cabeça, ao ritmo de 20 centímetros de homenagem, haste em riste, corações ao alto.
Passados dez minutos de alguma contenção orçamental do fluido seminal, Dick esvaiu-se num repucho tipo fonte luminosa e foi acertar na fotografia do pai de Maria Armanda, dos tempos da guerra colonial:
--- Ena pai, em cheio na farda... --- disse a Ana, que levou uma estalada da Maria Armanda.
--- Toma lá, que é para não gozares! --- afinfou-lhe a Maria Armanda, que adorava o pai, já falecido, apesar de ele a enrabar docemente todas as sextas-feiras à noite, enquanto era vivo, no regresso da churrascaria onde trabalhava.
A Ana ficou assim um bocado para o fodido com a atitude da Maria Armanda, mas -- sabe-se lá porquê --- foi “marrar” com a desgraçada da Mimi:
--- Estás a ver, Mimi? Se fosses uma miúda normal e tivesses engolido nada disto tinha acontecido!
--- Olha lá, Ana, eu não tenho culpa nenhuma que a Maria Armanda te tenha ido ao focinho. E quem te dera a ti fazer os homens vir de repucho. O único ‘bico’ decente que fizeste foi quando estavas bêbeda e já nem te lembras...
Dick Hard, de sarda a esmorecer no calor da discussão (mas ainda com ela de fora) quis arrefecer os ânimos e meteu-se no meio das miúdas, exactamente na altura em que Ana vinha de jarra das flores em punho:




--- Ai agora!
--- Não, os agapantos não! --- gritou Maria Armanda, que todos os dias de manhã ia colocar agapantos na campa do pai.
Foi mesmo com os agapantos em cheio na carola que Dick levou. E fez ligação directa com o outro lado do sonho, desmaiando em directo para a plateia de três chavalas que acabaram por ver a noite fodida sem foder um caralho.
No outro dia de manhã, Dick acordou com um saco de gelo derretido na cabeça e um recado de Maria Armanda:
“Desculpa, Dick, isto foi uma noite demasiado má para ser verdade. Espero que, ao menos, o broche te tenha sabido bem. A Mimi é boa rapariga, mas já estou pelos cabelos com a Ana. Ainda continuo com vontade de te foder. Liga-me”.
Todo fodido da cabeça já Dick estava.





Auto-publicidade Poético-erótica

sexta-feira, julho 06, 2007

Anseios vaginais

Ai Sonia Sonia Sonia
Ai ai ai ai ai ai ai
Ai Sonia linda Sonia
Ai linda Sonia linda
Se um dia escorregar
poderei também eu
entrar de rompante
como as tuas rosas
na caverna vaginal
do rés-do-chão?
Baby Sonia Baby
foste grande em Lisboa
a tua profundidade foi tal
que ainda hoje suspiro pelo vale
Ai Sonia Sonia Sonia
Ai ai ai ai ai ai ai
Ai Sonia linda Sonia
Ai linda Sonia linda
Frick Bang

quinta-feira, julho 05, 2007

PEEP SHOW, A MULHER DA MASCARILHA VENEZIANA


São 20 horas e 15 minutos de quarta-feira, 4 de Julho de 2007.
O homem introduz duas moedas de dois euros e duas moedas de um euro na ranhura da cabina número 2.

A mulher da mascarilha veneziana surpreende-se quando a placa de metal sobe. Esconde um papelinho branco rectangular no espaço entre a cama circular (coberta com peles presumivelmente falsas de zebra, ou leopardo, ou tigre) e as paredes das cabinas.

O homem fica curioso. O homem está animado e move-se ao ritmo da música que se ouve na sex-shop. O homem sorri à mulher da mascarilha veneziana. O homem presume que não há mais clientes a ver o show.

A mulher da mascarilha veneziana não sorri. A mulher da mascarilha veneziana tem uns lábios grossos e sensuais e usa “gloss” de tons rosa forte, o que lhe valoriza a boca voraz.

A mulher da mascarilha veneziana nunca esteve em Veneza. O homem que vê dançar a mulher da mascarilha veneziana podia apostar nisso.

A mulher da mascarilha veneziana cumpre o seu ritual friamente. A mulher da mascarilha veneziana não é a Mulher Fatal. A mulher da mascarilha veneziana tem uma tatuagem gigante nas costas mulatas.

O homem não consegue perceber a tatuagem da mulher da mascarilha veneziana. O homem gostava de perceber. Mas a mulher da nascarilha veneziana rodopia ao seu ritmo e o desenho é difícil de compreender.

A mulher da mascarilha veneziana retira a parte de cima do bikini.

A mulher que dança tem uns seios bonitos, médios, de mamilos arrebitados. A mulher que dança é triste. Por trás da mascarilha da mulher que dança está o olhar de uma alma que talvez não saiba dançar há muito tempo.



A mulher da mascarilha veneziana mergulha de repente e lança um braço por trás da cama redonda. Recolhe o papel branco rectangular. Encosta-o no vidro do outro lado da cabina 2. O homem que vê a mulher da mascarilha veneziana percebe que há outro homem a ver o show.

Acaba o tempo da outra cabina e desce a placa de metal. O homem que vê dançar a mulher de mascarilha veneziana ainda vê o outro cliente a voltar as costas e a preparar-se para sair.

A mulher da mascarilha veneziana vira-se rapidamente e vem, solícita, ao encontro do vidro do homem da cabina 2. Encosta o rectângulo de papel branco, com letras maiúsculas escritas à mão: PRIVADO.

Por momentos, o homem assusta-se, como se aquele PRIVADO estivesse a invadir um espaço. Como se estivesse a violar a intimidade da mulher da mascarilha veneziana. Mas rapidamente o homem da cabina 2 se apercebe que aquele PRIVADO é um convite para um show a sós com a mulher da mascarilha veneziana.

O homem da cabina 2 terá cerca de uns 80 créditos, dos cerca de 600 iniciais. O homem da cabina 2 viu dançar, até se acabarem os créditos, a mulher da mascarilha veneziana.

O homem que saiu da cabina 2 fez questão de dizer adeus à mulher da mascarilha veneziana, antes de sair. Para a mulher da mascarilha veneziana ficar a saber que ele não a considerava um pedaço de carne.

Mas o homem da cabina 2 também sabia que a mulher da mascarilha veneziana era um caça-níqueis e estava ali para ganhar dinheiro, sem querer saber muito do homem que a observava.

O homem saiu da cabina 2, agarrou no seu saco de plástico pendurado nas dobradiças da porta da cabina 2. O saco de plástico do homem da cabina 2 trazia lá dentro um exemplar do “Jornal de Letras”, um exemplar da revista “Première”, um exemplar da “Focus”. O homem da cabina 2 tinha ainda um saco preto de pendurar às costas, com mais coisas lá dentro.





O homem da cabina 2 dirigiu-se ao empregado da sex-shop e perguntou-lhe quanto custava um espectáculo privado com a mulher da mascarilha veneziana. O empregado disse que era preciso meter 3 euros na ranhura da cabina junto ao balcão, que tinha a porta aberta e as fotos das outras mulheres, com os números que as identificavam. E depois seria o homem da cabina 2 a combinar o preço com a mulher da mascarilha veneziana.

O homem da cabina 2 sorriu ao empregado da sex-shop, que era muito simpático. O empregado sorriu-lhe de volta. O homem da cabina 2 agradeceu, deu um aperto de mão ao empregado e saiu: “Até um dia destes”.

Apesar das horas (20 horas e 35 minutos) o dia 4 de Julho de 2007 estava límpido e havia muita luz naquela avenida larga de Lisboa.

O homem da cabina 2 sentia-se feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por estar vivo para apreciar aquele céu de Lisboa, tão namoradeiro, tão perfeito, tão sem dramas na vida. E triste por ter descoberto que a mulher da mascarilha veneziana tinha uma alma triste.

O homem da cabina 2 subiu a avenida a pé e descobriu dois caniches a brincar um com o outro, latindo irritantemente, perante o olhar embevecido do dono.
Poucos metros à frente, um rafeiro preto, idoso, veio ter com ele. Olhava silenciosamente para a varanda de um prédio onde estava outro cão. Por certo seu amigo e atrasado para um encontro.

O rafeiro preto veio ter com o homem da cabina 2, com um olhar tranquilo e experiente de quem já viu tudo na vida de uma vida de cão.

E o homem que viu dançar a mulher da mascarilha veneziana fez uma festa ao cão, como se o abraçasse e lhe desse umas palmadas nas costas, como fazem os amigos a sério uns aos outros.

O homem da cabina 2 avançou decididamente com a mão direita (o homem da cabina 2 já tinha uma cicatriz na mão direita, causada por um Boxer de nome Sir, quando o homem da cabina 2 tinha 12 anos) porque sabia que não corria perigo nenhum. O homem da cabina 2 costuma avançar com a mão esquerda, quando tem dúvidas. Porque o homem da cabina 2 escreve com a mão direita.

O rafeiro preto deixou-se afagar muito naturalmente, porque sabia de uma forma que os rafeiros pretos sabem muito bem quando vivem nos bairros degradados de Lisboa, que o homem da cabina 2, que viu dançar a mulher da mascarilha veneziana, apenas o ia cumprimentar.

E enquanto o homem da cabina 2 lhe fazia uma festa com os dedos indicador e médio da mão direita, o rafeiro preto continuava a olhar para a varanda do segundo andar do prédio onde estava o seu amigo, em silêncio.

E o homem da cabina 2 sorriu para o cão, disse-lhe adeus e só estranhou que o cão que acabara de conhecer o homem da cabina 2, que vira dançar a mulher da mascarilha veneziana, não lhe tivesse pedido um cigarro “Kentucky”, um “Definitivos”, um “Provisórios”. Ou o desafiasse para tomar um copo. Ou se pusesse a comentar as últimas notícias da corrida à presidência da Câmara de Lisboa. Ou se pusesse a discutir os últimos reforços do Benfica.

O homem da cabina 2, que viu dançar a mulher da mascarilha veneziana, gostava de acreditar que tinha uma alma boa.

Mas estas coisas nunca se sabem.

O homem da cabina 2, que viu dançar a mulher da mascarilha veneziana, sou eu.


Medeia Café, Monumental Saldanha, 4/7/2007, 22h44m








Auto-publicidade Poético-erótica

ENFIARAM O CARRUÇO À CICCIOLINA



O Rui Carruço é casado, tem um filho e esteve a jogar matraquilhos comigo no casamento do pintor Henrique Tigo, filho do mestre H. Mourato, artista multifacetado e consagrado recentemente com os 60 anos de idade e 40 de carreira. Dediquei-lhe um poema no “De boas erecções está o Inferno cheio”, escrito em 20 minutos, enquanto olhava para uma das suas belíssimas telas na Estrada de Benfica, numa das dependências do Museu República e Resistência.

O que têm em comum os três artistas? Simples: já declamei os meus poemas em inaugurações de exposições dos três. Da última vez o Tigo até filmou em vídeo. E insistiu em que eu só declamasse dos poemas ordinários, para não estragar a sessão. Enfim, muito já ouviram as paredes lá do Museu República e Resistência, pequeno edifício branco com sabor a greco-romano (pela fachada).

O Rui Carruço já o ano passado teve as suas pinturas expostas na zona dos artistas. Este ano, o corredor de acesso à zona das Mulheres estava recheado das suas colagens. E foi uma delas que o artista teve a amabilidade de oferecer à Cicciolina, que depois lhe meteu o microfone à frente e o instou a dizer breves palavras, sob o olhar de um porradão de malta.

O António Costa (meu companheiro do Ganda Ordinarice) e o Henrique Tigo (meu companheiro de ordinarices) andavam por lá de máquinas em punho e registaram o momento para a posteridade.



Só falta aconselhar os leitores a darem um pulinho electrónico a www.carruco.com. Vão ver que vale a pena. Já vos tinha aconselhado anteriormente, mas o Carruço ainda não tinha dado nenhuma obra à Cicciolina. Pode ser que agora me levem a sério. É que não custa mesmo nada activar o slide show e apreciar o talento, que não é pouco, deste artista que leva meia-dúzia de anos de pintura mas já reflecte uma voz imagética, um universo próprio e uma indiscutível segurança.

(Ó Carruço, tu é que sabes. Podes transferir a verba combinada para o meu NIB ou dar-me o cheque depois. Podes dar ao Tigo, que eu confio nele. Não dês ao Mestre Mourato, que ele vai logo gastar em tintas).





Auto-publicidade Poético-erótica

O COCAS CONVIDOU-ME PARA O FESTIVAL DO AMOR



















O Barriga mandou-me um mail a perguntar se podia pôr-me em contacto com o Cocas, que é o director do Festival do Amor, ou da Festa do Amor, ou do Bacanal do Amor, ou de uma coisa assim que decorre em Beja, de 28 a 30 de Setembro.

Depois, o Cocas telefonou-me e disse: "Olá, sou o Cocas. Sou amigo do Paulo Barriga".
E eu disse-lhe logo: "Então, como é que vai a Miss Piggy?".

Das duas uma: ou ele me mandava para o caralho ou ficávamos amigos instantâneos. Parece que foi a segunda opção. Mas um gajo que se chama Jorge Caetano e gosta de ser tratado por Cocas também não se pode chatear com coisas destas. Ainda por cima parece que já tem idade para votar e tudo.

Só falta dizer que o Paulo Barriga é um magnífico jornalista e escritor, que já viveu e trabalhou em Lisboa, regressou ao Alentejo e editou há cerca de um ano um magnífico livro (e é mesmo magnífico com M dos bem grandes) chamado "Os Sulitários". É mesmo assim.

É um livro de palavras e fotos que capta o Alentejo com uma aridez e uma filosofia dignas dos grandes autores. A sessão de apresentação de Lisboa foi na FNAC Chiado e foi uma coisa digna de ser vista. E foi lá que conheci o Barriga pessoalmente, depois de trocarmos uma série de mails, que começaram quando ele fez uma crítica ao meu "Neura 2004" (Oficina do Livro) e utilizou a expressão: "Este livro é um pau de rir".

Ora, depois disto um homem tem de ficar amigo de um gajo destes. Ainda para mais quando ele continua a insistir nos mails com frases como: "Que Deus te arrebente de saúde", "Um abraço azinho" e outras que tais. Azinho é azinheira. Estou à espera que ele me explique esta última.

E o Cocas ao telefone, para mim: "Pá, o ideal era tu declamares depois da meia-noite, depois das senhoras mais conservadoras irem para casa". É às horas que eles quiserem.
Mais Cocas: "E em que dias podes vir?". Fico lá os três dias, homem dum cabrão. "Eh! pá, isso é que era mesmo porreiro. Achas que o Unas pode vir?". Isso tens de falar com ele e pôr-te em campo.

Por isso, alentejanos amigos, já sabem: de 28 a 30 de Setembro estou em Beja, no Festival da Falta de Pudor. E vou ter banquinha montada com os meus ordinários livros. Não há fome que não dê em fartura: estive lá a 5 de Maio,
para o Salão de BD e para a Ovibeja (olá, Paulinha! — não é nenhuma ovelha que eu tenha comido, estejam descansados!), volto em Setembro para a Festa do Procriador.

Era giro que o Cocas telefonasse ao Animal, ao Cozinheiro Sueco e ao Grande Gonzo. E se o Waldorf e o Statler pudessem ir, era corte e costura garantido. Ainda por cima com aqueles queijinhos alentejanos, com aquele tintol. A 1 de Outubro devo estar bonito...





Auto-publicidade Poético-erótica

domingo, julho 01, 2007

Contos do Dick Hard - II

DICK HARD E A MENINA QUE SE MASTURBAVA COM O ACTION MAN DO PRIMO ZEQUINHA

Ritinha era proprietária de uma idade de 8 anos. Em bom estado de conservação sexual, apesar de já não ser virgem. Mas não fazia ideia disso. A membranazita emigrara com D. Sebastião numa manhã de nevoeiro.

Não se sabe bem porquê, nem doeu muito. A autora do infantil desfloramento chamava-se Barbie e tinha um relacionamento estranho com Ken. E foi Ken, de cabeça, aos 43 minutos, que a Ritinha enfiou na sua grutazinha rosada e suave.


Os anos foram passando e estava Ritinha a atravessar aquela ponte dos 13 para os 14 quando o seu primo Zequinha (11 anos) veio assentar arraiais no lar aprazível da menina. Os pais de Zequinha foram trabalhar para uma plataforma petrolífera na Nigéria e deixaram Zequinha no país de origem.


Zequinha ficou afectado e cortou abruptamente o seu relacionamento afectivo com Bibi. Mas certos hábitos tinham-se-lhe entranhado no ânus e o petiz supria as carências com investidas de Cindy em marcha-atrás.
Cindy, por seu turno, estava a atravessar um período muito confuso na sua vida. Falhara uma oportunidade de emprego única: Relações Públicas na firma “Gepeto S.A”. Talvez a nível subconsciente fosse atraída pelas mentiras de Pinóquio e sonhasse sentar-se em cima do seu nariz.


Mas Pinóquio também estava a atravessar um período difícil. Numa estúpida confusão de narizes com Cyrano de Frère-Jacques-Sonne-les-Matine-do-Benfica-e-do-Estrela-da-Amadora ficara ferido no supracílio esquerdo e nunca mais conseguira franzir o sobrolho à homem da Martini. Ele bem passava os dedos pelos beiços, mas não era a mesma coisa.





Bem, o conto já vai longo e Dick Hard ainda não fez a sua aparição, com características bem diferentes das aparições de Fátima. O atraso é, no entanto, facilmente explicável. O seu Lotus Europa rosa estava no mecânico, com um problema nas platinadas (Maria Linda Monroe e Gina Harlow).


E sendo assim as cousas, Dick tivera de pedir emprestada a BFT (Bicicleta-Fode-o-Terreno) do seu amigo Eleutério Amparo. Eleutério já tinha sido um ciclista famoso em Elvas, tendo mesmo ensinado a bater à punheta ao concorrente alentejano que deu “show” e sémen na ExpoFoda. Depois, uma arreliadora lesão (as lesões são sempre arreliadoras nos jornais desportivos: “Ai queres recuperar rápido? Não vais conseguir. E vou-te foder as férias nas Caraíbas, só para te arreliar”) atirou-o para um sanatório que tinha uma montanha mágica por trás.


O sanatório era um local estranho: assumia-se como um sítio onde se curavam tuberculoses; havia cerveja servida à depressão e um centro de dia dos Atónitos Anódinos.
--- Que Thomas, man? --- era a frase preferida de um sujeito que tinha a mania que era Napoleão mas inventara uma interessante variante masturbatória de “bilhar de bolso”: usava a mão entalada na braguilha aberta e um boné de beisebol com a pala virada para trás.

Mas adiante. Dick chegou de bicicleta a casa da Ritinha. Era amigo de longa data (trinta e um de Outubro de mil e novecentos e sessenta e dois, mais uns trocos) da família de Zequinha e prometeu dar apoio mural ao miúdo, quando o pequeno era cravado para caiar as paredes da casa rural da Ritinha.
--- Ó Zequinha, o menino não comprou a cal “Brandão”,como eu lhe disse.
--- Não havia.
--- Pronto, Zequinha, não pense mais nisso --- apaziguava a mãe de Ritinha.

(Mas a mãe da Ritinha ficava fodida, porque ela detestava a cal “Púrnia”. Isto da cal era como a mulher do Sérgio, não basta aparecer)




Mas adiante. Dick Hard chegou a casa da Ritinha, fez os cumprimentos da praxe e depois foi dar uma volta com o miúdo, obsequiando-o com um magnífico “Action-Man Metrossexual”, equipado com um fato da Cerrutti, peito depilado e cabelo louro à Herman José, mas em pelinho à escovinha, como o dos Action Man marines dos Anos 60 e 70.
--- Não havia o Action Man Escafodista?
--- Desculpa, Zequinha, o Action Man Escafodista arranjou um contrato de seis meses no Zoo Marine. Agora anda a foder a Lélia Póvoa de Santa Iria e tão cedo não volta.


--- Ó senhor Hard...
--- Ó Zequinha, quantas vezes já te disse para me tratares por Dick?
--- É muito difícil, senhor Hard.

(TRATAMENTOS LITERÁRIOS POSSÍVEIS COM OUTRA PONTUAÇÃO, MUDANDO COMPLETAMENTE O SENTIDO DA FASE AQUÁTICA DO ‘OMO SAPIENS’, O MELHOR PARA A SUA ROUPA APANELEIRADA:

--- É. Muito difícil. Senhor, arde.
--- É muito difícil. Senhor, arde.
--- É, muito difícil, senhor, arde
--- Hard como o caralho, mas aguenta-se )

--- Não é nada difícil.
--- Tá bem, prontos, ó Dick.
--- Sabes que na Holanda há imensos Dicks. O Dick Tracy, por exemplo, evita que os jogadores do Ajax emigrem todos de Amesterdão para os mares do sul.
--- Só conheço a Tracy Ulman.
--- Essa miúda canta umas coisas, mas é um diferente tipo de dique.
--- Não dá para trocar o “Action Man Metrossexual” por um “Action Man Manequim da Rua dos Fanqueiros”?
--- É muito difícil. Sabes que os “Action Man Manequim da Rua dos Fanqueiros” têm muita procura na época baixa pombalina.
--- Pois é. Isso recorda-me que tive um “Action Man Marquês dos Pombinhos”.
--- Exactamente, o padroeiro dos namorados, mais tarde substituído por São Valentim Calcanhoto Perlimpimpin.




E enquanto Dick Hard passeava com Zequinha, a noite caiu, mas não se aleijou, porque o presidente da Junta de Freguesia tinha mandado acolchoar o território e organizado acções de formação para malabaristas com dificuldade em concluir o mestrado em “Antropologia Erótico-Apologética do Mastoideu-Oeste, muda de linha no Entroncamento”.


Lá pelas 23 e 30 horas, com Zequinha já na cama, depois da sua dose religiosamente absorvida de reality shows e consolas station-wagon, Dick Hard montou na sua BFT e rumou a Lisboa com um pirilampo azul a girar em cima da cabeça, gamado a uma ambulância ambulatória, cuja equipa técnica tinha adormecido a seguir ao pesado repasto: dobrada como entrada, cozido à portuguesa e arroz de grilos com alegria acanelada.

Portanto, vamos fazer o ‘ponto’ da situação teatral do conto

(“Ser ou não ser, eis a questão”
O gajo ainda não decorou esta merda simples, como é que pretende ingressar no “Pepinos com Adoçante”?)

o ponto da situação: Dick Hard de regresso a Lisboa, Zequinha a dormir o sono dos sustos (a sonhar com filmes de terror com argumento de Estêvão Rei) e o “Action Man Metrossexual” absolutamente marginalizado e esquecido em cima da mesa da cozinha.

Ritinha entrou na cozinha aos saltinhos de “Música no Cu e muita ração”. Tinha visto Julita Andrews na pantalha gigante e ficara marcada para toda a vida.
Abriu o frigorífico, tirou um “Dan-Up-pela-Cona-Acima-Sabe-Tão-Bem-Alô-é-a-Vera?” e mirou o Action Man Metrossexual. Uma golada no Dan-Up, uma festinha nos cabelos do Action Man, a coisa foi-se complicando em termos de humidade nas regiões baixas, com possibilidade de conamolhosidade.









Ligou o rádio, despiu a camisa de noite, atirou um bocado de Dan-Up pela cabeça abaixo do Action Man e fez o que tinha a fazer, imitando sem saber com os seus gemidos os compassos iniciais da Sonata Super-Patética, o último grande êxito musical da “Diz-me Productions”.
Depois de ter atingido o seu orgasmo múltiplo mais conseguido da semana, olhou para o boneco e disse de si para si:
--- Olha, já que vim à cozinha, é só trocar uma letra e agora vai uma no cuzinho, que a noite vai alta e o Zequinha deixa os bonecos por todo o lado.
Ao pousar o boneco na mesa, inclinou-o de uma determinada maneira e o boneco imitiu um sorriso sonoro: “Dinis Maria, Dinis Maria, mandou plantar o pinhal de Leiria. Dinis Maria, Dinis Maria, mandou plantar o pinhal de Leiria”.

Foda-se, a indústria do brinquedo inventa cada uma, pensou a Ritinha. E deixou-se arrastar rapidamente para pensamentos sombrios na fase pór-orgásmica, do estilo:
“Já não tenho idade para brincar com bonecos. Está na hora de dar o grito do Maracanã e comprar um daqueles cor-de-rosa aí de uns 30 centímetros. Tenho lá culpa de ser menina com cona muito alimentícia?”

E foi-se deitar.


Pois é, por esta altura já estão a perguntar o que vai acontecer ao Dick Hard. Bem, não vou manter o suspensório. Até à saída da localidade, correu tudo muito bem, mas à passagem de uma curva perigosa, a BFT derrapou numa substância viscosa e Dick bateu com os cornos num pinheiro e emigrou para Desmaio City, ficando com o corpo meio na estrada, meio na mata.
Atrás de um pinheiro, um cicloterrorista de Elvas acabara de bater a sua terceira punheta do dia, atingindo pela terceira vez consecutiva a alcatroada estrada a precisar de remendos há muito tempo.

--- E isto não é nada. Foi tudo sem pastilhas. Havias de ver se eu tivesse Bradoral, Halls Mente-o-Litos, ou Vick!





Ao seu lado, ainda com as mãos a escorrer contentamentos de via láctea, uma carioca morena sorria com a satisfação do dever cumprido. O ciclista elvense ajeitou a sua cueca branca, montou na Honda Mini-Rail e arrancou a 40 à hora. Deu um estranho saltinho na estrada, ao passar por cima de um corpo estranho.

No outro dia, o senhor Hard acordou com uma penosa sensação de lhe terem passado por cima com uma Honda Mini-Rail, depois de ter batido com os cornos num pinheiro.

Luís Graça




Auto-publicidade Poético-erótica

O III SALÃO EM BALANÇO

O III SALÃO EM BALANÇO
(DICKATORIAL, o editorial de Dick Hard)


Cloe de Laure

Mesmo num blogue que faz reportagem de forma descontraída e bem humorada, há lugar para um balanço mais sério. Melhor, impõe-se mesmo um balanço mais sério, sempre na perspectiva de uma crítica construtiva e de oferecer ao visitante do Ganda Ordinarice, pelos nossos olhos, um panorama do que aconteceu no Pavilhão Quatro da FIL.

É aqui que o jornalista profissional tem de esquecer as relações de simpatia que vai desenvolvendo com as pessoas e reportar com a maior objectividade possível aquilo que pensa, por muito errado que esteja.

A primeira questão que se coloca é esta: o III SIEL foi um êxito ou um fracasso?
Logo aqui se nos apresenta o dilema dos vários prismas sob os quais esta questão se põe na mesa.






--- PÚBLICO. Pode-se dizer que os valores obtidos, em termos de visitantes, rondaram o que se pretendia. Terão ficado entre o sucesso claro do primeiro Salão e a quebra do ano passado. Por isso, os visitantes terão andado muito perto dos 35 mil. A previsão foi-nos confirmada pelo organizador Ferran ao princípio da tarde de Domingo.


Quer isto dizer que existe uma consolidação do Salão, em termos de futuro. Se o fluxo do público continua a existir, após três anos, independentemente de tudo o resto, o futuro estará, a priori, assegurado, embora se saiba que tudo depende dos contratos assinados.
Mas a proximidade de Barcelona e a sinergia com a “máquina” do FICEB (Salão de Barcelona) são dois factores que jogam a favor da continuidade do Salão.

E qual é a reacção do PÚBLICO perante o Salão?
Continua muito diversa, como acontece desde 2005.

--- Há quem se estreie como visitante e se deixe deslumbrar com o ‘glamour’ dos corpos nus dentro de um pavilhão de dimensões grandes. Há quem fique mais ou menos neutral. Há quem ache que o Salão não passa de uma versão pindérica de Barcelona.

--- Muito genericamente, os casais de namorados tendem a encarar o Salão como uma oportunidade de fruir de uma experiência diferente. A visita a um local ainda com a marca do “interdito”. Falamos de uma tendência, não de um facto comum a todos os casais de namorados, como é óbvio.

--- Os grupos de amigas encaram o Salão de forma libertina e libertadora. Escondem a hipocrisia da sociedade numa fruição do Salão que passa por muitas gargalhadas e brincadeiras, como forma de esconder o complexo de culpa por quebrar o tabu. Os portugueses ainda têm medo do sexo e continuam a não saber encará-lo de forma natural.

As senhoras, vítimas de uma sociedade que as aponta a dedo, precisam de se sentir protegidas para se libertarem de anos e anos de um reverente receio do prazer, “constitucionalmente consagrado” aos homens.
Prova disso foi a necessidade de envolver com “arame farpado” as simples aulas de “pole dance” (varão) do Círculo de Dança de Lisboa. E as sessões de “Tuppersex”. Coisas mais do que naturais, mas que as senhoras ainda sentem como “perigosas”, com um custo potencial que lhes podem fazer pagar. A presença de homens (visitantes ou Comunicação Social) seria inibidora e foi terminantemente proibida.

Claro que a minha afirmação diz respeito a gerações mais velhas. Os jovens adolescentes de hoje e aqueles que estão na casa dos 20 encaram já todas estas coisas de forma mais natural. Ainda assim, a subida ao palco para uma simples brincadeira com um stripper ainda é motivo de muita reflexão.


--- STANDS. A crise reflecte-se no número de stands presente. Nem todos estão dispostos a apostar no risco, devido aos custos elevados que os stands comportam. Se alguns estão no Salão porque “noblesse oblige” (como acontece com as editoras na Feira do Livro), limitando-se a encarar quebras de negócio como naturais “baixas de combate”, outros equacionam cada vez mais a continuação na área dos expositores.




Quanto maior é a “máquina” que o stand tem (e a sua relação com cadeias de sex-shop já existentes, a ligação a produtoras ou distribuidoras, a sinergia com os grupos internacionais), menores são as dificuldades. Quanto mais pequeno é o stand, mais dificuldade tem em “fazer-se ouvir”. No meio disto tudo, há sempre “nichos” que sobrevivem muito bem e outros que nem compreendem porque ninguém lhes liga nenhuma num espaço privilegiado.


--- ESPECTÁCULOS. Dependem muito dos artistas presentes. E do seu carisma. Os corpos podem ser mais bonitos ou mais feios, mais ou menos voluptuosos, mas o carisma do artista é “quem mais ordena”.


Sonia Baby (Palco IFG) é um exemplo do mais alto profissionalismo e do que deve ser um animal de palco. O sorriso sai-lhe natural. Sente-se o prazer de quem gosta de actuar para uma audiência. E o seu trabalho é dos mais difíceis.

Sonia Baby a dar à luz. O Professor Pardal emprestou o Lampadinha à Sonia Baby e ele foi viajar até ao interior

É preciso muito arrojo e muito treino para se ser “acrobata vaginal”. Embora Sonia já tenha alargado o seu âmbito de actuação ao cinema porno, é nas artes de acrobacia vaginal que marca a diferença, tal como os “Penis Pupeteers”, australianos que passaram pelos palcos de Lisboa.
(Os senhores inventavam mil e uma coisas só com a manipulação do pénis e dos testículos).







Quando uma borboleta rosa se põe a voar no palco, qual abelhinha à procura do pólen dos afectos, é como se o Príncipe do conto de fadas quisesse casar com a borboletinha. Explodem confetti por cima da cabeça e a borboletinha tem muitos filhinhos, que são flores coloridas. E foderam felizes para sempre. Diz-me, espelho meu, há alguém no Salão que tire mais coisas da pachacha do que eu?

O profissionalismo de Sonia passa pela boa disposição constante, pela ausência de sobranceria no tratamento com os seus pares, os jornalistas ou o público. E um respeito altamente louvável pelo cumprimento dos horários. Nos oito espectáculos de Sonia Baby, nenhum ultrapassou os cinco minutos de diferença em relação ao horário previsto (quinta, sexta e sábado, pelas 17 e 22 horas, no domingo pelas 17 e 21 e 20 horas).


Dúnia Montenegro é outro exemplo de como se deve estar num palco. Mesmo assim, há quem seja de um nível de exigência enorme. Uma stripper brasileira que apenas visitou o Salão e não participou considerou todas as participantes do palco IFG do III SIEL como “feias”. Não considerou nenhuma com nota positiva.






--- PROGRAMA E HORÁRIOS. O caos total. De ano para ano as coisas têm vindo a piorar, revelando-se profundamente desmotivadoras a quem aposta na militância (quase) totalmente pura e dura ao serviço do SIEL. Digo ‘quase’ porque neste III SIEL assumi desde o princípio o objectivo egoísta de divulgar os meus livros, porque o jornalismo como freelance se está a revelar um deserto extremamente penoso de atravessar.

Mas é mais do que óbvio de que ano após ano gasto dinheiro como jornalista, gasto como visitante, gasto como amigo.

Paguei a um fotógrafo profissional para cobrir comigo o Salão (e da sua parte também houve um esforço de conciliação com outros trabalhos que tinha agendados) e o nosso labor foi tremendamente dificultado pela ausência pura e simples de um programa com horários das actividades.
Isto é pura e simplesmente inconcebível numa máquina com a dimensão do SIEL.
Se nos anos anteriores os horários eram desrespeitados (nalguns casos por horas), este ano nem sequer havia horários. Os níveis de motivação para quem anda a trabalhar descem para muito próximo do zero.


E só com muito espírito de sacrifício se fica de plantão em várias zonas, na expectativa de que aconteça qualquer coisa. Principalmente depois de uma noite em claro a escrever uma reportagem o mais desenvolvida possível.Apenas pela paixão da escrita e nunca por vaidade de escritor ou necessidade de afirmação. Não é agradável enchermo-nos de cafeína para atingir o “up” e escrever horas a fio e depois tomar “bombas” para dormir e atingir o “down”, para no dia seguinte sermos completamente bombardeados com um ruído verdadeiramente perturbador durante perto de oito ou nove horas de permanência no pavilhão.

Por exemplo, este ano fiz várias tentativas de entrar no show lésbico da Exotic-Angels e fui desistindo, porque não tinha a certeza dos horários e para estar de prevenção num sítio não podia estar noutro.

Assiste-se ao ridículo de vários diários de impacto nacional estarem a divulgar informação contida nos Press-Releases de coisas que pura e simplesmente não existem no Salão, apesar de terem sido divulgadas. Todos os anos isto acontece, mas nesta edição atingiu-se um nível de bradar aos céus.


O restaurante erótico não existiu, a longa-metragem do Estúdio X era um mito (louve-se a disponibilidade de Max Cortes, ensinando como na prevenção rodoviária o abecedário de uma rodagem porno, tendo Monica Vera como exemplo). Eu consegui entrar no Estúdio X no último dia, o meu fotógrafo foi impedido de entrar pelo segurança (que foi correctíssimo, mas não sabia do que se estava a passar).

Resumindo: dentro do estúdio, Max Cortes autorizava a Comunicação Social a tirar fotos. A dez metros, do lado de fora, os seguranças impediam a entrada a profissionais devidamente credenciados e identificados. E mesmo a saída era difícil. Eu e uma menina do gabinete de Imprensa quase tivemos de implorar para poder sair do Estúdio X, quando a sessão estava praticamente acabada.

Tal como no ano passado, ressalve-se o trabalho da assessoria de Imprensa. Se, nos dois primeiros anos, a Deep Step primou pela simpatia e vontade de ajudar, neste ano o mesmo se passou com a Speed Com. Muito principalmente no que toca à flexibilidade de espírito na credenciação de jornalistas. O Ganda Ordinarice, órgão electrónico amador, que funciona com alguns profissionais e muitos amigos, só tem a agradecer as atenções de que foi alvo por parte da Speed Com, em que todos, sem excepção, foram de uma enorme simpatia, sendo os primeiros a sentirem-se frustrados por não poder ajudar mais.

Se o número de credenciados pelo Ganda Ordinarice não fosse alargado, a nossa cobertura teria sido impossível. Porque a colaboração de todos aqueles que se inscreveram como colunistas tem sido imprescindível para que as postagens sobre o Salão continuem a aparecer, dadas as limitações no que toca à tecnologia de que sofrem as principais “pedras” deste blogue.

Houve azares a vários níveis. Desde logo doenças. Que vão desde as crises de diabetes à laringite, passando por ocupações de última hora e problemas pessoais. Passando pelo facto de eu ficar sem máquina fotográfica no penúltimo dia do salão (partiu-se o motor que enrola os rolos da minha Olympus analógica, com 15 anos de bons serviços à nação). Valeu a dobra do António Costa, que foi fotografando o Salão desde a apresentação realizada no Cinema Paraíso, um ponto que Pierre Woodman classificou como muito negativo.


CICCIOLINA. Se o factor Cicciolina foi, sem dúvida, um bom motivo para chamar a atenção do público e da Comunicação Social, apresentou também o carácter perverso de “secar” tudo o que se passou à sua volta, como um eucalipto.
Houve muitas e belíssimas entrevistas com Cicciolina, mas mesmo assim andou-se dez dias a oscilar na idade de Cicciolina (entre 55 e 56). E muito do que se escreveu foi repetido.

Muitos órgãos de Comunicação Social “deram” o Salão numa espécie de “dois-em-um”: reportagem de fundo com a Cicciolina e depois uma série de breves, baseadas em Press-Realeases. Continuou a haver falta de cuidado na legandagem das fotos. A enorme maioria dos participantes aparece anónima. Como se interessasse apenas mostrar que o Salão Erótico é composto de nus desprovidos de um nome, uma personalidade, uma história.


QUANTIDADE DE PRODUTOS. Conhecido articulista do jornalismo português telefonou-me a pedir conselhos sobre um ângulo de escrita do SIEL. O ano passado andou por lá como visitante e considerou o Salão “uma xaropada, não passa de uma sex-shop gigante”.
Pois bem, a sex-shop gigante teve este ano muitos produtos, mas a variedade foi diminuindo. Conforme os contratos assinados pelas sex-shops, assim o que se podia comprar. Claro que muito havia a comprar, mas com a diminuição do número de stands diminuiu também a escolha. Saldos não faltavam, mas nem só de saldos vive o homem.
Por exemplo, os DVD da Private (excelente qualidade) a 5 euros são um maná. Mas quantas novidades foram apresentadas? Pouquíssimas.
Acabado o Salão, um DVD lá comprado por 5 euros aparece numa sex-shop a 25 e na Worten do Colombo a 15.


Roberto Chivas terminava sempre os espectáculos do palco IFG a mandar as pessoas comprar os filmes das estrelas, mas era difícil descobrir esses filmes no meio de escaparates que eram “abastecidos” sem uma ordem específica. Valia a boa vontade no atendimento. Dirigindo-nos a um funcionário, o DVD pretendido lá aparecia.

Noutros casos, era uma pena que não houvesse os DVD. Pierre Woodman e as suas meninas conquistaram corações, mas aos apelativos cartazes não correspondia ainda a edição do DVD em Portugal. Existe ainda uma enorme “décalage” entre Portugal e França, por exemplo.
Mas também é verdade que um amigo me trouxe um DVD da trilogia de “O gladiador” de Amesterdão (há um par de anos) e o DVD chegou mais caro do que se tivesse sido comprado em Portugal.
Já uma encomenda via Net (através de um amigo) da super-produção “Château” chegou numa embalagem muito cuidada, com uma série de miminhos, entre os quais um belo cordão que me serviu para colocar a credencial ao peito, que foi muito cobiçado por toda a gente.


ALDEIA DOS MACACOS. É impressionante como, ano após ano, tipo Volta a Potugal em bicicleta, as pessoas se continuam a acotovelar por um T-shirt ou um boné lançado no espaço, para o meio da multidão.

A malta a fotografar o show lésbico no palco da Melanie Moore. Mesmo em cima do acontecimento. Pagava-se 3 e 4 euros, conforme os dias.

Este ano a Anastasia Mayo e o Roberto Chivas inovaram, no domingo: chegaram a mandar dois vibradores prateados embrulhados num T-shirt preto. A meio da viagem (Hello, Houston!), o vibrador desceu da sua órbitra e o T-shirt caiu em planeta diferente.




OMISSÕES. Coisas que acabei por não reportar, por manifesta falta de tempo, resistência psicológica, desorientação, impedimentos logísticos próprios do Salão e dificuldade de coordenar a equipa do Ganda Ordinarice: os shows lésbicos da Exotic Angels, uma maior atenção às table dance da Passerelle (falo de reportagem, não de fotos), o palco dos strippers sempre muito bem capitaneados pelo Marco, as aulas de varão, o Tuppersex, as opiniões dos portugueses sobre o ciclo de cinema porno português (que tinha sempre uma média de 15/20 pessoas a assistir).


Podem crer que dei o meu melhor e empenhei também os meus amigos. Culpado sou. Fico-lhes devedor.
E o III SIEL vai continuar no Ganda Ordinarice ainda por vários dias. Mas já era tempo de vos proporcionar um balanço.





DICK HARD. A partir de agora, os leitores vão tomar conhecimento com o detective Dick Hard, figura criada para o blogue A Funda São, em que cobri o primeiro SIEL. São 14 contos de um detective estilo Mike Hammer que é um verdadeiro desgraçado. Um exercício de estilo puro, escrito para um blogue, com piscadelas de olho a visitantes habituais desse blogue. Os contos têm dois anos. Chegam agora ao Ganda Ordinarice e espero que vos aqueçam a alma. É muito mais humor que sexo. Uma brincadeira sem pretensões.




Auto-publicidade Poético-erótica